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Afrobeat brasileiro: uma extensão original do ritmo

Há alguns anos, o afrobeat está em alta no Brasil. Por aqui, descobriu-se a fórmula de sua criação. Jovens músicos antes entocados em suas escolas e estúdios saem para receber a luz da mãe África, com a intenção de redesenhar o suingue composto de funk, soul e muito batuque. Agora, esse suingue, vez ou outra, traz um pandeiro aqui, um tamborim ali, uma cuíca acolá, freestyle e até alguns repentes para trazer o ritmo da libertação; dessa vez, em língua portuguesa.

O afrobeat é um gênero composto da música iorubá, jazz e funk (aquele que James Brown eternizara nas décadas de 60 e 70), com forte predominância de percussão africana, ora com vocais, ora com metais, e tornou-se popular na África na década de 1970. Um dos criadores mais populares do afrobeat é o multi-instrumentista e bandleader do grupo Afrika70, Fela Kuti, que cunhou o termo afrobeat.

Neste mês de setembro, o projeto Plataforma do Sesc Pompeia – que visa o lançamento de novas obras musicais – recebe alguns dos principais representantes do gênero no Brasil: Abayomy Afrobeat Orquestra e o grupo Aláfia, além do produtor e músico, Pipo Pegoraro, que trabalhou com outro grupo importante explorador do gênero, o Bixiga 70.

 

Abayomy Afrobeat Orquestra

A maratona começa dia 6 de setembro, quando a Abayomy Afrobeat Orquestra se apresenta na Choperia da unidade, com repertório autoral inspirado nos cantos de candomblé e umbanda. Nesse show, o grupo traz novas composições que farão parte de seu segundo disco, Abra sua Cabeça. As músicas, em português e iorubá - uma miscigenação entre a linguagem brasileira e africana - buscam uma conexão direta com as raízes da cultura brasileira.

Este novo projeto conta com a produção e participação de Pupillo, baterista da banda pernambucana Nação Zumbi, e gravação e mixagem de Bruno Giorgi, guitarrista, produtor musical e filho de Lenine. O disco foi gravado durante os meses de junho, julho e agosto de 2014, no Estúdio Massa, casa do tecladista da banda Maurício Calmon, reduto de diversos músicos e artistas, estúdio especialmente montado para as composições e arranjos do novo álbum.

O trabalho tem também as participações de Otto e Tony Allen, além de composições de Zé Vito, Gustavo Benjão, Fabio Lima e outras elaboradas coletivamente entre todos os músicos da Orquestra. Sem perder o afrobeat e as influências africanas, Abayomy investe no rock, com guitarras de efeitos mais pesados.

 

Pipo Pegoraro

O músico, cantor e compositor paulistano Pipo Pegoraro lança neste mês seu terceiro disco solo – Mergulhar Mergulhei – pelo selo YB Music, com direção artística de Romulo Fróes. O show de lançamento do dia 18 de setembro, também na Choperia da unidade, terá participações de Romulo Fróes, Xenia França, Filipe Catto e o percussionista erudito vibrafonista Beto Montag.

Mergulhar Mergulhei traz 10 novas composições, sendo duas faixas parcerias com Romulo, uma com Pablo Casella, antigo parceiro de Pipo, e uma com o poeta arrudA. Xênia França (da banda Aláfia, da qual Pipo também faz parte), Luz Marina, Filipe Catto e Romulo dividem o canto em diversas faixas.

Gravado ao vivo, a banda do estúdio é a mesma que acompanha Pipo em seus shows: Décio 7 (bateria), Gustavo Cék (percussão), Marcelo Dworecki (baixo), Cuca Ferreira (saxofone e flauta), Fernando TRZ (piano) e Lucas Cirillo (gaita).

O nome do disco parte de um fragmento da letra da última faixa, O Que Só Cabe Em Nós, e trata-se de um estágio mais denso e profundo da carreira do músico, cheio de pausas e explosões. Os flertes com o jazz estão evidentes. O álbum é repleto de momentos de improvisação captados em tomadas únicas nas sessões de gravação e que não sofreram cortes nem edição posterior. O quarteto de cordas Alma Negra foi gravado sobre a regência e arranjos de Marcelo Cabral (baixista das bandas Passo Torto, Metá Metá e o rapper Criolo), que também tocou contrabaixo acústico na faixa Indecifrável.

