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Públicos da Cultura: democratização, contexto latinoamericano e não verdades

Da esquerda para a direita, Olivier Donnat, Andrea Nogueira e Ana Rosas Mantecón
Da esquerda para a direita, Olivier Donnat, Andrea Nogueira e Ana Rosas Mantecón

 

No primeiro dia do Encontro Internacional Públicos da Cultura, que acontece no Sesc Vila Mariana, a cobertura educomunicativa traz para você um podcast no qual os participantes contam o que é cultura para eles. Sobre os encontros que aconteceram de manhã, três textos tratam das políticas culturais no contexto latino americano, da relação entre investimento e democratização da cultura e das não verdades quando o assunto é "públicos da cultura". Acompanhe aqui!

A cobertura educomunicativa do Encontro é uma parceria com é uma parceria com a ONG Viração e com alunos da Educomunicação da ECA/USP, clique aqui para entender como funciona.


(PARA OUVIR) Participantes do Encontro definem o que é Cultura

Nesta terça-feira, 12 de novembro, teve início no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, o Encontro Internacional Públicos da Cultura, reunindo palestrantes brasileiros, norte-americanos, europeus e latinos. Os adolescente comunicador Jonathan Saints entrevistou algumas pessoas do evento, perguntando o que é cultura para elas. Ouça algumas das respostas no podcast!

 


Sem investimento, não há democratização da cultura!

Sob o aspecto cultural, terminada a segunda guerra mundial em 1945, o período pós-guerra na França foi marcado pelo objetivo principal de militantes e pesquisadores em reunir esforços para estabelecer um processo de democratização da cultura. A chamada “política de oferta”, surgida neste contexto, preocupava-se em garantir o acesso a obras fundamentais da história da humanidade e da França para o público em geral.

Foi o que contou o professor doutor em economia francês Olivier Donnat, durante sua participação no Encontro Internacional Públicos da Cultura, organizado pelo Sesc São Paulo. Depois de realizadas uma série de pesquisas sobre o público da cultura e a freqüência no acesso à cultura na França, a partir do ano de 1963, chegou-se à conclusão que para democratizar a cultura seria indispensável investir em cultura.

Nos anos 80, sob o contexto da legitimação e incorporação de novos modos de expressão cultural e com a entrada da esquerda no governo, o investimento estatal em cultura dobra de tamanho na França. É nesse momento que o apoio financeiro à pesquisa em cultura e à indústria cultural – notadamente o cinema francês – entra em cena.

Com o fim da década de 80 e a difusão mundial do neoliberalismo, começa um novo ciclo na França; o império do “Estado modesto” significa o início dos cortes orçamentários, da crise institucional e descentralização da gestão de cultura e da crise da intelectualidade que sustentou teoricamente os esforços na democratização da cultura e no enfrentamento da desigualdade de oportunidades como caminho único para o acesso geral à cultura.

Ao fim de sua fala, Olivier ressaltou a centralidade do vínculo entre acesso à cultura e escolaridade como resultado inequívoco das pesquisas na área cultural e a necessidade do investimento para desenvolver pesquisas. O professor enfatizou ainda que é fundamental tomar as cifras econômicas, amplamente divulgadas e reproduzidas no mundo contemporâneo, como convenções sociais. “As cifras são construções sociais”, disse.

 


Públicos da Cultura: a América Latina quer participar!

Por Beatriz Jordan, jovem comunicadora

A pesquisadora mexicana Ana Rosas Mantecón inicia sua fala relembrando a posição da América Latina como uma das regiões de maior desigualdade social do mundo e, por isso, analisá-la requer o desapego de falas generalistas.

A indústria cultural latino-americana teve tempos de alta produção, como em 1930, com a inserção de países como o Brasil na produção cinematográfica mundial. Porém, desde a crise econômica de 1980 em conjunto com a reformulação do neoliberalismo, sua atuação foi reprimida pelo monopólio invasivo do imperialismo norte-americano, que dita até mesmo o consumo intelectual e cultural do povo latino-americano.

Mesmo com dificuldade em promover sua industria cultural, a América Latina destaca-se na busca por investir na distribuição de tecnologias em escolas, motivando crianças e jovens a aprender sobre novas ferramentas e a produzir através das mesmas, promovendo maior interatividade entre os públicos e esforçando-se para levar a cultura dos países latino-americanos a âmbito mundial.

No entanto, as barreiras de acesso à cultura no continente incluem diversos desafios. Ana Rosas acredita que políticas culturais que visem o potencial transformador da cultura devem repensar a participação do público enquanto consumidor e inseri-lo como produtor de cultura, abrangendo de forma pluralista todos, sem distinção. Ela encerra sua participação mostrando que tal proposta é possível, exemplificando com o grupo de feministas “Mujeres policias em El Centro”, que trabalha com mulheres vitimas de exclusão social, valorizando a apropriação das mulheres em diferentes campos de trabalho e construindo a cultura de maneira inclusiva e diversificada como forma de combater estereótipos e desigualdades.

“Necessitamos de política públicas culturais muito mais efetivas nos âmbitos diversos para que a América Latina se escute na América Latina”, conclui Ana.


Olivier Donnat: sem certezas absolutas quando o assunto é públicos da cultura

Por Paolla Menchetti, jovem comunicadora

O polêmico professor francês Olivier Donnat se recusa a concluir verdades absolutas sobre o tema “públicos da cultura”, preferindo levar ao público diversas dúvidas e questões. Será que a oferta cultural revela a demanda existente? Será que o surgimento das novas tecnologias facilita as pesquisas? Será que as políticas culturais são realizadas como deveriam?

O sociólogo e doutor em economia revelou seu pessimismo em relação às políticas culturais atuais, principalmente na França. Para ele, a oferta cultural não revela a demanda existente, pelo contrário, ela atende uma demanda especifica. Tal fato está ligado com a perpetuação de uma sociedade desigual, que não faz cultura para despertar novas demandas, mas atende as já existentes, terminando por restringir o engajamento com a produção e consumo de cultura aos indivíduos que possuem diplomas acadêmicos.

Pelo fato de não estarmos em uma sociedade homogênea ou igualitária, o economista ressalta: “Os números não podem ser deixados a cargo das ciências econômicas; precisamos combater os economistas no campo deles, sem cair na lógica contábil, pois todo numero repousa sobre uma convenção”.

Essa avaliação pressupõe que aqueles que calculam os números raramente estão a favor dos pobres ou da ampliação do acesso à cultura, sendo necessário compreender e dar carne e osso, a partir das pesquisas sobre cultura, aos números e cifras econômicas - que por vezes tem um aspecto árido.

Em relação às novas tecnologias, o professor acredita que, de certo modo, elas não facilitam as pesquisas, pois quem está no controle das redes sociais são empresas, cujos propósitos estão bem distantes de proporcionar dados exatos aos sociólogos. Afinal de contas, quando se fala em políticas culturais, temos que pensar antes de tudo em dinheiro e nas questões de poder, pois sejam elas quais forem, seus objetivos não estão ligados mecanicamente à oferta e demanda de maneira igual.

o que: Encontro Internacional Públicos da Cultura
quando:

12 a 14/novembro

onde:

Sesc Vila Mariana