Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Cultura
Irmandades virtuais

Com o surgimento dos blogs, ficou mais fácil ter o próprio espaço online. São verdadeiras comunidades, onde os internautas montam grupos de interesse, trocam informações, fazem amigos e influenciam pessoas

Antes mundo era pequeno porque terra era grande. Hoje mundo é muito grande porque terra é pequena. Estes versos foram gravados em 1992 por Gilberto Gil na canção Parabolicamará. O trecho resume a condição da humanidade diante das conquistas do século 20, que encurtou distâncias ao inventar o avião e até extrapolou as fronteiras da atmosfera, chegando à Lua. Mas, além disso, os versos de Gil foram quase proféticos. Teria ele imaginado, nessa equação inversamente proporcional, que o mundo ficaria ainda muito maior porque a Terra tornar-se-ia muito menor? Com a popularização da internet, fronteiras antes intransponíveis foram derrubadas. A cada dia que passa, mais e mais dessas barreiras somem com o aparecimento de ferramentas que deixam a rede mais rápida, mais barata, mais acessível e, por incrível que pareça, mais particular. Primeiro surgiram os sites de comunidades virtuais, como o Yahoo Groups ou o Nosso Grupo, da Editora Abril. A idéia era conectar pessoas que tivessem interesses em comum e incentivar a troca de informações. Nasciam as irmandades virtuais. Só que essa dinâmica se expandiu tecnológica e conceitualmente, originando os diários virtuais, ou blogs, como ficaram mundialmente conhecidos. Esse atual estágio da interatividade na net permite que cada usuário tenha a própria página na rede e, tal como faz com a casa, possa “decorá-la” da maneira que quiser. Se você já tem alguma intimidade com a rede – checa e-mails e consulta sites – e ainda não tem um blog, pode ser apenas uma questão de tempo.

Blog? Blog!

O termo vem da junção de duas palavras em inglês: web, que significa rede, e log, termo que se refere ao diário de bordo dos navegadores. A abreviatura vem de web log (diário na rede). Quem tem um blog é chamado de blogger, em inglês, ou de blogueiro, na forma aportuguesada. Se você é um internauta ou se tem interesse no assunto, provavelmente sabe que sites pessoais não são mais novidade e deve conhecer quem já tenha o seu. A pergunta que fica, então, é: qual a diferença entre um blog e um site tradicional? A facilidade. “Além de gratuito, esse tipo de site possui uma tecnologia extremamente acessível a quem está conectado à internet”, esclarece a pesquisadora americana Rebecca Blood, autora do livro The Weblog Handbook: Practical Advice on Creating and Manataining Your Blog (Livro de Bolso do Blog: Conselhos Práticos Para Criar e Manter Seu Blog). “Isso significa que qualquer pessoa pode publicar seus pensamentos para o mundo. Os weblogs estão permitindo que pessoas estejam em contato umas com as outras através de seus computadores.” A praticidade do recurso reside na simplicidade do programa usado. Não é mais necessário que o internauta entenda de programação e de Html (linguagem utilizada para criar arquivos na internet). Desde a invenção dos blogs, bastam conhecimentos mínimos de informática para ter seu espaço na net. “O blog parece que trouxe vida à Web, a ponto de muitos analistas e usuários acharem que esse novo modo de comunicação e de relacionamento virtual virou mania. Há quem considere o blog como o futuro da publicação de escritos pessoais”, analisa João Pedro Sartori Filho, editor do canal Blog da página Sobre Sites (www.sobresites.com.br).
Atualmente a maioria dos grandes portais brasileiros deixa à disposição de seus usuários os meios necessários para construir um blog. O lançamento de ferramentas com instruções em português causou, no Brasil, uma explosão do número desses diários na internet brasileira. A primeira delas foi lançada pelo portal Terra. Bastava acessar o site www.webloger.com.br para criar a página. Em seguida o IG, Globo.com e UOL lançaram as próprias ferramentas.

“Roberto Marinho de si mesmo”
Imagine que a internet seja uma grande cidade e que num dado momento todos os que a habitam ganhem uma casa própria para decorá-la como bem quiser. Os blogs estão para a rede como a casa de cada um de nós está para uma cidade. Nosso lar tem a nossa cara e lá dentro quem manda somos nós. Vá mais longe e imagine que essa casa possa ser vista pelo mundo inteiro. Os limites de suas quatro paredes sumiram. Suas opiniões podem ser ouvidas do outro lado do planeta, seus textos podem ser lidos, suas preferências passam a ser conhecidas por todos. Que poder, não é? Em plena era da cultura de massa, inventa-se um meio em que cada um pode exercer livremente a própria identidade. “A internet funciona como um ambiente que tem como uma de suas características servir como meio de comunicação”, explica Daniela Ramos, professora de jornalismo online da Universidade Anhembi Morumbi e que desenvolve um projeto chamado Mídia de um Homem Só: Estratégias de Comunicação nos Weblogs Pessoais, Críticos e Jornalísticos. “Trata-se de um lugar em que se processam relações comunicativas. A rede surgiu como uma mídia bidirecional. Ela pode gerar informações ao indivíduo, mas ele também pode emitir informações para muita gente. Ao contrário dos meios tradicionais de cultura de massa – como a televisão, por exemplo, em que a informação vai apenas em um sentido –, essa possibilidade permite o exercício de uma identidade, na contramão dessa mesma cultura.” Sartori Filho vai mais longe dizendo que, pela personalidade e interatividade dos participantes das comunidades blogueiras, muitos consideram que essa atividade chega a lembrar a contracultura. “Tem um sabor de faça você mesmo: faz tua própria mídia se a mídia institucionalizada não te aceitar, com as tuas características pessoais”, analisa.
O jornalista Marcelo Tas, apresentador do programa Vitrine, da TV Cultura, e blogueiro inveterado (http://marcelotas.blog.uol.com.br), resume em poucas palavras o poder desse modo de comunicação: “Com o blog cada pessoa pode virar o Roberto Marinho de si mesmo”.

