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O Norte Contemporâneo

Arte gráfica do CD feita pelo artista amapaense Ralfe Braga (foto: reprodução)
Arte gráfica do CD feita pelo artista amapaense Ralfe Braga (foto: reprodução)

Emília Monteiro estreia em terras paulistas por meio do projeto EmPulso, do Sesc Sorocaba, que aposta em trabalhos de vanguarda dentro do atual cenário musical tupiniquim

Ritmos tradicionais do Norte são os alicerces para a construção de arranjos contemporâneos que moldam Cheia de Graça (2013), primeiro trabalho e show que a cantora Emília Monteiro traz para o sudeste, a partir da apresentação que realiza no Sesc Sorocaba, sua primeira no estado de São Paulo. A intérprete costura naturalmente batuque, marabaixo, carimbó chamegado, maxixe, lundu e outros, com estilos musicais modernos, como pop e jazz, resultando em uma distinta fusão.

Amapaense radicada em Brasília, Emília começou a conceber Cheia de Graça em 2008, pesquisando ritmos legítimos do norte e moldando-os de acordo com suas influências musicais contemporâneas. O complexo cultural de sua terra natal – definido por ela como “uma miscigenação de etnias de maneira única, com aspectos nativos, africanos e europeus, temperados pela forte influência caribenha que chega via ondas do rádio” – foi harmoniosamente conectado às influências artísticas mundiais absorvidas em Brasília, “uma cidade de relações internacionais”. Para garantir a unidade sonora de um álbum com diferentes ritmos e temas assinados por compositores das mais diversas partes do país, Emília fez questão de realizar a direção artística do seu primeiro trabalho, estendendo esse conceito para o show. A canção Mal de Amor coloca foco de luz sob essa proposta de desbravar os sons do norte e fazer o casamento entre o moderno e o tradicional. Uma de suas influências é a tradicional artista de carimbó, Dona Odete.  Mas ela também cita conhecidas intérpretes do cancioneiro popular brasileiro, como Elis Regina, Elza Soares e Gal Costa, além de Lenine, Chico César e Zeca Baleiro. Este último compôs, em parceria com a carioca Suely Mesquita, a canção Coisinha, especialmente para a intérprete.

Conexões 
Emília acredita que a distância dos grandes polos culturais do Sudeste proporcionou ao Norte “a perpetuação de sua cultura de origem”. Mas, na era da informação, as influências externas foram absorvidas com naturalidade e são perceptíveis em seu trabalho e no de outros artistas do Norte, como Felipe Cordeiro e Aíla. A vida artística independente de grandes gravadoras com o acesso tecnológico atual permitiu a esses artistas despontarem no restante do país com um movimento. Objetiva, Emília garante: “É para fazer diferença dentro da MPB”.

A independência se traduz não só na divulgação e distribuição de seu álbum, como também em toda a sua produção: “Coloquei toda a minha alma no meu primeiro trabalho, dando atenção para todos os detalhes, para ficar do jeito que eu queria, e tocar as pessoas pela minha verdade musical. Me sinto realizada”, exclama citando na sequência Charles Chaplin: “Só a verdade e a beleza podem convencer o público".

EmPulso 
Em conversa com a EOnline, ao debater a questão do trabalho que artistas independentes têm para conquistarem espaços, Emília ressaltou o projeto do Sesc Sorocaba em apostar no convite a artistas que estão batalhando por um lugar ao sol: “É uma iniciativa incrível para demonstrar ao público o que a música independente tem a oferecer”.