Mais sobre Pipo

A carreira musical de Pipo, paulistano de 35 anos, é de longa data, mas pode-se dar o marco oficial em 2005, quando fazia parte do grupo Q´Saliva que com este fez sua primeira turnê pela Europa divulgando o disco Dela. Pela Europa, chegaram a tocar no antológico festival de Amsterdã Paradiso e no Supernatural, em Utrecht, também na Holanda.

Em 2008 lançou seu primeiro disco solo, Intro. O segundo, Táxi Imã, veio em 2011, pela gravadora YB Music e com produção em parceria com o compositor e cantor Bruno Morais. O disco foi sucesso de crítica e destaque em diversas listas da imprensa, como Os 10 Melhores Discos de 2011 da MTV e UOL, além de concorrer ao melhor álbum de MPB do Prêmio Dynamite. A música Radinho, desse disco, é a abertura do programa Cultura Livre, da Rádio e TV Cultura.

Desde 2012 também faz parte da banda Aláfia, com quem tocou em diversos espaços da cena paulistana, além do Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro. Durante esses anos ainda produziu diversos trabalhos, como canções para Anelis e Serena Assumpção (que a cantaram no álbum Mulheres de Péricles, de Péricles Cavalcanti) e para Filipe Catto, por exemplo.

Aláfia

No dia 25 de setembro, é a vez de um grupo paulistano subir à Choperia. O coletivo formado por onze músicos é influenciado pelos batuques de umbigada, ensaios de escola de samba, jongos e bailes black. Batidas macias, grooves efusivos, spokenwords e arranjos elaborados, tomando sempre como ponto de partida a música negra, revisitando a antiga relação África-Brasil e usando como contraponto a música estadunidense (soul, funk, rhythm’n blues), tudo isso forma a base do resultado sonoro.

Este show marca o lançamento do vinil e conta com as participações de Lurdez da Luz, Rafão Alafin, Akins Kinté, Lewis Barbosa, Quarteto de Cordas Alma Negra e Ayo Shani. Nasce daí uma música que explora os cultos ancestrais de tradição oral e os conhecimentos míticos.

Para esta apresentação, Aláfia é constituída por Eduardo Brechó (voz, violão e direção musical), Lucas Cirillo (gaita), Alysson Bruno (percussão), Pipo Pegoraro (guitarra), Gabriel Catanzaro (baixo), Gil Duarte (trombone), Filipe Vedolin (bateria), Fernando TRZ (teclados), Victor Eduardo (percussão), Roberta Estrela D’alva (direção artística), Jairo Pereira e Xênia França (voz).

Se a música brasileira construiu o seu próprio soul (que contou com nomes de projeção à época, como Tim Maia, Toni Tornado, Wilson Simonal, Cassiano e Hyldon, dentre outros), baseado na música americana que estava em evidência nos finais da década de 1960 até a metade da de 1970, pode-se afirmar que atualmente vivemos uma reconstrução fina daquilo que a mãe África nos deixou de herança. É uma redundância da música africana, provando que a força do ritmo deste continente eleva o conceito de música popular, principalmente no eixo América-África.

O Sesc Pompeia será palco de apresentações que provam um momento peculiar na música brasileira. Mesmo outros ritmos sendo midiaticamente mais explorados e com uma adesão mais popular, a música rica em técnica e improviso, igualmente de origem de massa, apesar de sua complexidade, ganha cada vez mais admiração entre músicos e estudiosos, fazendo com que o gênero não agonize e tampouco morra engolido por gêneros comercialmente mais vendáveis. É dança e cultura oferecidas ao público que deseja estar mais próximo de suas origens popularmente rítmicas.

O que? Abayomy Afrobeat Orquestra
Quando      dia 6 de setembro de 2014
Onde? Choperia - Sesc Pompeia
O que? Pipo
Quando      dia 25 de setembro de 2014
Onde? Choperia - Sesc Pompeia
O que? Aláfia
Quando      dia 25 de setembro de 2014
Onde? Choperia - Sesc Pompeia