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“A depressão é a maior causa de queda de produtividade no trabalho”
A menos de uma semana do Fórum Qualidade de Vida nas Organizações: Gestão de Saúde e Bem estar, que acontece no dia 19/4, das 9h45 às 17h, no Teatro do Sesc Pompeia, conversamos o professor Dr. Wagner F. Gattaz, um dos especialistas convidados. O presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e diretor geral da Gattaz Health & escreveu para a EOnline e deu um breve panorama sobre a saúde mental dos trabalhadores ao redor do mundo. Ele destaca o impacto que a depressão gera tanto na vida dos funcionários, quanto na economia da empresa – por causa da depressão, a produtividade dos funcionários diminui. Dessa forma, Gattaz afirma que a melhor via para se garantir o bem-estar do empregado e a produtividade da empresa é investir em programas de saúde mental.
O Fórum Qualidade de Vida nas Organizações: Gestão de Saúde e Bem estar é uma realização do programa de relacionamento com empresas do Sesc Pompeia. O evento busca possibilitar às organizações encontrarem novas ferramentas para melhorar as condições de trabalho, além de abrir um espaço para discutir quais ações podem ser realizadas pelas empresas com essa finalidade. Para fazer sua inscrição no encontro, clique aqui.
O Dr. Wagner F. Gattaz apresenta, às 11h, o case do programa de qualidade de vida do Hospital Sírio Libanês, ao lado de outros especialistas de hospitais da capital paulista. Confira a análise do professor:
A depressão é uma doença que se caracteriza por um período mínimo de duas semanas em que a pessoa se sente triste, melancólica ou “para baixo”, com sensações de aperto no peito (angústia), inquietação (ansiedade), desânimo e falta de energia. O indivíduo sente-se apático, perde a motivação, acha tudo sem prazer ou sem sentido, torna-se pessimista e preocupado. Tal estado afeta o organismo como um todo e compromete o sono, o apetite e a disposição física. O risco de adoecimento ao longo da vida é de 10% para homens e 15% para mulheres. Estamos, portanto, falando aqui de uma doença no sentido médico, provavelmente relacionada a uma alteração do metabolismo cerebral, e não de uma tristeza ou reação de luto ligadas diretamente a um fator desencadeante. Estudos epidemiológicos nos diferentes países e classes sociais, mostram que hoje no mundo cerca de 350 milhões de pessoas sofrem com uma depressão.
Além de intenso sofrimento para o indivíduo, a depressão é a maior causa de queda de produtividade no trabalho. É aqui interessante notar o achado de Maja Hansson, que perguntou para 300 pacientes deprimidos qual eles consideravam ser a causa de sua depressão; 33% deles responderam que a causa era o trabalho. O que observamos é que existe uma interação entre o trabalho e a depressão. O deprimido, devido aos sintomas de sua doença, como desânimo, falta de concentração e insegurança, passa a ter um rendimento menor em seu trabalho, o que causa uma frustração que agrava seu quadro depressivo.
A queda na produtividade gerada pela depressão tem um impacto na economia e na empresa. Só nos Estados Unidos a depressão gera anualmente custos diretos e indiretos que somam U$ 250 bilhões. O presenteísmo, que é a queda de produtividade no local de trabalho, é o responsável por 50% destes custos. Outras causas importantes são o absenteísmo, o aumento da rotatividade dos funcionários e o impacto da depressão nos custos do seguro saúde. O paciente deprimido que tenha, por exemplo, um diabetes ou uma doença cardiovascular, tem dificuldades para seguir corretamente as prescrições, tem uma tendência aumentada para o sobrepeso, não consegue fazer programas de atividade física ou seguir dietas recomendadas. Estes fatores agravam o prognóstico da doença orgânica, aumentando assim o custo de seu tratamento. Adicionalmente, a depressão causa queixas que muitas vezes se confundem com manifestações de doenças orgânicas, como dores musculares, esgotamento e enxaquecas, o que gera procedimentos diagnósticos (por exemplo exames de imagem ou de bioquímica), cujos custos vão se refletir no seguro saúde. Estudos mostram que a depressão quadruplica o custo do tratamento do diabetes, e aumenta em 4 a 6 mil dólares/ano o custo do tratamento de doenças cardiovasculares e mesmo do câncer.
Existe uma associação quase que óbvia entre depressão e qualidade de vida. Estudos internacionais das duas ultimas décadas indicam que a qualidade de vida piora com o aumento da gravidade dos sintomas depressivos, havendo portanto uma relação inversamente proporcional entre ambas.
Concluindo, a depressão é uma doença de alta prevalência, que causa um forte impacto na economia e na qualidade de vida, assim como um inigualável sofrimento para o indivíduo. Em face destes fatos, é surpreendente que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, globalmente a depressão é, de todas, a doença mais sub-diagnosticada, sendo que 45% de pessoas com depressão não tem um diagnóstico, e portanto não recebem um tratamento adequado. Obviamente isto ocorre também dentro das empresas, causando o sofrimento de seus funcionários e as perdas econômicas mencionadas acima. Diferentes estudos mostram que programas de saúde mental nas empresas, focando principalmente no diagnóstico da depressão, restituem em poucas semanas a saúde de seus funcionários e trazem, dentro de 12 meses, um retorno de 2 a 3 vezes o investido nestes programas. Com isso, podemos afirmar que programas de saúde mental aumentam a qualidade de vida e os lucros das empresas.