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Cultura digital: mediação e linguagens artísticas

André Lemos, à direita, falou sobre a cultura como rede e as redes da tecnologia digital.
André Lemos, à direita, falou sobre a cultura como rede e as redes da tecnologia digital.

Saiba o que rolou no primeiro dia do Encontro Internacional Cultura e Tecnologias Digitais, no Sesc Vila Mariana

“Cultura é rede e redes formam cultura”. Foi com essas palavras que André Lemos, mestre em Política de Ciência e Tecnologia e doutor em Sociologia, conduziu a conferência de abertura do Encontro Internacional Cultura e Tecnologias Digitais, nesta terça (23). Para ele, é preciso abandonar a perspectiva da rede enquanto causa, mas pensá-la enquanto resultado desse movimento de associação.

André Lemos explica que hoje em dia vivemos não só uma crise econômica e de representação política, mas uma crise nos modelos de comunicação conflitantes: mídias massivas versus “mídia pós-massivas” possibilitadas pelas redes, culminando em uma tensão que tenta superar uma cultura de massa homogeneizante controlada por grandes corporações.

“A cultura digital não fornece apenas instrumentos para movimento políticos, ela expressa nova maneira de ser e de interpretar o mundo. Movimentos horizontais emergem a cada dia e os jovens estão se apropriando cada vez mais”. E qual o papel do gestor cultural nesse contexto? “Deve aproveitar o potencial comunicativo dessa rede”, responde. Para ele, existe uma tensão polarizada entre cultura e tecnologia, é preciso ter um pensamento mais híbrido.

- Leia entrevista com André Lemos


Sergio D'Antonio Maceiras e
 Marco Antônio de Almeida apresentaram a segunda mesa.

A gestão cultural como aprendizagem contraculturais

A fala do professor da Universidade Complutense de Madrid, Sergio D’Antonio Maceiras, foi de encontro com a de André Lemos. “A análise que se faz normalmente da rede é de enxergar a internet como uma ilha e a rede como seu entorno, existe uma necessidade de ver a conexão entre espaço virtual e real”, afirma Maceiras.

Para exemplificar essa relação, ele apresenta os conceitos desenvolvidos em diferentes centros culturais na Espanha: Medialab-Prado e Matadero de Madrid, que sobrevivem quase sem financiamento público por conta da crise econômica no país desde 2008; La Tabacalera de Lavapiés, que é uma espécie de centro cultural ocupado, onde convivem diferentes coletivos,  mas que possuem vigilância privada; e Lorea, centros realmente ocupados, que as autoridades tentam permanentemente desocupá-los.

Acesso e apropriação da informação e da tecnologia

Já o professor da Universidade de São Paulo, Marco Antônio de Almeida, compartilhou e problematizou experiências nacionais e internacionais que trazem à tona a apropriação social da informação e a construção do conhecimento. Fez uma crítica ao Programa Cultura Viva e aos Pontos de Cultura sob o ponto de vista das políticas de capacitação profissional e tecnológica dos gestores.
Em contrapartida, apresentou o centro cultural Medialab, em Madrid, que conseguiu implementar políticas de capacitação tecnológicas, assim como o Parque Biblioteca Medellín (redes de bibliotecas públicas multimídia), na Colômbia, que foi construído em uma área de conflitos e tráfico de drogas, mas teve um trabalho importante de apropriação do espaço pela população.


Jerôme Delormas e Marcus Bastos fizeram parte da terceira mesa.

Outra experiência mencionada foi o Gaité Lyrique, um centro cultural parisiense que explora a criação na era digital, cruzando todas as disciplinas da criação. Jerôme Delormas, diretor geral do Gaité Lyrique, explica que, por meio de uma parceria público-privada, é possível oferecer ateliês intergeracionais de graça ou a preços muito baratos, em que o público tem uma relação mais próxima dos artistas.

As múltiplas possibilidades das linguagens contemporâneas no contexto das tecnologias digitais foram abordadas pelo doutor em Comunicação e Semiótica, Marcus Bastos. Como exemplo, ele citou peças teatrais do grupo Os Satyros, em que a plateia envia e-mails em tempo real e isso reconstrói a narrativa nos palcos; além do projeto Telemusic, em que ele participa com músico Dudú Tsuda, um ambiente midiográfico, em que toda movimentação do público era captada e modificava o cenário.

Tecnologias a favor da cultura


Alessandro Germano, Christiane Riedel e Fabian Wagmister finalizaram o primeiro dia do Seminário.

“Nem todas as pessoas conseguem visitar todos os museus do mundo. Como a tecnologia pode ajudar?”, questiona Alessandro Germano, que lidera a área de estratégias para produtos do Google Brasil. Esse é o objetivo do Instituto Cultural do Google: levar através da tecnologia tesouros culturais do mundo inteiro a pessoas de diversos países, de forma amigável. Não que isso substitua a vivência real, mas é um incentivador à visita aos espaços físicos. Existe ainda um diferencial nesta experiência virtual, que é a aproximação das obras em Gigapixels, onde é possível visualizar detalhes que nem pessoalmente são vistos.

- Leia entrevista com Alessandro Germano


Christiane Riedel, gerente geral do ZKM (Centro de Arte e Mídia Karlsruhe na Alemanha), acredita que a internet, as mídias sociais e a computação móvel recuperam a promessa de interatividade e colaboração entre artistas e usuários. Ressaltou que a atmosfera que necessitamos é complementada por uma infosfera, que nos ajuda a sobreviver em um mundo baseado na rede e controlado por algoritmos.

Para finalizar, Fabian Wagmister, que é chefe do Programa de Produção do Departamento de Cinema, Televisão e Mídia Digital da Universidade da Califórnia em Los Angeles, sugere que as pessoas nas redes digitais participem das ações conjuntas, transformando a tecnologia em parte do coletivo e não só do indivíduo e sua relação com a máquina.

:: Veja como foi o segundo e último dia do encontro

(Fotos: Julia Parpulov/Sesc)