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Memória cinematográfica

por Carlos Wendel de Magalhães

O diretor-executivo da Cinemateca Brasileira, Carlos Wendel de Magalhães, conversou com o conselho editorial da Revista E sobre a importância da preservação do patrimônio cinematográfico do País. A seguir, trechos da conversa.

Patrimônio da cultura nacional
A Cinemateca Brasileira tornou-se uma instituição em 1984, quando foi incorporada ao que era a Fundação Nacional Pró-Memória, do então Ministério da Educação e Cultura. Hoje, depois de várias transformações, a Cinemateca é uma unidade autônoma vinculada ao Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico (Inpha). Ela é responsável pela guarda e conservação de um importantíssimo acervo de imagens em movimento brasileiras.
O foco do nosso trabalho é a produção nacional. Nosso acervo é composto de algumas peças que são de nossa propriedade e de outras que vêm de depósitos efetuados pelos detentores dos direitos dessa produção - o que representa a grande maioria. O que torna as coisas um pouco diferentes do que acontece num museu, por exemplo, no que concerne à relação com o acervo. O trabalho com nossas peças está muito ligado ao uso delas para difusão. Na verdade, esse é o grande objetivo da Cinemateca: difusão, estudo e pesquisa. Ou seja, disponibilização do acervo para atividades de difusão na própria instituição, muitas vezes em conjunto com outras. Recentemente, apresentamos um ciclo que foi resultado de uma parceria com o Instituto Goethe. O mesmo vale para mostras internacionais.
Obviamente, como todas as instituições públicas na área da cultura, nós não conseguiríamos executar talvez nem 10% do que já foi feito única e exclusivamente com os recursos destinados pelo Tesouro Nacional, no nosso caso. É mesmo uma cultura de buscar alternativas sem deixar de batalhar, cobrar e desejar que o Ministério da Cultura estabeleça, de fato, uma política de atuação cultural para as diversas áreas, não somente o cinema.

Alternativas
No campo das alternativas, o que a Cinemateca faz é buscar outras fontes de financiamento para as suas atividades. Seja em outros níveis de poder público - nós temos uma dotação pequena da Prefeitura do Município de São Paulo, além de, eventualmente, conseguirmos recursos do Estado, o que tem sido muito raro nos últimos 8 anos -, seja da iniciativa privada. Porém, o nosso esforço é, também, ficar atento ao risco que se corre, neste caso, de ter recursos que deveriam ser especificamente para projetos e que acabam sustentando uma parte das despesas de custeio. Isso é uma distorção séria e quem pensa o financiamento da cultura precisa estar atento a isso. O Estado não tem, nesse sentido, cumprido nem a sua obrigação básica de custeio de suas instituições. Mas, de qualquer maneira, a minha visão é que a gente tem de trabalhar com a conjuntura existente. É dessa forma que nossos objetivos se concretizam.

Novo fôlego
A Cinemateca está num momento muito interessante. Há cerca de dois anos foi inaugurado um arquivo de matrizes, projetado e construído especificamente para essa finalidade. Houve um trabalho bastante sério de recuperação de algumas matrizes que estavam em estado comprometido. E, principalmente, a Cinemateca conseguiu com essa obra, que foi muito importante, estabilizar processos. As matrizes pelas quais nós somos responsáveis, não estando em condições ideais de guarda e conservação, se deterioram numa velocidade preocupante. E, a partir de determinado momento, essa velocidade aumenta ainda mais, ou seja, isso é exponencial de certa maneira, e a gente pode simplesmente perder esse material. Os custos de recuperação de um material em deterioração são muito altos. Como quase tudo na vida, atitudes preventivas são, no fundo, economicamente mais vantajosas. Isso sem mencionar o ganho inestimável com a recuperação desses bens.
Além desse arquivo, no início de setembro nós tivemos o prazer de inaugurar um centro de documentação e pesquisa, onde funciona também nossa biblioteca, a Paulo Emílio Sales Gomes, em condições bastante favoráveis, numa edificação projetada especificamente para esse fim, com excelência de mobiliário, equipamento e condições de guarda dos livros, documentos e arquivos especiais que compõem o acervo. Como se trata da biblioteca pessoal de Paulo Emílio Sales Gomes, que foi um dos fundadores da Cinemateca Brasileira, ela reúne um acervo um pouco mais amplo, com livros de Filosofia, Ciências Sociais etc., o que dá um panorama da sua própria formação. Mas vale ressaltar que nosso foco é o cinema brasileiro. Temos livros, periódicos e alguns arquivos especiais doados à Cinemateca, neste caso com documentos pessoais, cartas e coisas diversas.
O sistema de visitação desse acervo também mudou. Antes era possível consultar apenas uma parte dele, mas ainda assim com hora marcada. Agora nós estamos como se deve estar em se tratando de uma instituição pública: abertos regularmente, de segunda a sexta, das 9h às 13h. Fora desse expediente, a gente continua atendendo sob marcações específicas para pesquisadores. Porém, pretende-se que, assim que possível, esses horários sejam ampliados.