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"Eu estou aqui e não há nada a dizer..."
Bob Wilson traz ao palco do Sesc 24 de Maio o espetáculo “Conferência sobre Nada”. Baseado no texto homônimo de John Cage, a obra foi apresentada pela primeira vez em 2012, na Alemanha, por ocasião das comemorações do centenário do compositor estadunidense, considerado um dos mais influentes do século XX. “Escrito como uma partitura musical”, como pontuou Wilson, o texto carrega os silêncios e adágios tão característicos da obra de Cage, pioneiro da chamada música aleatória ou música de acaso, como ele próprio definiu.
Extremamente atual, o texto escrito por Cage em 1959, tem uma estrutura acústica, que lembra a cadência de provérbios zen-budistas e nos faz questionar sobre a necessidade da profusão de informações a que estamos cotidianamente expostos, assim como a obrigatoriedade de atribuir significado a tudo. Essa concepção radical permeia toda sua obra musical, cuja peça mais conhecida é 4’33’’, em que a execução prevê que os músicos fiquem em silêncio durante esse espaço de tempo, levando o espectador a perceber os sons a sua volta e até mesmo dentro de si.
Em entrevista para o documentário “Écoute”, de 1991, um ano antes de sua morte, Cage reafirma que o som que mais aprecia é o silêncio, "ainda que em Nova York, na 6° Avenida, o silêncio seja o som do tráfego dos carros", diz ele bem-humorado. Finaliza citando o filósofo Emmanuel Kant: “Há duas coisas que não precisam significar nada, uma é a música, a outra é o riso”, e complementa “não precisam significar nada para nos proporcionar um profundo prazer”.