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Das ruas do Brooklyn: dança como mudança social

Flexn, projeto do diretor americano Peter Sellars com o coreógrafo Reggie Gray, discute assuntos como a violência policial e o racismo

Com coreografias realizadas a partir do Flex - estilo de dança de rua, surgida na Jamaica no anos 90, que explora contorções, deslizes e pausas – e com elenco todo oriundo de zonas suburbanas (áreas com maiores índices de violência), espetáculo Flexn faz sua estreia no Brasil, em apresentações no Sesc Vila Mariana.

Criado na efervescência de movimentos como Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em tradução livre), o trabalho coloca em cena questões políticas como violência, empoderamento e outros assuntos que dizem respeito à comunidade negra, como os casos de Michael Brown e Eric Garner, mortos durante abordagens policiais. Inspirado pelos movimentos de direitos civis dos quais alguns dançarinos do espetáculo são ativistas, a obra estreou nos EUA em 2015, no centro cultural Park Avenue Armory, em Nova York e, a partir dali, ampliou a discussão sobre a segurança pública e racismo.

Flexn é fruto da parceria do diretor Peter Sellars e de Reggie (Regg Roc) Gray, pioneiro no estilo de dança Flex. A coreografia faz ressoar estalos e leva à contorções que parecem “dobrar” os corpos - por conta da dificuldade de execução, um dos movimentos foi nomeado “ossos quebrados”; já as pausas, explicitam a sequência de manobras.
A plasticidade dos movimentos possibilita ao corpo de bailarinos novos contornos, que são responsáveis por contar as histórias de violência, luta, amor e justiça. A cenografia, assinada pelo artista Ben Zamora, traz esculturas de luzes que tomam o cenário e ditam os ritmos dos movimentos dos bailarinos, auxiliando na imersão do público por meio dessa atmosfera.

Workshops

Reggie (Regg Roc) Gray e dançarinos do espetáculo conduzem três workshops, que são responsáveis por colocar o público em contato com a história do Flex e outros estilos de dança - como o Bruk-Up e Dancehall. Nas atividades, que abrem a discussão de como a dança pode ser usada para a mudança social, os participantes criarão coreografias, em duplas ou individualmente, de sub estilos do Flex como Pauzin, Connecting, Get Low/Floor, Bone-Breaking, Hat Tricks, e Gliding.

A direção: Peter Sellars é um diretor reconhecido por se aventurar nas áreas do cinema, teatro e dança. Suas criações se enveredam na reinterpretação de obras clássicas como pano de fundo a fim de discutir temas contemporâneos. Colaborou com o compositor John Adams (Nixon in China), com a escritora ganhadora do Prêmio Nobel Toni Morrison (Desdêmona) e foi diretor do festival New Crowned Hope, evento que reuniu artistas de diversas linguagens para criarem trabalhos inéditos em homenagem aos 250 anos de nascimento de Mozart.

O pioneiro: Reggie Gray nasceu no Brooklyn (NY) e é um dos expoentes da dança Flex. Nos últimos anos coreografou esta que vem a ser sua maior produção, Flexn, no Park Avenue Armory, com a qual excursionou para o Brisbane Festival na Austrália, o Festival de Marseille na França, o Napoli Teatro Festival na Itália, o Hacob’s Pillow Dance Festival em Berkshires, Massachusetts entre outros. Gray ganhou vários títulos de dança, dançou em videoclipes, programas de televisão e competições, é especialista em pauzin, um estilo de Flex animado que ele desenvolveu no início de sua carreira. 

Entrevista: Reggie Gray

A cenografia: A escultura de luz que faz às vezes de cenário são assinadas pelo artista plástico Ben Zamora. Nos últimos anos, desenvolveu trabalhos que buscam criar um diálogo entre o espectador e seu ambiente; suas obras exploram elementos naturais primários como o fogo, água e a terra e transitam entre a arte performática e a instalação. Seus projetos já foram expostos em espaços como o Lincoln Center for Performing Arts em Nova York, no Mariinsky Theater na Rússia, no Donau Festival na Áustria e colaborou com artistas como Bill Viola e Gronk.

A dança: Flex se desenvolveu na década de 1990 a partir do programa de TV a cabo Flex N Brooklyn, o estilo é uma forma de dança de rua que evoluiu do bruk-up jamaicano encontrados em salas de dança e clubes de Reggae no Brooklyn. Se ramificou em alguns sub estilos, sendo os principais o pauzin, Gliding e Bone-Breaking. O primeiro é especialidade do Reggie e se caracteriza por movimentos pausados que podem se tornar mais difíceis a cada parada ou podem ser realizados de uma forma mais leve, ritmados por uma batida mais suave. Gliding se baseia no conceito e na ilusão de air-walking, ou seja, deslizar e flutuar usando diferentes padrões de posicionamentos dos pés, movimentos corporais e gestos de mãos. Já o Bone-Breaking é um estilo que poderia ser livremente traduzido como “quebra-osso”, caracteriza-se pelos estalos e por posições que exigem bastante flexibilidade dos bailarinos.

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>> a curta temporada acontece no Teatro Antunes Filho, no Sesc Vila Mariana, entre os dias 17 e 20 de outubro. Para todos os detalhes, clique aqui.