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13 filmes de terror brasileiros pra assistir em casa

José Mojica Marins, falecido em fevereiro de 2020: Zé do Caixão em
José Mojica Marins, falecido em fevereiro de 2020: Zé do Caixão em "À Meia-Noite Levarei Sua Alma"

Em celebração aos 80 anos do gênero no Brasil, em julho de 2016, o Sesc Rio Preto realizava a mostra de cinema "Macabros: O Novo Cinema de Horror Brasileiro" com curadoria de Carlos Primati.

Jornalista, crítico de cinema e referência na pesquisa do cinema de horror brasileiro, Primati preparou uma lista comentada com 13 filmes indispensáveis para quem quer desbravar e conhecer um pouco mais da história dos gêneros horror, terror e suspense em terras tupiniquins.

 

80 ANOS DE HORROR NO CINEMA BRASILEIRO
Por Carlos Primati

Os primeiros espectros do horror no cinema brasileiro surgiram exatos oitenta anos atrás, em 1936, e como não poderia deixar de ser, em tom de deboche, na comédia musical O Jovem Tataravô, de Luiz de Barros. Os melodramas góticos da década de cinquenta carregaram no clima psicológico para contar histórias de loucura e demência, evocando fantasmas nem sempre sobrenaturais, como em Presença de Anita (1951), Meu Destino é Pecar (1952) e Ravina (1959). Porém, o primeiro filme brasileiro a assumir-se como terror foi o clássico À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), escrito, dirigido e protagonizado por José Mojica Marins, lançando o personagem Zé do Caixão, figura onipresente em toda a história do gênero no país desde então.

Mas o horror vai muito além do cruel agente funerário de Mojica: o gênero se mostrou presente no cinema experimental do final dos anos sessenta, nas pornochanchadas dos anos setenta e oitenta, e ganhou sangue novo na Retomada, quando o cinema brasileiro passou a dialogar mais abertamente com os gêneros comerciais e buscou uma renovação estética e formal. O advento das câmeras digitais e o fim da película democratizaram o cinema e baratearam os custos de produção, possibilitando o surgimento de uma geração de jovens realizadores cheios de ideias aterrorizantes na cabeça e um anseio incontrolável de fazer o sangue jorrar. A seleção a seguir é um breve panorama de treze filmes brasileiros essenciais para quem quiser conhecer a fascinante trajetória do horror em nossas telas.

1. À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA (1964), de José Mojica Marins
O maior clássico do horror brasileiro marca o início da saga do agente funerário Zé do Caixão, que espalha o terror em busca da mulher ideal que lhe dará o filho perfeito, sua única crença da continuidade do sangue. Ímpio, blasfemo, agressivo, destemido, primitivo, genial: Mojica mostrou a que veio, popularizou o horror e se uniu aos cineastas Ozualdo R. Candeias e Luís Sérgio Person em Trilogia de Terror, de 1968.

2. BARÃO OLAVO, O HORRÍVEL (1970), de Julio Bressane 
A repercussão imediata do horror de Mojica foi na obra do pessoal do cinema experimental carioca, que subverteu e reinventou as regras e clichês do horror em estética de Nouvelle Vague e espírito de Tropicália. Julio Bressane talvez seja o mais representativo, mas seus colegas Rogério Sganzerla, com Copacabana Mon Amour, e Elyseu Visconti Cavalleiro, com Os Monstros de Babaloo, também são essenciais.

3. ENIGMA PARA DEMÔNIOS (1975), de Carlos Hugo Christensen
Cineasta argentino radicado no Brasil desde a década de cinquenta, Christensen esbanja apuro técnico neste e em outro exemplar de terror barroco: A Mulher do Desejo (A Casa das Sombras), de 1977. Ambos filmados em Ouro Preto, em Minas Gerais, aproveitam a arquitetura histórica da cidade para narrar histórias envolvendo possessões demoníacas, rituais de magia negra, flores amaldiçoadas e mansões sombrias.

4. EXCITAÇÃO (1977), de Jean Garrett
A Boca do Lixo paulistana foi de onde saíram os mais representativos exemplares do cinema de gênero brasileiro; filmes populares e assumidamente derivativos de modelos estrangeiros: faroeste, policial, ação, terror. O português Jean Garrett talvez tenha sido o mais sofisticado dos diretores dessa geração: sua abordagem do sobrenatural e do fantástico renderam filmes indispensáveis como Excitação e A Força dos Sentidos, de 1980.

