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Os segredos de um envelhecimento bem-sucedido
Estudo realizado por Neide Alessandra Périgo Nascimento, monitora de esportes do Sesc em São Paulo, mostra que a crescente taxa populacional de idosos evidencia a necessidade de mudanças na saúde e no bem-estar dos brasileiros nesta idade
A crescente taxa populacional de idosos na sociedade brasileira evidencia a necessidade de reestruturação e mudanças sociais nas múltiplas questões que envolvem a saúde e o bem-estar dos brasileiros da terceira idade.
Considerar apenas o aumento da expectativa de vida dos idosos não é suficiente. É importante avaliar, também, se os anos adicionais à vida de um indivíduo serão saudáveis. A independência para realizar as atividades da vida diária, a ausência significativa de doenças e deficiências, a manutenção de altos níveis de capacidade física e cognitiva e a preservação produtiva da atividade social são considerados elementos essenciais para um envelhecimento bem-sucedido.
Muitos idosos, devido ao sedentarismo, utilizam seus níveis funcionais máximos para realizar as atividades da vida diária, como subir escadas ou levantar uma cadeira. Baixos níveis de força e massa muscular podem gerar fragilidade física, quedas, declínio funcional e diminuição da mobilidade na terceira idade.
Qualquer declínio nesses níveis resulta passar da condição de independência para a de incapacidade física. Porém, o desuso do sistema musculoesquelético e a falta de nutrição adequada podem ser potencialmente evitados ou reversíveis com algumas intervenções.
A capacidade funcional está relacionada com a saúde dos idosos e pode ser analisada pela autonomia e independência no desempenho das atividades da vida diária. Neste sentido, a prática de atividade física contribui positivamente para a manutenção da capacidade funcional. Além dos benefícios que a atividade física traz, é importante ressaltar as características dos programas de exercícios que melhor se adaptam às necessidades deste escalão etário.
O Sesc em São Paulo acompanha as mudanças e as reflexões sobre o processo de envelhecimento, empenha esforços na reformulação de conceitos e propõe discussões para sensibilizar a sociedade na valorização do cidadão idoso.
O incentivo à prática do esporte e da atividade física é uma das diversas maneiras que o Sesc em São Paulo utiliza para melhorar a qualidade da vida, proporcionar o bem-estar físico e ampliar o desenvolvimento cultural e social da Terceira Idade. Dentre os programas de exercícios físicos ofertados, destacam-se as seguintes modalidades:
• Hidroginástica
Possui elevado contingente de praticantes idosos em função da sociabilização proporcionada e pela contribuição para o relaxamento corporal e o alívio de dores articulares pelo ambiente em que é trabalhado.
• Ginástica Multifuncional - GMF
Considerada como “um programa de orientação de atividade física com o objetivo da otimização das capacidades e habilidades para a realização das atividades da vida diária, seja no ambiente de trabalho, lazer ou esporte, com gestualidade para expressar-se de forma criativa, afetiva e social. A proposta da Ginástica Multifuncional é apresentar diversas formas e práticas, levando-se em conta a integridade do indivíduo por considerar seus aspectos fisiológicos (aptidão física), cognitivos, sociais e psicológicos“ (SESC, 2011).
Para garantir que programas de exercícios físicos sejam eficientes para este público, o papel do profissional de Educação Física se torna cada vez mais importante neste contexto. O professor que assume um grupo de idosos para orientar na prática de exercícios físicos precisa, além do conhecimento, ter segurança e coerência ao propor as atividades que tragam o máximo de benefícios e - ao mesmo tempo - previna os riscos inerentes aos idosos.
Algo a ser explorado e ressaltado no processo de envelhecimento são as condições nutricionais. Um exemplo é a deficiência da vitamina D, cada vez mais frequente na terceira idade.
A vitamina D é obtida por meio da adequada exposição aos raios ultravioleta B (UVB) emitidos pelo sol. Porém, devido a pouca exposição ao sol, alimentação inadequada, utilização de múltiplas drogas que interferem na absorção/metabolização da vitamina D e comprometimento renal, a população idosa é mais suscetível à falta dessa vitamina no organismo.
Segundo estudiosos, os baixos níveis de vitamina D em idosos proporcionam redução da força muscular e equilíbrio corporal, aumento da incidência de quedas e deterioração da coordenação neuromuscular.
Dessa forma, este tema tem despertado o interesse de pesquisadores à procura de níveis adequados desta molécula para contribuir com a função neuromuscular dos idosos, além da investigação dos tipos de exercícios físicos que podem melhorar e manter a capacidade funcional e, consequentemente, beneficiar a qualidade de vida destes indivíduos.
Para analisar a relação do nível sérico de vitamina D, com a capacidade funcional de idosas praticantes de hidroginástica, ginástica multifuncional e não praticantes de atividades físicas, a funcionária Neide Alessandra Périgo Nascimento, Monitora de Esportes do Sesc em São Paulo, realizou um estudo sobre o assunto em sua tese de mestrado intitulada "Força muscular, equilíbrio corporal, capacidade funcional e vitamina D de idosas praticantes de Hidroginástica e Ginástica Multifuncional e não praticantes de atividade física", realizada na Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina – UNIFESP/EPM.
A população em estudo foi composta por mulheres idosas, com 60 anos ou mais de idade, praticantes de atividade física no Sesc Santana e idosas não praticantes de atividade física, residentes na zona norte da cidade São Paulo.
Foram selecionadas 461 idosas, divididas entre praticantes de Hidroginástica, Ginástica Multifuncional (GMF) e um grupo controle composto por idosas provenientes da comunidade da zona norte de São Paulo.
Para avaliar a capacidade funcional foram empregados testes físicos e funcionais, onde os três grupos mostraram diferenças estatisticamente significantes. Além disso, o estudo também mostrou que a insuficiência da vitamina D foi evidenciada nos grupos e que mais da metade das idosas apresentaram osteopenia, diminuição progressiva da massa proteica dos ossos. É importante ressaltar que a osteopenia é precursora da osteoporose, que ocasiona a rarefação e o enfraquecimento dos ossos.
O estudo serve como um alerta, pois, mesmo em uma população de idosas independentes fisicamente, que vivem em uma região subtropical com sol abundante durante todo o ano, a insuficiência de vitamina D foi constatada. Como contrapartida, a prática de atividade física fez a diferença entre os grupos em relação à capacidade funcional.
Para concluir, pode-se dizer que uma das alternativas para verificar a melhoria na força muscular e equilíbrio corporal em idosos é a ação conjunta da suplementação da vitamina D, com e sem o cálcio, e exercícios físicos adequados para esta população. Essa ação é apresentada em diversos estudos como uma alternativa benéfica para a população idosa.