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Um passeio pela história do Centro de Música do Sesc Vila Mariana
Quando o Centro de Música do Sesc Vila Mariana foi inaugurado, em maio de 1998, estudantes, professores e músicos não acreditavam no que seus olhos podiam ver: pelo menos três andares daquele prédio da Rua Pelotas eram dedicados ao ensino e estudo de música. Isso incluía o Auditório, que era interligado a um estúdio de gravação, salas de aulas para ensaios em grupo, cabines individuais, espaço multimídia com uma série de equipamentos para programação de música, contando com 16 computadores, audioteca com dezenas de CDs, e muitos instrumentos à disposição.
"Era como uma Disney da música pra gente", relembra Renato Veras, educador musical do Sesc há 22 anos. "Lembro que impressionava desde alunos da Unesp e até mesmo estudantes de música da Berklee [College of Music, em Boston, uma das maiores universidades de música americana]". Quem também se encantou com o Centro de Música do Sesc Vila Mariana foi Sean, filho do John Lennon. "Ele veio fazer uns shows no Brasil em 1998 e não tinha onde ensaiar. Acabou passando uma semana lá com a gente", conta Renato.
A vocação social sempre esteve presente, como em todas as demais atividades e espaços do Sesc. "Sempre atendemos um público diverso, que começava nos pequenos com 7 anos de idade e avançava até bem mais do que 80 anos", conta Edson Ezequiel, educador musical do Sesc há 22 anos. "Foi e continua sendo um trabalho muito interessante, porque buscamos apoiar a todos e dar as devidas condições às necessidades de cada um."
Ensino coletivo – e também individualizado
O foco esteve permanentemente no ensino coletivo e na inclusão sem distinção, o que muitas vezes fazia com que os educadores se desdobrassem. "Me lembro de um senhor que queria aprender a tocar saxofone, mas, pelo fato de ter sofrido um AVC, seu movimento se limitava a um único braço. Foi um desafio para ele conseguir segurar o instrumento e tocar com uma mão só – e também para mim, que, até então, não tinha ensinado ninguém a tocar dessa maneira. Mas conseguimos e ele saiu satisfeito", relembra Edson. Renato, por sua vez, chegou a gravar fitas cassetes dando instruções por meio da voz para um aluno com deficiência visual.
"O Centro de Música promove uma vida em comunidade intensa. É ponto de encontro para aprendizados e também amizades. É interessante acompanhar e vivenciar essa dinâmica", diz Renato. "As turmas se organizavam para ajudar os mais velhos, darem carona para ir e voltar dos cursos e ensaios... Para muitos, mais importante do que aprender um instrumento é fazer parte de um grupo social."
Expedição sonora
Uma série de tours foi promovida, no início das atividades, para que crianças, jovens e adultos não apenas conhecessem o Centro de Música, como também experimentassem as quatro famílias de instrumentos – metais, sopros, cordas e percussão –, além do canto. Formavam-se grupos que, de sala em sala, iam conhecendo os espaços, ouvindo e tocando saxofone, violão, bateria, guitarra…
Essa atividade acontecia geralmente nos fins de semana que antecediam a abertura de inscrições para novos cursos. O contentamento em se ver tirando som de um instrumento era inegável. E, de um modo geral, a quantidade deles também impressionava: são mais de 300 à disposição no Centro de Música do Sesc Vila Mariana. "Só de cordas, temos 110 instrumentos, sendo 24 no tamanho infantil", conta Edson. Por falar em cordas, aulas de violão, guitarra e contrabaixo são as mais procuradas desde a inauguração do espaço.
"Seguimos a ideia formadora do Centro de Música do Sesc Consolação, onde eu e Renato começamos a trabalhar, e aplicamos as mesmas diretrizes, que sempre nos deram grande liberdade no ensino de música", afirma Edson. "Não temos hoje um local para aprendizagem de música tão estruturado como o Centro de Música do Sesc. Ele foi criado para atender ao perfil do nosso povo, além de funcionar como um laboratório de pesquisa musical. Um verdadeiro tesouro".