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O Tempo Mata - Nova exposição no Sesc Avenida Paulista traz vídeos e filmes raros da Julia Stoschek Collection

Büsi - artista_Fischli & Weiss (2001, video, 6'’0'', sem som silent, cor color)
Büsi - artista_Fischli & Weiss (2001, video, 6'’0'', sem som silent, cor color)

A nova exposição "O Tempo Mata - Imagem em Movimento na Julia Stoschek Collection" no Sesc Avenida Paulista reúne raro conjunto de filmes e vídeos produzidos por nomes consagrados, entre os quais Douglas Gordon, Rachel Rose, Chris Burden, Monica Bonvicini e Jack Smith. Com curadoria de Rodrigo Moura e parceria com a Julia Stoschek Foundation, fica em cartaz de 21 de março a 16 de junho de 2019.

A exposição e a programação integrada de exibições reúnem trabalhos de 17 artistas, em filmes e vídeos, cobrindo mais de seis décadas de produção audiovisual, um panorama dos mais representativos desde que o suporte se insere como linguagem contundente no circuito da arte contemporânea. 

Temática dos vídeos

Raça, cultura visual, identidade de gênero, o papel de artistas na sociedade e a circulação de imagens nos meios de comunicação são os temas que percorrem os trabalhos. Desta última questão surgiu o título da exposição, “O Tempo Mata” (Time Kills), extraído de uma das frases veiculadas por Chris Burden (Boston, 1946 – Canyon, EUA, 2015), em um de seus vídeos que fazem parte de uma série de inserções comerciais criadas pelo artista e transmitidas em canais de televisão aberta, segundo ele para quebrar a hegemonia das emissoras e ao mesmo tempo fazer com que a arte alcançasse um público maior que o das instituições.

The TV Commercials 1973–1977, 1973–77/2000 [Os comerciais de TV 1973–1977] vídeo, cor, som, 3’48”
The TV Commercials 1973–1977, 1973–77/2000
[Os comerciais de TV 1973–1977] vídeo, cor, som, 3’48” - Chris Burden

O tempo mata

Como aponta o curador, trata-se de um truísmo, uma frase que declara uma verdade incontestável, o tempo mata simplesmente porque ele passa, e não há nada que possamos fazer em relação a isso, nem em relação à veracidade dessa frase. Ainda assim, ela serve para ativar outros sentidos no contexto da exposição. “Time-based art termo traduzido livremente aqui como ‘arte temporal’ são os trabalhos de arte produzidos em vídeo, filme, áudio ou tecnologias computadorizadas e que se apresentam ao espectador no tempo, tendo como dimensão principal a duração, e não o espaço”.

A autorrepresentação e a ficcionalização da vida aparecem em diversas obras e, segundo Moura, agem como possível fio condutor, unindo trabalhos da exposição, assim como a apropriação, a coleção e a montagem a partir de imagens de outras fontes. “Esses são dois possíveis enquadramentos temáticos que perpassam a mostra, servindo como polos conceituais úteis para navegá-la, mas que não esgotam as possibilidades de leitura das obras apresentadas e das relações entre elas”, ressalta.

A exposição

Na primeira parte da exposição, três salas do quinto andar apresentam três grandes instalações imersivas dos artistas Arthur Jafa (Tupelo, EUA, 1960 – vive em Los Angeles), Rachel Rose (Nova York, 1986 – vive em Nova York) e Monica Bonvicini (Veneza, 1965 – vive em Berlim). 

Arthur Jafa, segundo o curador, compõe uma colagem épica em torno da visualidade da cultura afro-estadunidense. O artista tem no cinema a origem de sua prática, já tendo colaborado como diretor de fotografia com os cineastas Spike Lee e Stanley Kubrick. Em APEX, 2013, compara a sua obra a um projeto utópico, relacionado ao Monumento a Terceira Internacional, de Tatlin, que nunca foi construído.

