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Carta ao leitor
Com esta edição, Problemas Brasileiros ingressa no seu
quadragésimo ano de existência. Ao longo desse período de intensas mudanças no país,
a publicação manteve-se fiel à proposta de colocar o leitor em contato com a realidade
através de um enfoque isento de parcialidade. Embora a revista tenha aberto espaço a
coisas que dão certo – como a agricultura familiar, que vem conseguindo ótimos
resultados na exploração de produtos orgânicos, como mostra esta edição –, na
maioria das vezes suas páginas trazem denúncias do que está errado, como a exploração
criminosa de pessoas mantidas em cativeiro e forçadas a trabalhar em troca de comida,
assunto de nossa reportagem de capa.
Este número traz também um panorama de como vivem as mulheres na prisão. Para elas, a pena a que foram condenadas muitas vezes vai além da mera privação da liberdade, uma vez que o sistema carcerário – construído por homens e para homens – não leva em conta especificidades de gênero. Não bastasse sua alta vulnerabilidade a contaminações por doenças sexualmente transmissíveis e pelo vírus da Aids, cujos índices alcançam níveis mais elevados do que os da população em geral e também os dos presídios masculinos, as mulheres sofrem com o abandono da família – que ocorre mais freqüentemente do que com os homens – e principalmente com a separação dos filhos.
Questões como essas infelizmente ainda são comuns no país. Embora preferíssemos tratar de temas mais amenos, Problemas Brasileiros, aos quarenta anos de vida e fiel ao compromisso assumido com seus leitores, nunca deixou de registrá-las.