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Crepúsculo da Terra Guarani traz lendas indígenas em leituras performáticas

A atriz Maria Alice Vergueiro encena o espetáculo. Foto: Leekyung Kim.
A atriz Maria Alice Vergueiro encena o espetáculo. Foto: Leekyung Kim.

Entre os dias 21 e 24 de setembro, de quinta a domingo, o Sesc Pompeia recebe quatro noites de leituras performáticas do texto teatral ‘Crepúsculo da Terra Guarani’, escrito-construído pelo dramaturgo-encenador Francisco Carlos a partir do livro ‘Lendas de Criação e Destruição da Terra Como Fundamentos da Religião Apapocuva-Guarani’, do etnólogo alemão Curt Nimuendaju.

A EOnline conversou com Francisco para saber um pouco mais do projeto. Confira!

Mitologia poética X História documental

Tudo começou em 2013, na Residência Teatral realizada na SP-Escola de Teatro, em que o grupo apresentou uma revisão crítica da história bandeirante na cidade de São Paulo. “De lá para cá tenho acompanhado com mais frequência a realidade e a luta por direitos dos povos guarani, mas especialmente as aldeias do Jaraguá, estive lá algumas vezes em alguns momentos especiais”, diz Francisco, e completa “minha intenção era criar uma obra cênica que desse conta desse universo com tudo que ele comporta, inclusive as lutas por questões fundamentais, como a questão da terra”.

Apesar do texto já ter sido apresentado em duas ações cênicas em 2015, é a primeira vez que será apresentado no formato de leitura-performática, mais elaborado e com pontos de vista atualizados. “Ainda tem muita pesquisa, muita experimentação, tem um lado de mitologia poética dos guarani e tem um lado documental de história real desse povo, é um tema interminável”, explica. 

Passado e presente

O texto Crepúsculo na Terra Guarani foi baseado na primeira grande monografia etnológica sobre o povo guarani, o livro Lendas de Criação e Destruição da Terra Como Fundamentos da Religião Apapocuva-Guarani, de Curt Nimuendaju. O etnólogo alemão conviveu com os Apapocúvas Guarani de 1905 a 1913, e publicou o livro em 1914. Apesar disso, a publicação só foi traduzida para o português em 1987.

O texto, apesar de antigo, ainda tem muita relação com a conjuntura atual dos povos indígenas, “a tragédia que Nimuendaju presenciou em grande escala ainda é por nós-atuais presenciada”, acredita Francisco. “Os grandes livros sempre são atuais, eles são clássicos porque conseguem de algum modo ou de muitos modos, dizer coisas, gerar sensibilidades para cada época atual-sucessiva”. 

Forças-poéticas-cênicas

No último mês, o movimento “O Jaraguá é Guarani” tomou força em protestos na cidade após a decisão do governo federal de anular a demarcação de terras indígenas na região.

Para Francisco, os acontecimentos recentes são tão fortes e intensos que a reconstituição no teatro se torna quase impossível. “O que estou empenhado em fazer é criar forças-poéticas-cênicas que possam dar conta de acontecimentos tão fortes e a meu ver tão importantes, tão vitais, como esses do movimento ‘O Jaraguá é Guarani’ ”, diz. “Sinto que a melhor colaboração e a mais verdadeira que posso dar a esses acontecimentos é criar uma obra no teatro que possa reverberar e se somar a essas vozes Guarani de protesto, na dimensão poética (religiosa?) que elas sempre se colocaram”, completa. 

Ficha técnica do espetáculo:
Dramaturgia e encenação – Francisco Carlos
Elenco – Maria Alice Vergueiro, Guilherme Leme, Cristiano Karnas, Eros Valério, Begê Muniz e Leandro Berton
Direção de Arte – Clíssia Moraes
Direção de Produção – Carla Estefan
Desenho de Luz – Aline Santini
Desenho Sonoro – Ismael Sendenski
Cenografia - Julia Armentano e Maíra Benedetto
Assistente de Produção -  Tom Franco
Assessoria de Imprensa -  Ofício das Letras
Distribuição - Metropolitana Gestão Cultural
Foto - Leekyung Kim

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Sobre Francisco Carlos 

Dramaturgo e encenador amazonense radicado em São Paulo. Escreveu e dirigiu mais de quarenta espetáculos de sua autoria, além de shows, óperas, vídeos, performances, ações cênicas e atividades formativas. Desenvolveu trabalhos em São Paulo, Manaus, Belém, Brasília e Rio de Janeiro. Estudou filosofia na Universidade do Amazonas (UFAM) e aplica esses conhecimentos em processos de invenção de um teatro poético-mítico-filosófico-etnográfico.Entre 2009 e 2011, encenou na Mostra de Peças dos Fenômenos Urbanos Extremos, composta pelos espetáculos ‘Namorados da Catedral Bêbada’, ‘Românticos da Idade Mídia’ e ‘Banana Mecânica’ – trabalho pelo qual foi indicado ao Shell 2011 de Melhor Texto.

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