APEX, 2013 vídeo, cor, som, 8’12”, classificação indicativa: 16 anos
APEX, 2013 vídeo, cor, som, 8’12” - Arthur Jafa

Rachel Rose, artista que participou da 32ª Bienal Internacional de São Paulo, em Palisades in Palisades (Palisades em Palisades), 2014, visita seguidamente o parque Palisades, em Nova Jersey, fundado no século 19, como locação para o seu vídeo, onde desvela diferentes aspectos de sua história geológica e social.

Palisades in Palisades, 2014 [Palisades em Palisades] videoinstalação, cor, som, 10’29” - Rachel Rose
Palisades in Palisades, 2014 [Palisades em Palisades]
videoinstalação, cor, som, 10’29” - Rachel Rose

Monica Bonvicini cria uma dupla projeção coreografada que articula noções como gênero e nostalgia em Destroy She Said (Destruir, diz ela), 1998 cujo título se refere ao filme e ao livro homônimo da escritora francesa Marguerite Duras.

Destroy She Said, 1998 [Destruir, diz ela] videoinstalação em dois canais, cor e p&b, som, 60’ - Monica Bonivicini
Destroy She Said, 1998 [Destruir, diz ela]
videoinstalação em dois canais, cor e p&b, som, 60’ - Monica Bonivicini

Em torno desses espaços, nas áreas de circulação, outras obras estabelecem novas relações entre si. “Dois registros de performance dos anos 1970, de Eleanor Antin (Nova York, 1935 – vive em San Diego) e Hannah Wilke (Nova York, 1940 – Houston, 1993), ambos tendo a face das artistas como palco para acontecimentos complexos, são apresentados de frente um para o outro, num jogo de espelhamento”, explica Moura. Em The King (O Rei), 1972, Antin, tendo o feminismo como a sua principal interlocução, busca uma possível identidade masculina ao se transvestir usando uma barba, enquanto Wilke, em Gestures (Gestos), 1974, ao manipular seu próprio rosto, o transforma em matéria escultórica.

Em outras duas salas, artistas investigam o potencial de suas próprias imagens como fonte para a criação de suas obras. Em Lovely Andrea, (Amável Andrea), 2007, de Hito Steyerl (Munique, 1966 – vive em Berlim), obra comissionada pela documenta 12, o que parecia um ensaio autobiográfico, torna-se pretexto para uma série de associações inesperadas e abruptas entre imagens, dados e referências. Assim como Rachel Rose, Steyerl também participou da 32ª Bienal de São Paulo. Já Ryan Gander (Chester, 1976 – vive em Londres e Sufflolk) em seu Portrait of a Colour-Blind Artist Obscured by Flowers (Retrato de um artista daltônico obscurecido por flores), 2016, esconde atrás de aparente simplicidade um complexo jogo conceitual com a história da arte, o que envolve deslocá-la e repensá-la a partir de uma perspectiva lúdica e cáustica.

Por sua vez, as obras de Ulay (Solingen, Alemanha, 1943 - vive em Amsterdã) There is a Criminal Touch to Art, (Há um toque criminoso na arte), 1975–76, e de Lutz Bacher (vive em Nova York) James Dean, 1986 / 2014, tratam, respectivamente, de quadros roubados e fotografias apropriadas, dando novas conotações para ícones da história da arte e da cultura de massa.

6º andar

No sexto andar, o curador explica que as projeções de Douglas Gordon (Glasgow, Escócia, 1966 – Vive em Berlim) New Colour Empire (Novo Empire Cor), 2006–2010, e de Cyprien Gaillard (Paris, 1980 – vive em Berlim e Nova York), KOE, 2015, são apresentadas numa espécie de díptico, fazendo referência à paisagem de arquiteturas corporativas do entorno do edifício e revisitando o papel narcísico das imagens na construção dos ícones urbanos.

