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Shows reúnem vozes e gêneros dos dois lados do Atlântico
Realizados no Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros, nos dias 8, 9 e 10 de maio, os shows de lançamento do projeto As Margens dos Mares reúnem grupos de músicos que, ora no papel de anfitriões, ora no papel de convidados, interagem com o repertório musical de cada território representado e criam combinações e sonoridades inéditas:
Portugal [dia 8 de maio]
Portugal, com sua música de melodias melancólicas e forte presença de instrumentos de corda, é o tema do primeiro espetáculo, no qual as anfitriãs portuguesas Ana Bacalhau e Sara Tavares recebem Ivan Lins, Paulinho da Costa e Manecas Costa.
África [dia 9 de maio]
A diversidade musical africana tem como ponto de encontro a complexidade rítmica e a sobreposição de vozes. A segunda noite apresenta, portanto, um espetáculo em homenagem à música deste continente e tem como anfitriões os cabo-verdianos Manecas Costa e Mayra Andrade e o moçambicano Stewart Sukuma, que recebem Céu, Sara Tavares e Paulinho da Costa.
Brasil [dia 10 de maio]
A riqueza musical brasileira, síntese e aprofundamento do sentimento harmônico português e das possibilidades rítmicas africanas, é o tema do terceiro e último espetáculo, no qual os brasileiros Ivan Lins, Céu e Paulinho da Costa recebem Lee Ritenour, Manecas Costa, Ana Bacalhau, Stewart Sukuma e Mayra Andrade.
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A seguir, saiba mais sobre os artistas envolvidos no projeto:
Lee Ritenour | Estados Unidos
Idealizador da concepção musical de As Margens dos Mares, Lee Ritenour é um consagrado guitarrista, compositor, arranjador e produtor norte-americano. Sua ligação à cultura brasileira deu-se já em seu primeiro álbum, First Course (1975). Em sua carreira de 45 discos solo, três são dedicados à música brasileira – Rio, Twist of Jobim e Harlequin – e convidou artistas como Ivan Lins, João Bosco, Caetano Veloso e Gonzaguinha para participações especiais. Lee também produziu, como diretor musical, grandes projetos internacionais, como Earth Voice Concert, We love Music, We love the Earth e Tributo a Tom Jobim. Foi vencedor do Grammy e homenageado em vários prêmios, como o SJ Awards canadense, pelo conjunto de sua obra.
Ana Bacalhau | Portugal
A lisboeta Ana Bacalhau tem nas tradições portuguesas a base de seu cantar, mas o norte voltado às interações do contemporâneo. Suas interpretações valem-se de grande originalidade, balanceando a cadência e o gestual introspectivo do fado com influências do jazz e do rock, por exemplo, que dão frescor a seu trabalho. A cantora, que é vocalista do grupo Deolinda, investe atualmente também em sua carreira solo. Em um momento mais maduro, tem participado de projetos como Voz e guitarra – em que canta Estrela da tarde, com guitarra de Luís José Martins – e realizado apresentações com um repertório internacional, interpretando canções de Eddie Vedder, Janis Joplin, The Doors e Miriam Makeba.
Céu | Brasil
Voz feminina brasileira no projeto, a paulistana traz um repertório que faz dialogar gêneros como samba, reggae, afrobeat e R&B. Sua música foi recebida com entusiasmo logo no disco de estreia, CéU, lançado em 2005 nos Estados Unidos – indicado ao Grammy e destacado no ranking Hot 100 da Billboard. Desde então, produziu mais dois álbuns e seguiu em intensa colaboração com outros artistas, como Gui Amabis, Lucas Santanna, Pupilo e Jorge du Peixe. Seu estilo preciso de interpretação combina-se com a veia de compositora – de grande cuidado com detalhes do arranjo e acabamento de cada canção –, hibridez e refinamento que abrilhantam sua música.
Ivan Lins | Brasil
O compositor, cantor e pianista brasileiro iniciou-se na música sob a influência do jazz e da bossa nova e, já em 1970, teve a composição O amor é o meu país entre as finalistas do V Festival Internacional da Canção. Marcado por sua sofisticada construção harmônica, Ivan Lins possui um estilo cosmopolita que chamou a atenção de Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Lee Ritenour, Elis Regina e Emílio Santiago, entre outros que gravaram suas canções. Multifacetado, o músico compôs trilhas sonoras para filmes, novelas e seriados, e fundou a importante gravadora Velas. Nos anos 2000, viveu um período em Portugal, realizando projetos com artistas portugueses e de outras nacionalidades. Foi vencedor do Grammy por três vezes, a mais recente delas, em 2009.
