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Internet: direito, economia, mapeamento e artes
Veja como foi segundo e último dia do Encontro Internacional Cultura e Tecnologias Digitais, no Sesc Vila Mariana
Carlos Affonso Pereira de Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS), abriu as conferências de hoje, 24/set, abordando o Marco Civil da Internet e os impactos na produção cultural, como a defesa da liberdade de expressão na rede e o anonimato.
“A internet proporciona e impulsiona liberdade, mas também controla o que é dito, o que é visto e o que é consumido”, definiu Carlos ao abordar o uso das redes sociais, lembrando que o feed de notícias é um espelho do seu gosto, de seus interesses. Comentou também sobre a “internet das coisas” e as preocupações que ela pode gerar quando os sistemas operacionais dos aparelhos começarem a dominar nossas rotinas.
Já a italiana Primavera De Filippi, que é perita legal para o Creative Commons na França, trouxe ao debate as vantagens do uso do mesmo e a regulação da propriedade cultural. A produção criativa está atualmente regulamentada de acordo com a lei de direitos autorais (copyright). Com as tecnologias digitais e o desenvolvimento de plataformas de produção colaborativa, o uso do Creative Commons facilita a utilização pelos internautas e ajuda a divulgar as obras de seus criadores, segundo a licença escolhida pelo autor.
Prós e Contras de Uma Economia Compartilhada
Os economistas Ladislau Dowbor e Gilson Schwartz no segundo debate.
O economista Ladislau Dowbor afirmou que as novas tecnologias modificaram significativamente as relações entre produtores, distribuidores e consumidores. “O problema não são as pessoas lerem de graça na internet, é não ler”, ressaltou Ladislau ao lembrar que um de seus livros, mesmo estando disponível na internet, já está na 6ª edição impressa. “A lógica é deslocar o ponto de remuneração”, reforçou. Sugeriu que para otimizar os recursos escassos, deve-se mudar a visão de competição para a visão colaborativa.
Fechando a parte da manhã, o também economista Gilson Schwartz acredita na precarização das condições de trabalho por causa da internet. “Liberar o acesso à informação e espalhar a internet não vai superar as desigualdades sociais. O que o mercado prometia, agora é a rede que promete”, critica. Apresentou sua proposta de Iconomia, como uma economia de ícones, de representações, que diverge da economia convencional, dos Creative Commons e dos projetos colaborativos.
Públicos e Mapeamentos Culturais
Cissi Montilla e José Murilo Costa na terceira mesa.
Cissi Montilla, secretária executiva das Políticas Públicas Culturais do Conselho Nacional para Cultura e Artes do México, explicou como os estudos de públicos culturais do México se intensificaram com ajuda das tecnologias digitais. Hoje em dia, qualquer pessoa com um celular na mão pode mandar informações sobre um determinado espaço no país, alimentando um mapeamento colaborativo que tem seus dados confirmados também em rede. As câmeras de segurança dos museus também têm sido usadas para obter informações como: quanto tempo uma pessoa fica em frente a um quadro, que tipo de pintura lhe agrada mais e que reação ela teve.
E quais são as iniciativas nacionais de uso das tecnologias digitais para conhecer melhor os públicos da cultura? José Murilo Costa, coordenador-geral de Cultura Digital do Ministério da Cultura, falou sobre o SNIIC - Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais, plataforma que pretende reunir de forma transparente as informações estratégicas da gestão da cultura, contribuindo para o compartilhamento das ações culturais do município. Ele apresentou ainda a proposta de construir um “ID da Cultura”, com mapeamentos culturais colaborativos em cada estado – como o SP Cultura, em São Paulo, e o Login Cidadão, em Florianópolis – que sejam produzidos e organizados em âmbito nacional.
Arte e Tecnologia
Silvio Meira na conferência de encerramento.
O encerramento do seminário foi conduzido por Silvio Meira, professor da Universidade Federal de Pernambuco, que mostrou como a criação artística tem sido apropriada pelas tecnologias digitais, que vão desde os softwares que compõem músicas sem o uso de partituras, a robôs que aprendem a pintar quadros com o estilo do pintor e a paleta de cores que escolhermos. “O que nós estamos fazendo para entender e aprender essa mágica? Pouca coisa. Quem domina o mundo hoje são os programadores e nós deveríamos pelo menos entender como estamos sendo manipulados. Por isso que eu digo: aprendam a programar e incentivem suas crianças, principalmente, as mulheres. Em diversos países as aulas de programação já são obrigatórias no Ensino Fundamental, mas no Brasil, nada ainda”, finaliza.
:: Saiba como foi o primeiro dia do encontro.
(Fotos: Julia Parpulov/Sesc)