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O Samba Pede Passagem
Marco cultural e histórico da nação, talvez a mais rica tradição musical popular do país, ritmo que acompanhou a própria gestação do Brasil moderno, desde os grandes nomes dos anos 30 e 40 até a difusão midiática da atualidade – o samba é um patrimônio, uma cultura, uma paixão.
Por isso, o Sesc Osasco lança neste mês de janeiro o programa “O Samba Pede Passagem”, uma série de espetáculos mensais, com grandes sambistas, em shows conduzidos e apresentados pelo radialista Moisés da Rocha, titular do homônimo programa da rádio USP FM e uma das figuras mais conhecidas do circuito do samba em São Paulo. Premiado pela APCA (Associação Paulista de Críticos
de Arte) o programa de rádio O SAMBA PEDE PASSAGEM é dedicado a preservar as raízes culturais afro-brasileiras, seus personagens e suas criações musicais, divulgando talentos do passado, sem esquecer dos contemporâneos. Da mesma forma, o projeto quer ser uma oportunidade de animação musical, de educação cultural e de resgate histórico.
No palco do Sesc Osasco vão desfilar os músicos, compositores e cantores que fazem o samba de hoje e resgatam o samba de ontem e de sempre. Abrimos a programação este mês com o músico, compositor e cantor Dudu Nobre, que chega à plenitude da carreira aos 40 anos – firme na raiz do samba e sem medo do novo.
Em entrevista, o músico conta um pouco de sua história desde cedo com o samba. “Minha mãe foi precursora do movimento do samba no Rio de Janeiro, numa época em que a cidade tinha umas dez escolas. Todo mundo ia lá em casa” – lembra o sambista – “a Beth Carvalho, a Alcione, todo o pessoal da música, do samba”. O cavaquinho, que ele ganhou da mãe, virou o instrumento “do coração”. E a carreira, claro, começou cedo. “Comecei a ter contato com toda aquela turma e num determinado momento Osmar Valença (presidente de uma das mais importantes escolas de samba cariocas, a Acadêmicos do Salgueiro, entre 1978 e 1981) montou a Escola de Samba Mirim, e começaram a perguntar de algum menino para cantar e fazer os sambas e todo mundo falava: “Dudu, Dudu”... daí fui convidado e com 9 anos de idade fiz o primeiro samba da Escola Mirim que depois virou Aprendiz da Salgueiro e comecei a trabalhar com música com dez anos...”.
Nos oito anos seguintes aquele aprendiz de sambista compôs sete sambas-enredo para cinco escolas mirins. Paralelo a isso, foi pela primeira vez para a Europa, entre os 12 e os 13 anos, com os pais, que tinham encontrado uma oportunidade de trabalho lá, nos difíceis tempos do Plano Cruzado. E no Velho Mundo, Dudu também deu início a uma carreira ascendente, “a primeira vez que eu fui para lá trabalhei com a Companhia Brasiliana, depois mais uma vez com a Mocidade Independente, entre os 15 e 16 anos, e quando voltei para cá comecei a trabalhar como músico, com o Almir Guineto, e com 17 anos com o Pedrinho da Flor e com o Dicró, aí com 19 entrei na banda do Zeca Pagodinho, com 20 anos comecei a ser gravado como compositor, e com 26 lancei meu primeiro CD como cantor e compositor”. De lá para cá Dudu Nobre lançou 13 discos, 3 DVDs, teve mais de 150 músicas gravadas, e no Carnaval carioca de 2014 venceu a disputa pelos sambas-enredo de duas escolas: o da Unidos de Viradouro (em parceria com Zé Glória, Diego Tavares, Paulo Oliveira, Dílson Marimba e Junior Fragga) e o da sua “escola do coração”, a Mocidade Independente de Padre Miguel (em parceria com Diego Nicolau, Marquinho Índio, Jefinho Rodrigues, Jorginho Madeiros e Gabriel Teixeira).
O samba-enredo é paixão para Dudu Nobre, mas ele também fez muito sucesso com o partido alto e os sambas românticos, onde também brilharam alguns dos músicos que ele mais admira: “o Almir Guineto teve uma carreira parecida com a minha, porque eu também sou um músico, e o músico puxou o compositor, e o compositor puxou o cantor... E trabalhei com alguns dos melhores, como o Guineto, que acompanhei até os 16, ele é um dos grandes gênios do samba, um grande compositor. Tem o Candeia, um cara que agregava muito. Eu conheci muita gente, o Nelson Cavaquinho, a Clementina de Jesus, mas queria ter conhecido o Candeia, sinto que eu teria gostado muito dele. O Martinho da Vila, na minha infância e juventude, me influenciou demais”. Para o padrinho Zeca Pagodinho, o afilhado reserva elogios especiais e conta até um caso verídico, “o Zeca é um compositor excepcional. Eu já trabalhei com letristas geniais como Aldir Blanc e Nei Lopes, mas na hora de fazer a letra é impressionante como flui a poesia no Zeca. Quando vamos fazer música juntos às vezes eu até cronometro: um dos sambas que fizemos juntos, “Quem é Ela”, levou 14 minutos para ser feito!”.
A abertura do projeto “O Samba Pede Passagem” não é só Dudu Nobre. Ele é acompanhado por uma banda de 10 músicos e quatro passistas do Carnaval carioca. Como mestre de cerimônia do show, Moisés da Rocha, com seu estilo radiofônico, vai falar das canções, da alegria do samba, dos encantos do mais popular ritmo brasileiro. A tenda de eventos do Sesc Osasco recebeu uma cenografia especial criada para o show, em cores quentes, que evocam o clima do carnaval e do samba, com desenhos ampliados de passistas, ritmistas e casais em gafieiras. O espaço na frente do palco estará desimpedido para deixar à vontade quem quiser sambar.
A seguir, você pode conferir uma entrevista com o radialista e pesquisador Moisés da Rocha que estará conosco no programa. Ele fala sobre sua história e ligação com o samba, o programa na Rádio USP e como será a apresentação dos shows.