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Missa Luba: Luto, luta e consciência

Grupo de cantores da Escola de Música do Estado de São Paulo. Foto: Divulgação
Grupo de cantores da Escola de Música do Estado de São Paulo. Foto: Divulgação

No mês da Consciência Negra a programação Sons das Igrejas do Centro, do Sesc Carmo, apresenta a Missa Luba, cantada em latim e acompanhada por ritmos tradicionais africanos

Sons das Igrejas no Centro é um projeto mensal que realiza concertos nas igrejas tombadas na região central. A ideia é democratizar o acesso à música erudita e trazer a população para dentro do patrimônio histórico de São Paulo.

Para o mês de novembro é proposta a Missa Luba, original do Congo, que foi considerada pioneira no séc. XIX pela abertura da Igreja Católica para outras formas de manifestação musical, que não a europeia. O concerto acontece dia 11 de novembro na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, historicamente conhecida como a primeira igreja em São Paulo em que brancos e negros puderam se sentar lado a lado.

A Igreja Nossa Senhora da Boa Morte no século XIX

Construída há mais de 200 anos com taipa de pilão e adobe (tijolos feitos a partir de terra crua), a igreja de estilo barroco leva esse nome por conta da Rua do Carmo que era chamada de Rua da Boa Morte. O título dava-se pelo percurso que os escravos faziam subindo a Várzea do Glicério em direção ao antigo Largo da Forca. Conta-se que o local foi parada obrigatória de escravos condenados à forca na época e pelas tradições religiosas era recomendado pedir à santa uma “boa morte”. Essas execuções aconteciam próximo de onde hoje é a Praça da Liberdade, no centro de São Paulo.

Fundada pela Irmandade dos Homens Pardos de Nossa Senhora da Boa Morte a igreja carrega a história de ter sido onde negros e brancos puderam compartilhar o mesmo banco, embora muitas vezes por diferentes fins.

Antes da morte. Era esse o momento em que se permitiam escravos adentrarem uma igreja católica, até então vista como “propriedade dos brancos”.

O templo também era conhecido como “a igreja das boas notícias”. Isto porque estava localizada à entrada daqueles que vinham do Ipiranga, em direção à cidade. O repique dos sinos anunciava as novidades, como a chegada de forasteiros (já que por sua posição geográfica privilegiada era possível avistar com antecedência aqueles que chegavam de Santos, da Serra do Mar). Também conta-se que foi por meio do toque de seus badalos que o imperador D. Pedro I foi saudado pela cidade, logo após proclamar a Independência do Brasil.

Igreja Nossa Senhora da Boa Morte durante concerto. Foto: Carol Araujo


A Missa Luba: Origem e concerto

Lubas, ou Balubas é uma nação que habita a porção Sul da República Democrática do Congo, pertencente aos povos Bantos, o maior grupo étnico e linguístico da África central.

A Missa Luba é uma versão da Missa Latina, mas baseada em canções tradicionais do Congo. Originalmente a música Luba não era escrita, sua composição era resultado do trabalho conjunto do coro, onde eram permitidas improvisações de forma espontânea e cheias de inspiração ancestral. Mais tarde as partituras foram publicadas com o arranjo feito pelo padre franciscano belga Guigo Haazen. A missa foi cantada e gravada pela primeira vez em 1958 por “Les Troubadours du Roi Baudoin”, um coro de 45 garotos de 9 a 14 anos, além de 15 professores da escola central de Kamina (cidade na Província de Katanga, Congo).

O Sesc Carmo convidou, sob direção musical de Marília Vargas, o grupo vocal composto por nove cantores: estudantes e jovens profissionais da Escola de Musica do Estado de São Paulo, que serão acompanhados pela percussão congolense.

Luto, luta e consciência

O Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro é lembrado por ser o dia em que foi assassinado o líder Francisco Zumbi, de Quilombo dos Palmares, o grande símbolo resistente à discriminação racial, que mesmo sob o jugo da chibata lutou até a morte pela liberdade de seu povo, de religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial.

O mês também representa a busca por uma sociedade livre, pluralista e fraterna, portanto a lembrança desta data carrega um viés político intenso e inquestionável: a resistência venceu a escravidão! E embora seja incapaz de apagá-la vive na constante luta para ultrapassá-la.

Escute aqui o Kyrie, uma das canções que compõe a Missa Luba que representa o luto:

 

Programa do concerto:

A primeira parte do concerto traz canções tradicionais africanas, em seus idiomas originais, para que o público possa identificar as referências musicais que marcam a Missa, que é apresentada em seguida.

Wana Baraka
Canção tradicional do Kenya

Siyahamba
Canção tradicional da África do Sul

Banaha
Canção tradicional do Congo

Missa Luba
Baseada em cantos tradicionais do Congo, em arranjo do Padre Guido Haazen (1921 - 2004)
- Kyrie
- Glória
- Credo
- Sanctus
- Benedictus
- Agnus Dei


Ficha técnica:

Marilia Vargas - Direção geral
Jabez Ramos Lima - tenor solista
Ludmila de Carvalho Moraes, Ana Carolina de Medeiros Coutinho - sopranos
Bruno Santos Gomes, Nae kohatsu Matakas - contraltos
Ivano Natanael Fonseca, Carlos Rafael Porto - tenores
Fúlvio Magalhães Lima de Souza, Murilo Araujo de Lima - barítonos
Maria Clotilde Saporito - percussão

 

o que: Missa Luba
quando:

11/nov

onde:

Igreja Nossa Senhora da Boa Morte - Rua do Carmo, 202