Manecas Costa | Guiné-Bissau
O cantor e guitarrista de Guiné-Bissau inicia sua carreira musical aos dez anos de idade, tocando no grupo África Livre. Na adolescência, já era conhecido na cena musical de seu país não só como instrumentista, mas também por suas composições de temática social. Em 1987, foi nomeado embaixador da boa vontade pela Unicef e destacou-se no festival Découverte, organizado pela RFI, iniciando carreira internacional. Gravou seu primeiro disco solo em 1990, em Lisboa, e passa a atuar como produtor musical de artistas africanos em Portugal. Cantando em crioulo e em línguas locais, Manecas traz para sua música, em arranjos contemporâneos, elementos de gêneros tradicionais, como o gumbe.
Mayra Andrade | Cabo Verde
Após passar parte da infância no Senegal, em Angola e na Alemanha, a cantora voltou a Cabo Verde, onde criou raízes na ilha de Santiago. Deixou-se embeber da vasta cultura local, marcada pelos gêneros musicais funaná e batuque, de forte componente percussivo. Interpreta suas canções em língua crioula – além do português e do inglês – como uma forma de colaborar para a diversidade musical de seu país, não reservando o crioulo apenas às sonoridades tradicionais. Experimentando, atualmente, o encontro de seu repertório musical com o pop, Mayra tem também forte ligação à cultura brasileira, tendo cantado ao lado de Chico Buarque, Lenine e Mart’nália, entre outros.
Paulinho da Costa | Brasil
O percussionista, arranjador e produtor carioca iniciou-se na música na ala mirim da Portela. Desde 1973, fez sua carreira nos Estados Unidos, onde participou da gravação de mais de 2 mil álbuns de novecentos artistas – de Miles Davis e Dizzy Gillespie a Madonna e Michael Jackson. Também atuou na produção de trilhas sonoras de séries de TV e filmes, como A cor púrpura, Dirty Dancing: Ritmo quente e Missão impossível. Reconhecido pela sensibilidade e elegância de sua percussão, o músico focou-se no trabalho minucioso das gravações em estúdio, de onde também saíram seus quatro discos solo. É músico emérito pela National Academy of Recording Arts & Sciences.
Sara Tavares | Portugal
A cantora e compositora portuguesa traz ao projeto a diversidade do cenário musical contemporâneo de seu país. A sonoridade de Sara pode ser sintetizada pela mistura: traz elementos de suas raízes cabo-verdianas e da música tradicional portuguesa, além do gospel, do soul e do funk, que impulsionaram o início de sua carreira. Nessa trajetória, as trocas com músicos de diversas nacionalidades em turnês e parcerias fizeram com que a cantora fosse consagrada como um talento da world music, com prêmios como o Africa Festival Award pelo conjunto de sua obra. O trabalho de Sara, de fato, é música do mundo: um encontro harmonioso e único de matrizes culturais.
Stewart Sukuma | Moçambique
O músico moçambicano da região de Niassa produz uma música cheia de energia e de múltiplas influências. O caldo cultural de seu país, marcado pelo encontro com as tradições islâmica e portuguesa, é a principal fonte de seu trabalho, mas seu olhar se estende à riqueza linguística e de sons de todo o continente africano. Membro da Berklee College of Music, nos Estados Unidos, Sukuma vê, em sua música, uma forma de atuar, também, na luta pelos direitos humanos. Primeiro embaixador da boa vontade da Unicef em Moçambique, encabeça iniciativas em prol da valorização da cultura moçambicana, campanhas pela prevenção da aids e pelos direitos da criança, entre outras causas.
As apresentações contam ainda com uma banda internacional especialmente produzida para os encontros, formada por John Beasley (piano), Guto Wirtti (baixo), Kiko Freitas (bateria), Daniel Santiago (guitarra), Marcus Cesar (percussão) e Thomas Naim (violão e guitarra), além das cantoras Sizaquiel Matchombe e Sandra Magaia.
(Fotos: Rob Shanahan, Rui Aguiar, Renan Costa Lima, Leonardo Aversa, Magdalena Bialoborska, Vanessa Filho, Ibrahim Elkest, Marlene Nobre e Marcus Thomson)