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Habitar Palavras: Ricardo Hidalgo Santim

O EXEMPLO INSPIRA, A ATITUDE TRANSFORMA  

Era manhã do dia 26 de julho de 2020, meu filho Francisco e eu fomos dar uma volta na quadra de casa para tomar um pouco de sol. Na época o meu filho tinha 2 anos e 10 meses de idade. Coloquei a minha máscara e peguei outra para ele. Quando fui ajudá-lo a colocar sua máscara ele me perguntou: 

- Papai, por que temos que usar máscara? 
Sendo pai e educador, me senti na obrigação de dar uma resposta que justificasse o ato e, ao mesmo tempo, pudesse ser compreensível para ele. Então, sem hesitar, respondi explicando a situação: 
- Existe um vírus, chamando coronavírus (COVID-19), um bichinho muito pequeno, não dá para vê-lo, mas, se entrar em nosso nariz, pode nos deixar muito doentes. E se isso acontecer não poderemos ver a mamãe e nem a sua irmã Sofia. 
Convictamente, ele me respondeu:  
- Então vou usar máscara para o coronavírus não entrar em meu nariz!  
E, desde então, por onde vamos, ele é o primeiro a lembrar das máscaras. Por onde passa é admirado por fazer algo que, na verdade, é obrigação de todos.  

Para o meu filho eu não precisei desenhar. Uma pequena dose de empatia, após compreender a gravidade da situação, foi suficiente para adotar uma atitude responsável de cuidado contínuo consigo e com o próximo. Além da máscara, sempre que sai ou toca em objetos fora de casa, ele usa álcool em gel, água e sabão para higienizar as mãos. Quando chega à nossa residência, tira o calçado na porta para entrar. Educamos com as palavras, inspiramos com o exemplo e transformamos com a atitude. Assim, plantamos sementes de esperança para o futuro. 

 

QUAL É O LIMITE DE UMA PESSOA? 

Certo dia, estava andando pela rua de casa com as minhas duas cachorras (Luna e Cacau), distraído e olhando para o alto observando alguns pássaros cantarem. Quando, de repente, ouvi de uma casa da vizinhança, um grito rouco esbravejante: "Eu vou morrer! Vocês vão me matar! Não aguento mais. Eu quero sumir". E cessou. O silêncio tomou conta da casa. O grito foi tão alto e estranho que, assustados, os pássaros que eu observava saíram voando imediatamente. As minhas cachorras levantaram as orelhas e ficaram em alerta. 

A impressão que eu tinha daquela casa era de ser um lar calmo e pacífico. Mas o que que aconteceu? Será que a pessoa morreu mesmo? Acho que não, pois haveria gritos e choros do restante da família. Acho que simplesmente ficaram atônitos. Ou pararam para refletir sobre a situação e as suas motivações. Senti que naquele grito pudesse ter algo mais, um acúmulo de 7 meses de isolamento social, trancados em casa. O que levou a pessoa chegar nesse ponto? Foram as relações próximas ou as relações distantes que a pandemia proporcionou? Foi a convivência intensa ou a ausência? Foi o medo ou a exigência de coragem? Foi a angústia ou a ansiedade? Foi a parceira ou a solidão? Foi o excesso ou a falta? Foi a incompreensão ou pressão?  

Não sei se me identifiquei ou simplesmente estou curioso para entender o que aconteceu. Talvez a cabeça estivesse cheia, os nervos tensos, o psicológico abalado e o coração aflito diante dessa situação atípica para todos nós. Acredito que a pessoa estava precisando daquela exortação, um grito de liberdade para os pensamentos e as angústias que a perturbavam.  
Essa situação me fez refletir sobre os sentimentos que me ocuparam nessa pandemia. Isso me fez pensar que cada represa tem a sua capacidade, ao perceber que o reservatório está enchendo precisamos liberar aos poucos, pois se acumular, uma hora vai estourar e as consequências podem ser devastadoras. Como você está gerenciando o seu reservatório de sentimentos? Não deixe a sua barragem estourar, pode ser irreversível.  

 

O QUERER DA CRIANÇA  

Eu quero brincar 
Eu quero divertir 
Eu quero chorar 
Eu quero sorrir 

Eu quero pular 
Eu quero cair 
Eu quero abaixar
Eu quero subir 

Eu quero fechar 
Eu quero abrir  
Eu quero ficar  
Eu quero partir 

Eu quero gritar 
Eu quero sorrir 
Eu quero chorar 
Eu quero explodir 

Eu quero pegar 
Eu quero abrir 
Eu quero entrar 
Eu quero sair  

Eu quero olhar 
Eu quero ir 
Eu quero tocar 
Eu quero sentir   

Eu quero tentar 
Eu quero conseguir 
Eu quero voar 
Eu quero subir 

Eu quero que olhe para mim 
Estou aqui na sua frente 
O meu querer é sem fim 
Eu quero brincar pra sempre 

Ass. CRIANÇA 

 

Sobre o autor

Ricardo Hidalgo Santim é professor, escritor e palestrante. Formado em Licenciatura em Física, mestre e doutor em Ciência dos Materiais pela UNESP. Professor por vocação, já lecionou Física na UNESP, UFMG e IFSP, onde desenvolveu pesquisas na formação inicial e continuada de professores. Escritor por necessidade de expulsar as ideias que incomodam os seus pensamentos, arrisca escrever poesias, contos e algumas histórias na literatura infantil. É fundador da Educação TecnoAtiva, uma empresa que acredita no potencial inovador das Metodologias Ativas e das Tecnologias Educacionais para transformar a educação e proporcionar melhores resultados para alunos, professores e gestores. Ricardo é um sonhador militante, gosta de aprender para minimizar o desconhecido e de compartilhar o que tem aprendido.

 

Habitar Palavras - Biblioteca Sesc Birigui

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