2º andar e Térreo

O vídeo Büsi, 2001, da dupla suíça Fischli & Weiss (Fischli, 1952, Weiss, 1946, ambos nascidos em Zurique) encerra as obras do circuito expositivo. Completam O Tempo Mata quatro exibições públicas no térreo (Praça). São apresentações comentadas por críticos e curadores de filmes assinados pelos norte-americanos Barbara Hammer, nascida na Califórnia em 1939, pioneira do cinema queer; Charles Atlas, que ao chegar a Nova York, em 1970, desenvolveu com Merce Cunningham nova linguagem em filmes de dança e performances; Dan Graham, notabilizado por obras marcantes em torno da função social da arquitetura; e Jack Smith, falecido em 1989, um dos pioneiros do cinema underground.

Programação Integrada

Como programação integrada à exposição, o Sesc Avenida Paulista também realizará o curso “História da Videoarte”, com o artista Luiz Roque, que terá início em abril, e, em maio, a diretora de cinema Fernanda Pessoa ministra curso prático “Arqueologia de Imagens”, sobre como construir narrativas visuais a partir de arquivos imagéticos.

Programação de exibições

Local: Praça (térreo), às 20h30

26/03
DAN GRAHAM
Sessão comentada por Tiago Mesquita, crítico de arte e pesquisador
Rock My Religion, 1982–84 [Rock minha religião]

23/04
CHARLES ATLAS
Sessão comentada por Luiz Roque, artista visual
Hail the New Puritan, 1985–86 [Salve o novo puritano]

28/05
BARBARA HAMMER
Sessão comentada por Fernanda Brenner, curadora

I Was / I Am, 1973 [Eu era / eu sou]
X, 1975
Double Strength, 1978 [Força dupla]
Sanctus, 1990

11/06
JACK SMITH
Sessão comentada por Patrícia Mourão, crítica, curadora e pesquisadora de cinema

Scotch Tape, 1959–1962 [Fita adesiva]
Jungle Island, 1967 [Ilha da Selva]
Overstimulated, 1959–1963 [Superestimulado]
Song for Rent, 1969 [Música para alugar]
Flaming Creatures, 1962–1963 [Criaturas flamejantes]
Hot Air Specialists, d. 1980 [Especialistas em ar quente]

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Sobre Julia Stoschek Foundation
Esta parceria com o Sesc São Paulo é a primeira da Julia Stoschek Foundation com outra instituição cuja exposição é formada exclusivamente por um recorte de seu acervo no Brasil. A coleção com mais de 850 obras de 255 artistas de todo o mundo está sediada em Dusseldorf, onde foi fundada em 2002, e em Berlim, desde 2007. Seu foco é reunir, conservar e exibir obras de arte baseadas no tempo: vídeo, cinema, instalações de imagens em movimento de canais simples e múltiplos, ambientes multimídia, performance, som e realidade virtual. Fotografia, escultura e pintura complementam esse enfoque da arte baseado no tempo.

As obras da coleção vêm sendo exibidas em grandes mostras individuais e coletivas e os espaços da Julia Stoschek Foundation em Düsseldorf e em Berlim são abertos ao público nos fins de semana e mediante hora marcada. Um amplo conjunto de programas públicos englobando itinerâncias, performances, projeções, palestras, publicações, encontros com artistas e oficinas, promove a interação entre visitantes e acadêmicos.

Sobre Rodrigo Moura - Curador
Rodrigo Moura é curador, editor e crítico de arte, ocupando atualmente o cargo de curador adjunto de arte brasileira no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP). Seus projetos recentes de exposições incluem Djanira: a memória de seu povo (MASP, 2019), Mauro Restiffe: Álbum (Pinacoteca do Estado, 2017), Quem tem medo de Teresinha Soares? (MASP, 2017) e Doubles, Dobros, Pliegues, Pares, Twins, Mitades (The Warehouse, Dallas, 2017). Atuou como curador e diretor do Instituto Inhotim (Minas Gerais, Brasil) entre 2004 e 2015.