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Amigo Livro
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Projetos das unidades Consolação, Interlagos e Itaquera promovem a democratização da leitura
A constatação preocupa: o Brasil lê pouco. Uma pesquisa realizada em parceria entre a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), em 2007 – e divulgada no final de 2008 – mostra que o brasileiro lê, em média, 2,5 livros por ano, contra dez nos Estados Unidos e na França e 15 nos países nórdicos. Segundo matéria publicada no site do Senado Federal, em 12 de abril deste ano – e que divulgava os resultado da pesquisa da CBL e Snel –, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) recomenda uma livraria para cada 10 mil pessoas. No Brasil, temos 2.700 desses estabelecimentos para 190 milhões de brasileiros, ou seja, uma para cada 70 mil pessoas.
O escritor e poeta Fernando Paixão, que durante 35 anos ocupou o cargo de diretor editorial da Editora Ática, vê um agravamento da situação ao longo do tempo e não vincula a falta do hábito da leitura somente às classes mais baixas. “Era muito comum qualquer profissional liberal, há 20 anos, por contingência, por classe social, por formação, ser leitor de livros de literatura, por exemplo”, analisa. “Ora, se você pegar um médico ou um advogado de hoje ele no máximo lê a literatura próxima da área dele. É muito raro você encontrar um advogado que tenha lido quatro ou cinco livros de escritores de literatura. E não estou falando de Machado de Assis, mas de escritores que lançaram recentemente, que estão aparecendo e tal.”
Quanto aos motivos para o quadro atual, as opiniões se dividem. Por um lado, o filósofo José Castilho Marques Neto, atual secretário executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura – um programa vinculado aos ministérios da Cultura e da Educação –, afirma saber “que o poder aquisitivo do brasileiro não é compatível com o preço do livro”, conforme disse em matéria publicada no jornal carioca O Globo, em fevereiro de 2009. “A redução de preços é uma preocupação permanente”, confessa. Por outro lado, no entanto, para Fernando Paixão existe um fator cultural que incide sobre a questão. “Até por conta da internet, essa busca pela informação rápida tem deixado o valor da literatura mais em plano secundário”, diz.
Páginas de viagem
Paixão garante que uma das saídas para o problema – ou ao menos uma luz no fim do túnel – está na democratização do livro. “Não se constrói uma sociedade moderna, democrática, sem uma atividade editorial robusta, plena, diversificada, com várias correntes, para diferentes públicos”, afirma. “Então, quanto mais o livro circula nas veias da sociedade, mais ela vai dispor de conhecimento.” É nessa rota que seguem dois programas do Sesc São Paulo cujo objetivo é o incentivo à leitura. Ao lado do trabalho com as bibliotecas nas unidades, o Sesc conta com o projeto Meus Livros de Viagem, da unidade Consolação, quanto o BiblioSesc, do Interlagos e Itaquera, buscam, no esquema de empréstimo de títulos, fazer a literatura chegar a um número cada vez maior de seus frequentandores.
No Sesc Consolação, a idéia prima pela originalidade. A biblioteca se juntou ao departamento de Turismo Social para garantir que cada usuário que saia em viagem pela unidade leve um livro na mala – daí o nome do projeto.
“É uma proposta de enriquecimento do programa de literatura e do turismo social”, explica Valquíria Pinheiro, técnica do Consolação e responsável pelas atividades da biblioteca. “A ação é incentivar o hábito da leitura e até mesmo fortalecer a tradição oral do ‘contar o que leu’. E o objetivo é propor ação informal e permanente da educação.” O projeto teve início em fevereiro deste ano e surgiu da associação de dois “tipos” de viagem: o deslocamento propriamente dito do turismo e a ludicidade da leitura, que leva o leitor a vários lugares sem que ele se desloque. “Tendo em vista que o livro também é uma viagem e que já são oferecidos filmes e algumas intervenções pelos guias, pensamos que o livro poderia ser mais uma ação socioeducativa e cultural”, diz Valquíria.
Até agora a unidade adquiriu 50 títulos especialmente para o projeto. E os estilos vão de coletâneas de contos e crônicas a livros de poesia de autores consagrados, brasileiros e estrangeiros. “Tentamos reunir leituras rápidas”, conta a técnica, que explica também que, por enquanto, ainda não houve retorno sobre quais as obras preferidas dos viajantes-leitores, mas que, em breve, será possível saber quais são as “companhias” mais requisitadas. “Para as próximas viagens, teremos um questionário para termos um feedback”, avisa.
Biblioteca ambulante
Nas unidades de Interlagos, na Zona Sul da capital, e Itaquera, na Zona Leste, o projeto é o BliblioSesc, um serviço de biblioteca volante, voltado para o fomento da leitura e para a ampliação do acesso ao livro. “Observa-se como tendência um aumento na demanda pela leitura, estimulada inclusive pela mídia e pela gradual informatização da sociedade”, afirma Rosana Cunha, responsável pela Gerência de Ação Cultural (Geac). “E as bibliotecas e áreas de leitura do Sesc buscam justamente estimular a leitura como prática corriqueira”, diz a gerente. Segundo Rosana, a ação do Sesc na área da leitura busca também considerar as preferências dos leitores em vários campos. “[preferências] provocadas pelo fluxo de informações disponíveis em vários meios de comunicação, emanadas das novas profissões e das formas de lazer diferenciadas”, esclarece. O lançamento oficial do BiblioSesc está previsto para julho deste ano. O projeto atenderá de oito a dez bairros localizados no entorno das duas unidades. “Cada ponto receberá duas visitas mensais, com o período previsto de 15 dias para leitura, devolução ou renovação dos empréstimos”, explica Rosana. O serviço será inteiramente gratuito e oferecerá, além da consulta local, também empréstimo domiciliar das obras e uma programação cultural integrada às ações do projeto.