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'Eu não sobrevivo da música, eu vivo da música'

Leia essas e outras declarações de Jards Macalé, que faz shows no Sesc Ipiranga dias 4 e 5/setembro e dia 12/setembro no Teatro Castro Mendes (Campinas), em conversa com a EOnline

Jards Macalé surgiu no cenário da música brasileira propondo uma nova estética musical na década de 1970 através de seu experimentalismo. Durante muito tempo foi visto pela grande mídia como um dos “malditos” da MPB e como “gênio incompreendido” por outros.

Sempre aberto a novas formas de expressão e disposto compreendê-las, hoje, aos 70 anos de idade, Macalé tornou-se grande influência de uma nova geração de músicos que passa a revisitar, reler e, finalmente, compreender seu trabalho. A EOnline conversou com o músico sobre sua carreira e sobre como é sua relação com a música atualmente. Confira a entrevista a seguir:

EOnline: No último final de semana você esteve na Feira Literária de Frankfurt, ao lado de Jorge Mautner, em uma participação no show de Lucas Santanna. Como surgiu o convite pra participar e como foi a participação?
Jards Macalé: Foi uma escolha pessoal do Lucas através da Funarte, que nos convidou para participar da Feira Literária de Frankfurt. E lá na Feira tive o grande prazer de encontrar uma exposição de Hélio Oiticica com a “Macaléia” (obra que o artista fez em homenagem a Macalé).

EOnline: Como aconteceu seu encontro com John Cage e como é sua projeção internacional hoje?
J. M.: Foi uma feliz coincidência. John Cage veio ao Brasil pra fazer um concerto e eu o conhecei através de amigos meus do 'Música de Invenção', como o Tato Taborda.  E aí nos conhecemos e passamos a jogar xadrez... Quanto à projeção internacional, atualmente fiz um filme com Eryk Rocha, filho de Glauber, e estivemos no MoMA em Nova Iorque, e em outros festivais e mostras do Brasil e do exterior. Então continua rolando...

EOnline: Diversos artistas da nova geração têm sua música e a de Mautner, Itamar Assumpção, Sérgio Sampaio, como influência. Recentemente você foi homenageado com o CD digital "E volto pra Curtir", no qual jovens músicos fizeram releituras de canções suas. Como é sua relação com essa nova geração de músicos?
J. M.: Eses jovens músicos têm me convidado para participar de seus trabalhos e para participações especiais em shows. Já toquei com vários, dentre os quais Mombojó,  e Brasov. Quanto à forma com a qual me relaciono com esse pessoal, tanto fora como dentro do palco, tento me manter informado sobre o trabalho deles e então trocamos figurinhas.  Acho bacana essa nova investida em nosso trabalho (Macalé, Assumpção, Mautner, Sampaio) nesse momento contemporâneo. É uma troca na realidade. Se nós os influenciamos, agora eles também nos influenciam com informações sobre a nova maneira de fazer as coisas. Fomos reconhecidos tardiamente, mas eu digo: antes tarde do que nunca!

EOnline: A banda Let's Play That, que o acompanha na turnê atual, também é formada por músicos jovens. Como surgiu a parceria?
J. M.: São músicoscom idades entre 22 e 28 anos. A parceria surgiu da minha necessidade de estar junto com músicos novos, que têm naturalmente aquela garra do fazer, e não só na música, mas dentro de várias linguagens como cinema, teatro, música, dança, literatura, artes plásticas etc. Enfim, eles têm interesses que coadunam com os meus interesses na arte.

EOnline: Muitos artistas disponibilizam seus álbuns para download gratuito na internet. Como você enxerga essa atitude? Você costuma usar a internet para ouvir música?
J. M.: Enxergo como uma atitude muito generosa, pois você pode buscar qualquer coisa através das várias ferramentas da internet. E costumo usar muito a internet pra ouvir música! Inclusive, a internet é um belo dicionário das artes. Têm acordes de João Gilberto que, quando tenho dúvida, digito o nome do João no Youtube e pego os acordes originais. Também acesso vídeos de grandes músicos e toco com eles dentro do meu próprio lar (risos). Portanto posso dizer que eu toco com os maiores músicos do mundo sem sair de casa!

EOnline: Você sempre foi visto como uma figura de personalidade contestadora. No último mês participou do sarau "Mostre seu talento em 5 minutos", em favor da família do pedreiro Amarildo. De que forma você acha que a arte e a cultura podem ajudar nessa nova onda de protestos que "acordou" o Brasil?
J. M.: No sarau toquei a música “Pedreiro Waldemar”, de Wilson Batista. É uma música de carnaval de 1949 que diz “Você conhece o pedreiro Waldemar? / Não conhece? Mas eu vou lhe apresentar / De madrugada toma o trem da Circular/ Faz tanta casa e não tem casa pra morar”... A cultura é tudo. Inclusive, essas passeatas fazem parte da cultura de um país. As reivindicações também. E nesse sentido da cultura, o Brasil vem de grandes manifestações.

EOnline: Em entrevista recente, Zé Celso Martinez Correa, um de seus parceiros, afirmou que nas últimas manifestações havia poucos cartazes, ou nenhum, reivindicando cultura. Como você enxerga isso?
J. M.: Olha, eu acho que todos os cartazes expostos fazem parte de um movimento cultural. Quando você pede saúde e educação, esse momento é cultural, porque cultura não é uma coisa de poucas pessoas, a cultura é um todo que abrange costumes, a arte em geral, o modo de viver de um povo.

EOnline: Você teve um período de “maldição” em que ficou sem produzir. Hoje, tem sido possível sobreviver da música?
J. M.:

Eu não sobrevivo da música, eu vivo da música. Isso desde os 15 anos de idade, e hoje tenho 70. Com altos e baixos, eu vivo da música. Quando os direitos autorais são baixos, eu vivo de shows. E é assim para todos os artistas que decidem viver dessa linguagem, que é a arte. Então para mim não mudou nada nesse sentido. Inclusive os shows são exercícios pessoais, ensaios abertos, nos quais você está trabalhando, e naturalmente você cobra pelo seu trabalho. É a atividade que gera economia pra você.

EOnline: Nos seus 70 anos de idade, o que você considera seu maior benfeito e o pior malfeito?
J. M.: O benfeito é continuar fazendo o que faço e o malfeito é continuar fazendo o que não faço.

A seguir, você pode conferir "Vapor Barato", no canal TramaRadiola no Youtube:

o que: Jards Macalé
quando:

4 e 5/setembro
21h

onde:

Sesc Ipiranga

ingressos:

Consulte a programação


o que: Jards Macalé e Banda Let’s Play That
quando:

12/setembro
21h

onde:

Teatro Castro Alves - Praça Correa de Lemos, s/nº – Vila Industrial – Campinas, SP
(uma iniciativa do Sesc Campinas
)

ingressos:

Consulte a programação