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Avenida Atlântica em Piracicaba
O naipe de cordas do Quarteto Carlos Gomes sufocava o zumbido do silêncio vespertino na Catedral de Santo Antônio. Um sonoro pretexto para alguns passantes esticarem seu pescoço para o altar.
Já na passagem de som o conhecido violão de Guinga ganhou o mesmo tamanho da igreja e subiu pelos ares de um pé direito de mais de 20 metros, na Catedral de Santo Antônio em Piracicaba, Praça Central. Luz, som, voz, cordas e partituras eram pares para dança de olhares e ouvidos do maestro Paulo Aragão, arranjador e diretor musical do álbum Avenida Atlântica, lançamento recente do Selo Sesc.
O bêbado, o devoto, o doador de dízimo, o curioso, a mãe cheia de sacolas (que usou um dos bancos como trocador para o bebê), o sacristão, o aflito ajoelhado, foram o primeiro público do dia. Formalmente o show começava às 20 horas.
O sortimento da plateia comprovava mais uma vez que aqueles músicos carregam muito mais do que o case dos seus instrumentos, mas também uma bagagem importante da música do País. Estudantes, compositores, apreciadores de clássico e popular ofertavam sua atenção a cada compasso, para ao final destes, não pouparem as palmas das mãos.
No show Avenida Atlântica, homônimo ao álbum, o violonista Guinga e o Quarteto Carlos Gomes demonstravam a generosidade do enlace entre criador e intérprete. De certo, o imprevisível Guinga, mais uma vez trouxe à tona sua música curtida a rebuscadas harmonias e melodias quase táteis, tamanha presença.
Violão, violinos, viola e violoncelo sacros. Uma apresentação no altar nunca pareceu tão adequada.