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Os caminhos da ginecologia natural
Autoconhecimento é a palavra-chave da ginecologia natural. Mais do que uma prática, trata-se de um movimento, nascido na América Latina, que resgata métodos tradicionais de cuidados da saúde íntima da mulher. No Sesc 24 de Maio, uma série de quatro encontros realizados a partir de março, sob mediação da Coletiva Caminho Natural, visa promover o contato entre as participantes e esses conhecimentos.
A história da ginecologia natural remonta à história da humanidade. Até 3.500 a.C., a sociedade tinha como base a agricultura e tudo se relacionava diretamente a ciclos da natureza, como as fases da lua e as estações do ano. Com isso, os povos ancestrais passaram a administrar o cultivo da terra a partir desses fenômenos, a fim de garantir a sobrevivência da espécie. Dessa relação, notaram aproximações e semelhanças entre os elementos naturais e o corpo humano: assim como o solo, quando semeado, germinava e dava origem a uma nova vida, o mesmo acontecia com o corpo da mulher.
Algumas sociedades pré-históricas chegaram a flertar com a ideia de matriarcado, ou tiveram mulheres entre seus líderes, em razão do encantamento causado pelo ciclo menstrual e pela capacidade de engravidar. Mas o endeusamento das mulheres não passou de crença, e se dissipou por completo quando características como força, rapidez e sangue-frio sobrepujaram a intuição e a capacidade de contemplação e observação dos povos agricultores.
Apesar disso, o cuidado com o corpo feminino por meio de infusões, banhos, unguentos e uso de recursos naturais para tratamento de doenças continuou bastante popular até meados do século XVIII. A partir daí, tornou-se “maldito” por conta da perseguição religiosa às mulheres que dominavam a arte da botânica e sua associação direta com a bruxaria, além da resistência a qualquer método de cura que não fosse científico, difundida pelo Iluminismo.
O mistério do sagrado feminino, no entanto, permanece no inconsciente coletivo, e ganhou força e espaço nas questões pautadas por algumas frentes do feminismo contemporâneo. Partindo do pressuposto de que o útero é o ‘coração’ do corpo feminino, responsável por emanar e receber as emoções vivenciadas e suas consequências, a ginecologia natural expressa, em sua nomenclatura, a premissa básica de sua prática: quebrar paradigmas estabelecidos pela medicina moderna sobre o corpo, as doenças e o ciclo menstrual das mulheres a partir da construção, ou melhor, retomada, de um processo de autoconhecimento e cuidado, na contramão de tratamentos caros, procedimentos invasivos e com efeitos colaterais.
Na oficina Autocuidados em Ginecologia Natural (10/3, domingo, às 13h), serão tratados temas ligados ao autoconhecimento do corpo da mulher como a fisiologia do aparelho feminino, ecologia feminina, higiene íntima, prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTS), etc. Já a oficina Uso Caseiro de Ervas para a Saúde da Mulher (31/3, domingo, às 10h) abordará a utilização e o preparo caseiro de ervas, óleos essenciais, argila e banhos de assento. As duas atividades integram a série de encontros Autocuidados e Saberes para Saúde da Mulher - Cuidando de nossos corpos, mentes e da Mãe Terra e a programação vai até abril, com entrada gratuita.