5. AS FILHAS DO FOGO (1979), de Walter Hugo Khouri
O paulista Walter Hugo Khouri é conhecido pela preocupação existencial de seus personagens; em geral seu cinema é considerado de um erotismo elegante, mas Khouri também se aventurou pelo horror, como nesta mórbida história de fantasmas, na qual vozes e aparições do passado aterrorizam duas moças que estão sozinhas num casarão no campo. Khouri dirigiu também o melancólico e perturbador O Anjo da Noite, de 1974.

6. O PASTELEIRO [AQUI, TARADOS] (1981), de David Cardoso
É novamente na Boca do Lixo que vamos buscar o exemplo mais impressionante de cinema de horror extremo feito no Brasil, no episódio O Pasteleiro, dirigido por David Cardoso para o longa erótico Aqui Tarados, com roteiro de Ody Fraga e atuações memoráveis de John Doo e Alvamar Taddei. Um conto de horror onde estupro, sodomia, necrofilia e canibalismo se combinam com sexo doentio, humor negro e esquartejamento explícito.

7. AS SETE VAMPIRAS (1986), de Ivan Cardoso
O carioca Ivan Cardoso resgatou o deboche das chanchadas, combinou com os filmes baratos de monstros da Universal e Hammer e o visual cafona dos seriados de aventura, temperou com marchinhas de carnaval e erotismo e criou o “terrir”, o terror com riso. Sua parceria com o roteirista Rubens Francisco Lucchetti rendeu filmes adoráveis e hilários. Ivan também dirigiu o vampiro tropicalista Nosferatu no Brasil, em 1971.

8. RITUAL MACABRO / THE RITUAL OF DEATH (1991), de Fauzi Mansur
Fauzi Mansur é um dos cineastas que mais se aventurou pelo horror no Brasil, flertando tanto com o humor negro inconsequente quanto o terror “kardecista” mais pesado. No final da década de oitenta e início de noventa, com a falência do cinema comercial brasileiro, Fauzi realizou dois exemplares de horror sanguinolento para lançar no mercado exterior, ambos falados em inglês: Satanic Attraction (1989) e The Ritual of Death (1991).

9. O XANGÔ DE BAKER STREET (2001), de Miguel Faria Jr.
O cinema da Retomada buscou uma aproximação maior da estética do cinema comercial da época, com mais formalidade técnica e diretores vindo da publicidade. Este longa-metragem coproduzido por Brasil e Portugal combina comédia e cenas de horror numa adaptação do livro de Jô Soares, sobre uma hipotética passagem do assassino em série Jack, o Estripador pelo nosso país, investigado pelo detetive particular Sherlock Holmes.

10. AMOR SÓ DE MÃE (2002), de Dennison Ramalho
Este curta-metragem de vinte minutos é o mais impressionante exemplar do horror nacional recente. Ao traduzir para o universo do terror satânico a popular canção “Coração Materno”, de Vicente Celestino, o diretor Dennison Ramalho concebe imagens de enorme impacto, elevando o patamar do gênero ao mesmo tempo que reverencia seu padrinho artístico José Mojica Marins, de quem compartilha a protagonista, a sempre intensa Débora Muniz.

11. ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO (2008), de José Mojica Marins
Mais de quarenta anos se passaram desde o segundo capítulo da saga de Zé do Caixão, com Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, de 1967, quando Mojica pôde voltar às telas com a conclusão de sua trilogia. Colocado em liberdade depois de décadas encarcerado, Zé do Caixão encontra uma cidade tomada pelo caos, pela violência, pela corrupção e pelo autoritarismo. Um filme-testamento que transpôs Zé do Caixão para o novo milênio.

12. MANGUE NEGRO (2008), de Rodrigo Aragão
O capixaba Rodrigo Aragão, apaixonado por monstros e efeitos especiais, rompeu a barreira do cinema independente ao colocar em prática seu estilo exagerado que combina humor, nojeira e banhos de sangue. Mangue Negro é o primeiro épico de zumbis feito no país e mostrou ao resto do mundo a produção brasileira feita com empenho, determinação e pouco dinheiro. A saga prosseguiu com Mar Negro, de 2013.

13. QUANDO EU ERA VIVO (2014), de Marco Dutra
Este talvez tenha sido o primeiro longa-metragem da safra recente a ser aceito naturalmente por público e crítica – ambos pouco acostumados com o conceito de gênero no cinema nacional – como um indício de que é viável se fazer filme de terror no Brasil. Marco Dutra – muitas vezes em parceria com Juliana Rojas, como em Trabalhar Cansa, de 2011 – combina de maneira habilidosa situações dramáticas, crítica social e momentos apavorantes.

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