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Projetos esportivos mudam vidas de jovens com deficiência
Por Cleber Arruda, da Agência Mural*
Os estudantes Gabriel Lima de Azevedo e Matheus Figueiredo da França são cadeirantes atletas do time de basquete Magic Junior e treinam com um sonho em comum: entrar para a Seleção Brasileira. Na quadra, jogam em posições diferentes, Azevedo é armador e ala; França é pivô, e na equipe é considerado um cestinha.
Gabriel tem 15 anos e mora em Ermelino Matarazzo, bairro da zona leste da capital paulista. Antes do basquete, treinava capoeira e natação, mas conta que sempre teve vontade de praticar um esporte com bolas. Quando conheceu o basquete em uma feira, precisou convencer sua mãe. “Ela questionou e eu não sabia nem o que era basquete direito. Achei que era só diversão. Agora estou dando o meu máximo para chegar à Seleção Brasileira”, diz.
Gabriel Lima de Azevedo, durante treino de basquete com a equipe Magic Junior, da Associação Desportiva para Deficientes (ADD). Foto: Léu Britto/Agência Mural
Com os treinos, há dois anos e meio, já diz sentir evoluções no esporte e na vida pessoal. “Antes, na minha antiga cadeira, eu nem sabia descer degraus e escadas rolantes, agora me sinto muito mais independente e competi várias vezes”.
Já Matheus tem 16 anos e mora em Itaquera, na zona leste também, onde reclama da acessibilidade. “As calçadas são monstras, muito ruins e caio direto”. Ele joga basquete há pelo menos dez anos e já perdeu as contas dos números da sua carreira. “Já participei de mais de dez competições e fui medalhista umas cinco vezes. O treino é bem corrido para as competições”, conta. Atualmente, treina quatro vezes por semana com o objetivo de crescer no esporte. “Quero chegar à Seleção, é a minha esperança. Sei que isso exige muita dedicação e esforço, mas tem que ter sorte também para passar nos testes. Estou evoluindo muito”.
Gabriel e Matheus participam da ADD (Associação Desportiva para Deficientes), fundada há 23 anos, que desenvolve projetos para facilitar o processo de integração e inclusão das pessoas com deficiência na sociedade, por meio de práticas esportivas adaptadas.
Equipe dos Magic Junior recebe instruções e treina em quadra do Centro Paralímpico Brasileiro. Foto: Léu Britto/Agência Mural
Segundo Eliane Miada, presidente fundadora da ADD, na trajetória da Associação já foram atendidas mais de 13.200 pessoas, entre crianças, adolescentes e atletas. Atualmente, são desenvolvidos dois grandes programas: um para esportes de alto rendimento, com modalidades que visam a participação em competições e enfoque no rendimento dos atletas; o outro projeto, cuja a ADD foi pioneira no Brasil, é voltado para atender crianças no esporte. O programa de iniciação ao esporte adaptado tem capacidade para atender 120 crianças e adolescentes, a partir dos 6 anos, de todas as regiões de São Paulo.
“Participar da Semana Move é uma oportunidade para as pessoas que conhecem alguém com alguma deficiência conheçam e busquem outras atividades adaptadas”, diz Eliane Miada, presidente e fundadora da ADD. Foto: Léu Britto/Agência Mural
Eliane, que está desde o início da associação, tem um envolvimento pessoal com o projeto. “A ideia era ficar dois anos e me apaixonei. Passei de um universo desconhecido para um apaixonante. Inclusive, conheci uma das crianças, que entrou na ADD com quatro anos, e acabei o adotando. Hoje, ele tem 19. Então mudou não só minha vida profissional, mas toda minha vida afetiva”, diz.
Todos os projetos são gratuitos para os beneficiados e mantidos por meio de doações, parcerias e patrocínios. Há também os apoiadores que cedem espaços físicos para as atividades, como o Sesc São Paulo.
Thiago Carrara, educador físico da ADD, que treina os jovens do time Magic Junior. Foto: Léu Britto/Agência Mural
Thiago Carrara, educador físico da ADD, que treina os jovens da Magic Junior, fala da importância do projeto. “Por mais que eu tenha 20 anos no esporte, há um ano e meio mais ou menos vim trabalhar com o basquete de cadeira de rodas e todos os dias me surpreendo. Não é simples para eles estarem aqui, até pela questão de locomoção, e esse material que eles trabalham para praticar a modalidade é muito específico, caro e exige muita manutenção. Mesmo assim, eles estão numa constante crescente de melhoras”, conta.
Mas não é só no Magic Junior que há jovens sonhando com a seleção. O cadeirante Luís Henrique Ribeiro dos Santos, de 23 anos, mora em Guaianases, na zona leste, e está na ADD desde seus 14 anos. Começou no basquete e atualmente joga bocha. Há pelo menos três anos participa de competições do esporte.
Luís Henrique Ribeiro dos Santos, que joga bocha na ADD e sonha entrar para seleção. Foto: Léu Britto/Agência Mural
Luís Henrique conta como sua vida mudou por meio das práticas esportivas. “Com o projeto veio minha independência, não saía sozinho e hoje já ando essa cidade inteira. Não tinha muitas experiências para compartilhar. Aqui, desenvolvi facilidade de falar com as pessoas, porque eu era muito tímido”, conta o jovem que almeja uma vaga na seleção. “Minha expectativa é melhorar sempre, chegar no alto rendimento. Quem sabe uma vaga na Seleção? Estamos aí para isso”, afirma.
A ADD é uma das parceiras da Semana Move e tem ações programadas no Sesc Belenzinho e Sesc Guarulhos. Para Eliane, a participação no evento dá visibilidade para que o público conheça esses trabalhos de inclusão nos esportes. “É sempre fantástico, porque há essa oportunidade para que as pessoas que conhecem alguém com alguma deficiência busquem outras atividades adaptadas. Nós mesmos obtivemos muitos alunos que conheceram a ADD por meio das atividades e quiseram participar”, diz.
Time Magic Junior durante treino no Centro Paralímpico Brasileiro (CPD). Foto: Léu Britto/Agência Mural
O professor Thiago fala sobre a importância da Semana Move. “Eu que trabalhava no basquete convencional conhecia muito pouco do esporte com cadeira de rodas. E este é só um exemplo. Por isso, é importante essa semana para o conhecimento e massificação de qualquer modalidade ou evento esportivo”, ressalta.
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*Série de reportagens produzida pela Agência Mural de Jornalismo das Periferias, que tem como missão minimizar as lacunas de informação e contribuir para a desconstrução de estereótipos sobre as periferias da Grande São Paulo.
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