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Para além dos muros do ateliê
No final de sua vida, no início do século XVI, o florentino Leonardo Da Vinci foi convidado por um aristocrata para residir no Vale do Loire, no sul da França. O objetivo era que ele criasse livremente. Cerca de três séculos mais tarde, o holandês Van Gogh alugou uma casa em Arles, também na França para que o pintor Paul Gauguin e ele pudessem trabalhar juntos por alguns meses.
Alguns pesquisadores acreditam que o conceito de residência artística nasceu quando a Academia Real de Pintura e Escultura de Paris começou a recompensar alunos de destaque com um tempo de permanência em Roma, em 1664. Mesmo que a data e local ainda sejam discutidas pelos especialistas, o fato é que o ato de criar artisticamente e de se deslocar por diferentes territórios aparecerem sobrepostos e os exemplos se multiplicam na história da arte.
Se nos primórdios o termo residência artística era amplamente relacionado a artistas que fixavam moradia em cidades estrangeiras para produzir suas obras, hoje, o conceito é pensando de forma mais ampla. Em linhas gerais, uma residência artística propõem que o artista disponha de espaço e tempo diferentes do que tem habitualmente para se dedicar ao seu trabalho. Dessa forma, deslocando-o do local costumeiro para inseri-lo em outro contexto.
Dentro dessa perspectiva ampliada, a mudança de ares pode acontecer dentro da própria cidade de São Paulo, em que regiões tão próximas podem apresentar realidades muito diversas. É o caso da Residência Leste, projeto que desde 2015 recebe artistas para um programa de residência no Espaço de Tecnologias e Artes do Sesc Itaquera.
O propósito é similar ao de uma residência convencional: criar um espaço em que o artista possa pensar sua própria arte e cria-la em suas múltiplas possibilidades em contato com o novo e o diferente, adicionando a interação, experimentação e compartilhamento com os visitantes da unidade.
Desde a criação, 11 artistas de linguagens diversas já passaram pela Residência Leste, que têm duração de um mês com dois encontros semanais. Cada um deles é convidado a elaborar uma obra e todo o processo de criação é aberto ao público.
Em 2019, pela primeira vez, três artistas participarão concomitantemente do projeto. De 2 a 30 de outubro, nas quarta e sábados, Juliana Bittencourt (fotografia/ instalação/ artes visuais), Rodrigo Motta (artes visuais/literatura) e Márcio Vasconcelos (audiovisual/performance) irão criar suas obras. O processo será registrado pelo documentarista Caetano Biasi. Os resultados desse processo ficarão em exposição no Espaço de Tecnologias e Artes.