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Dengue: prevenção é papel de todos
Febre, dores no corpo, indisposição: são sintomas que se multiplicam entre pessoas de todas as idades, em diversas regiões do país. Apenas em 2015, os números da dengue no Estado de São Paulo já ultrapassam os 200 mil casos confirmados. É uma questão da saúde pública, mas o papel na prevenção é de todos: são cuidados que cada um deve ter em casa para evitar a água parada, o principal fator para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito responsável pela transmissão do vírus.
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A EOnline conversou com a médica epidemiologista Ana Freitas, do Instituto Emílio Ribas, sobre o panorama atual da doença, prevenção e tratamento; confira a entrevista:
EOnline: Em 2015, houve um aumento expressivo do número de casos de dengue no Estado de São Paulo em relação ao ano passado, atingindo um recorde de 222 mil confirmações. Quais as possíveis causas desse aumento?
Ana Freitas: A incidência dos casos de dengue depende de uma série de fatores, como a suscetibilidade da população ao vírus e o nível de infestação do mosquito. Não é possível determinar uma causa porque na realidade é uma questão multifatorial: são várias causas para serem analisadas em cada local, em cada situação – tendo em vista características da população e do vírus.
EOnline: Muito se fala sobre a dengue, com diversas campanhas de conscientização. Que estratégias são mais eficazes para comunicação com a população?
Ana Freitas: Todas as ações são bem-vindas. A atuação dos agentes municipais dentro das casas é muito importante, assim como as informações na mídia e nas redes sociais. O Estado também faz um trabalho de monitoramento dos espaços públicos e locais de grande circulação. As campanhas de conscientização nas escolas para que as crianças, hoje e no futuro, tenham consciência e evitem a água parada. O máximo que puder ser feito para a conscientização é valido: dentro dos prédios, com os zeladores e síndicos também. Tudo isso vai evoluindo pra que a gente tenha de fato um controle da dengue no futuro.
EOnline: Há ações sendo desenvolvidas no campo da ciência, como o uso de mosquitos modificados e pesquisas para a criação de uma vacina. Quais são as perspectivas para o desenvolvimento de soluções nessa área?
Ana Freitas: Já existem algumas vacinas sendo desenvolvidas, mas ainda estão em fase de testes para que haja uma comprovação da segurança e da eficácia para todos os subtipos. Provavelmente em 2016 já se tenha uma delas.
Mas mesmo com a criação da vacina, as medidas de prevenção contra o vetor não devem ser esquecidas, pois o mesmo vetor da dengue também é responsável pela transmissão de outras doenças, como as febres amarela e chikungunya.
EOnline: A previsão é de que o número de casos de dengue continue subindo mesmo em maio, um mês mais frio. A que se deve isso?
Ana Freitas: Quando há uma suspeita de dengue, há um prazo para confirmação e fechamento do caso, para o monitoramento do Estado. Ainda há casos que aguardam confirmação para serem fechados, por isso essa perspectiva. No inverno, há menos chuvas e as transmissões são menores, mas a população deve ficar atenta durante todo o ano. Um ovo do mosquito pode ficar viável por até um ano. Se houver a eliminação dos criadouros no inverno, o verão seguinte terá menos casos.
EOnline: A crise de abastecimento levou a população a buscar formas de aumentar o armazenamento de água em casa. Isso pode ter contribuído para a proliferação dos mosquitos?
Ana Freitas: Não há como comprovar uma relação direta, isso precisa ser analisado em cada município. Há municípios que sofreram com a falta d’água e tiveram altos índices de transmissão da dengue, mas há também cidades que não tiveram problema no abastecimento e também apresentaram muitos casos. Como eu disse, são vários fatores envolvidos, tem a questão da vulnerabilidade da população ao tipo de vírus que está circulando, por exemplo.
EOnline: Quais cuidados as pessoas devem ter em casa?
Ana Freitas: Cerca de 80% dos criadouros estão dentro dos domicílios. Às vezes a gente acha que está tudo bem, mas é preciso olhar, procurar nos detalhes para evitar a água parada de qualquer jeito. É importante não deixar pratinhos nos vasos de planta, ou enchê-los de areia, para que a água não fique armazenada; verificar se a geladeira está com vazamentos, ficar atenta a calhas e ralos e à caixa d’água. No quintal, não deixar lixo e outras coisas abandonadas em local descoberto.
EOnline: E fora de casa, ao observar um possível foco de proliferação?
Ana Freitas: Se for um local que a pessoa não tem como acessar, deve comunicar o município, que é responsável pela ação nesses casos.
EOnline: Quais os sintomas mais comuns da dengue?
Ana Freitas: Febre alta, acompanhada de dor no corpo, na cabeça e nos olhos, manchas vermelhas na pele.
É preciso que o paciente fique atento aos sinais de alerta de gravidade: queda de pressão e de temperatura, dor na barriga, sangramentos, vômitos e alterações respiratórias. Nesses casos, a pessoa deve procurar assistência médica imediatamente.
EOnline: Em casos de suspeita de dengue, qual o procedimento indicado?
Ana de Freitas: Apesar de ser uma doença que na maior parte dos casos não tem complicações, deve ter acompanhamento médico. Os pacientes têm que ser diagnosticados de acordo com o risco, a partir de sinais clínicos e hemogramas. O médico vai poder indicar a hidratação necessária, considerando o peso da pessoa. Talvez a hidratação tenha que ser feita de forma intravenosa e em alguns casos pode ser necessária a internação. Idosos e portadores de doenças crônicas, por exemplo, podem ser mais propensos a um agravamento do quadro.
Mais informações sobre a dengue podem ser encontradas no site da Superintendência de Controle de Endemias e da Fiocruz.