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Grupos de Consumo Responsável e mobilizações locais - Consumir com consciência

Integrantes do Pertim montam cestas antes do envio a pessoas em situação de vulnerabilidade social
Integrantes do Pertim montam cestas antes do envio a pessoas em situação de vulnerabilidade social

Por Daniela da Costa Matsuda*

Há cada vez mais movimentos que mostram a necessidade de discutir a origem e movimentação de insumos na cadeia produtiva, a fim de dar mais consciência ao nosso ato de consumir. Porém, encontrar produtos orgânicos a um preço justo ao consumidor e ao produtor, por exemplo, ainda é um dos grandes gargalos da economia solidária. Aliado a isso, em tempos de pandemia, a situação tem se agravado. Muitos agricultores, sejam eles convencionais ou orgânicos, estão tendo dificuldades em escoar a sua produção, mesmo realizando uma atividade essencial. Ao focar a lupa na Zona Sul de São Paulo, é estranho observar que muitos alimentos saem de regiões como Parelheiros e Grajaú, passam por bairros carentes desses alimentos, e são vendidos para públicos de regiões mais centrais da cidade. Bairros como Grajaú e Campo Limpo possuem “desertos alimentares”, ou seja,  é mais fácil se achar alimentos ultraprocessados, como bolachas e salgadinhos, do que frutas, verduras e legumes. Vale lembrar que essa situação é recorrente, e atualmente só está se escancarando para a sociedade.

Como pode haver uma transformação, de dentro da própria comunidade, dessa realidade compartilhada por muitos? Esse movimento já está acontecendo, dando aos bairros periféricos acesso a produtos orgânicos ou de transição agroecológica para melhorar a qualidade de vida e auxiliar na sustentabilidade socioambiental a partir das relações econômicas. Existem várias formas de articulação local para se adentrar em redes de apoio mútuo, ou para criar novas redes a fim de adquirir produtos de pequenos agricultores. Abaixo, relatamos algumas dessas experiências e os contatos destes grupos e pessoas, para que todos que tenham interesse possam se aprofundar nesse assunto e se engajar nessa rede de solidariedade.

Construindo formas emergenciais de solidariedade

Pensando nisso é que grupos de pessoas, coletivos e instituições têm se mobilizado, utilizando as redes sociais e vaquinhas online para mudar esse cenário sobre o acesso a alimentos de qualidade, que tem se agravado com a crise de saúde pública global. Por exemplo, Flávia Altenfelder, Mariana Castrillon e Rafael Duckur iniciaram o projeto Pertim. A proposta do projeto é comprar alimentos de produtores orgânicos, como Fazenda da Toca e Fazenda Malabar, e destinar a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Inicialmente a arrecadação era feita partir de doações em conta bancária e o dinheiro era destinado a pagar os agricultores, a fim de continuar viabilizando o seu trabalho no campo. A primeira distribuição de cestas com produtos orgânicos aconteceu na região da Brasilândia, graças à intermediação dos agentes comunitários da iniciativa Preto Império. Atualmente, eles estão com um novo modelo, as cestas Robin Hood: comprando uma cesta de orgânicos, o consumidor financia 50% de outra. A missão do projeto é maior, envolve a compreensão na prática de modelos de redes alimentares para se alcançar o nível nacional. Para que esse objetivo seja alcançado não há a centralização da logística ou das informações. Por meio da Pertim, novos pequenos grupos se formam com a mesma proposta, mas com particularidades de acordo com o território em que esse grupo está inserido. Um caso de sucesso é a EcoPiras, formado em Piracicaba pela moradora Adriana Jazzar. Esse novo grupo se forma, recebe doações pela Pertim por um tempo e depois, se torna autossuficiente, criando suas próprias metodologias e formas de arrecadação de fundos.

Através da união da Associação Imargem, Bauhinia e sítio Nossa Fazenda, deu-se origem ao projeto “Orgânicas para Todes”. A iniciativa parte de um grupo de mulheres engajadas em aumentar o acesso aos orgânicos na periferia. Esse grupo organiza o escoamento da produção, conectando consumidores com produtores que precisam vender, garantindo ainda o acesso desses produtos a quem não pode comprar. Interessados em adquirir cestas de produtos orgânicos compram duas cestas: uma delas é retirada num dos pontos estabelecidos e a outra vai para famílias atendidas por instituições da região. As primeiras doações foram destinadas a famílias assistidas pelo projeto Anchieta e aos catadores de materiais recicláveis da Cooperpac, localizados na região do Grajaú. É importante e interessante observar que as iniciativas são sustentadas por voluntárias, o que faz com que as entregas ocorram apenas às sextas-feiras. No caso mencionado, as cestas podem ser entregues nos bairros do Grajaú, Jd. São Luís, Santo Amaro, Interlagos, Pinheiros e Consolação

Renato Rocha, do Coletivo Dedo Verde, e Ananias Barbosa, do Ângela de Cara Limpa, atuam juntos no cultivo de alimentos em hortas urbanas do Jd. São Luís e Jd. Ângela, respectivamente. Antes as pessoas tinham a possibilidade de visitar os canteiros para conhecer o trabalho das duas iniciativas, além de fazer a colheita na hora de verduras e legumes. Atualmente, a produção se mantém, o contato é feito pelas redes sociais, e a recomendação é que a visita seja agendada para um outro momento.

Existem realidades muito diferentes, e cada pessoa tem a sua própria forma de contribuir de acordo com suas possibilidades. Quem tem oportunidade de ficar em casa por mais tempo talvez se depare com diferentes questionamentos sobre nosso modo de viver e seus impactos sociais, econômicos, ambientais e políticos. Abaixo, estão os contatos das iniciativas descritas nesta matéria. Fique à vontade para pesquisar, divulgar e se inspirar!

Pertim

https://www.facebook.com/Pertim.org/

https://www.instagram.com/pertim_org/

https://www.pertim.org/

“Orgânicas para Todes”

https://www.instagram.com/organicasparatodes/

Coletivo Dedo Verde

https://www.facebook.com/coletivo.dedoverde/

https://www.instagram.com/coletivodedoverde/

*Daniela da Costa Matsuda é técnica da equipe de programação do Sesc Campo Limpo