Mudança na cultura
Além da possibilidade de mostrar a cara de cada um ao mundo, os blogs têm sido responsáveis por um outro fenômeno: o embate entre os meios de comunicação de massa – com conteúdo controlado por alguns poucos – e os diversos “Robertos Marinhos” – como disse Marcelo Tas –, que, apesar de não terem a credibilidade garantida por um conglomerado de mídia, passaram a usufruir quase o mesmo poder que os profissionais da área. Ou seja, conseguem atingir muitas pessoas. “Aquilo que é veiculado em um blog não tem a pretensão de ser uma informação ‘neutra’”, pondera a professora Raquel Recuero, da Escola de Comunicação da Universidade Católica de Pelotas, no Rio Grande do Sul, em artigo na revista Verso e Reverso de fevereiro de 2003. “Ao contrário, existe o pressuposto claro de que alguém escreve e que a informação corresponde ao relato, à visão ou à opinião deste alguém sobre o evento. São discursos pessoais.” Para Jay Rosen, coordenador do Departamento de Jornalismo da Universidade de Nova York, a credibilidade é uma interação, uma relação de duas vias, e, justamente por isso, a internet pode funcionar como suporte para um novo tipo de jornalismo. “Se o blog se mostra confiável no dia-a-dia, o leitor passa a ter ferramentas para julgar a idoneidade daquelas informações”, afirma. Essa opinião é partilhada pela professora Daniela Ramos, que credita o grande êxito do recurso a seu caráter singular. “Eu diria que exatamente por isso eles fazem muito sucesso; é muita subjetividade em um mar de pretensas objetividades. Melhor assumir o discurso pessoal, e assim os próprios leitores julgam se os blogs têm ‘credibilidade’ ou não.”

Vida de blogueiro

“Se Google não sabe que tu existes, então não existes.” Essa frase foi cunhada pelo blogueiro José Luís Orihuela (http://www.ecuaderno.com), durante o I Encontro Nacional de Weblogs, que aconteceu em Portugal, em outubro de 2003, e faz referência a um site de busca de informações na internet. Exagerado? Pode ser. Mas é verdade que a maioria das pessoas que escrevem em um blog segue a filosofia do ver e ser visto. Geralmente, freqüentam vários outros desses diários e querem que o seu seja muito visitado. “Todos que têm um blog cuidam bem da aparência e do conteúdo dele porque querem que cada vez mais pessoas visitem o espaço”, conta Lemuel Cintra, de 26 anos, blogueiro há quatro. “Meu blog já chegou a ter trezentas visitas por dia.” Mas, para estar em evidência, o autor tem que se empenhar. A divulgação de sua página geralmente se faz por meio de comentários deixados em outros blogs juntamente com o endereço do dele. A partir daí começa uma espécie de intercâmbio virtual despertado pela curiosidade de saber quem foi essa tal pessoa que fez o comentário. Não há maneira melhor de conhecê-la do que visitar o blog dela. E assim vão se formando comunidades, que, na maioria das vezes, migram do virtual para o real. Mas, antes disso, há vários passos a seguir: 1º) Para saber que tal pessoa existe, é necessário achar o blog dela. 2º) Para que ela saiba da sua existência, você deve deixar um comentário lá. 3º) Vocês podem começar a trocar e-mails. 4º) Vocês podem passar a conversar através de programas de mensagens instantâneas, como o messenger ou o ICQ. 5º) A troca de telefones. 6º) Finalmente, vocês podem se encontrar.
Porém, nem sempre os blogueiros seguem essa ordem. Carpe Diem – pseudônimo usado pelo dono do blog Gente (www.gente.blogspot.com) – já conheceu outras pessoas da tribo ao ser reconhecido na rua. “Eu estava em uma feira de antiguidades e de repente uma menina me perguntou: ‘Você não é o Carpe Diem? Adoro seus textos!’ Ela me reconheceu por causa das fotos no blog.” Uma das grandes amigas de Carpe Diem é fruto do blog. Marina Galvão nem era uma blogueira, mas adorava navegar por diários eletrônicos. Foi assim que chegou ao Gente. Até que um dia Carpe Diem resolveu abandonar a página. Ela, inconformada, lhe escreveu perguntando o motivo. “Gostei quando ela me procurou”, relembra ele. Passaram a conversar usando mensagens instantâneas até que ele a convidou para jantar na sua casa. “Ela ficou bem desconfiada, mas aceitou o convite. Trouxe um vinho na mão e um estilete na bolsa, para o caso de eu não ser uma boa pessoa. Quando estava indo embora, me mostrou o objeto.” Isso já faz quase dois anos e Marina hoje tem seu próprio blog. No entanto, diz que está cansada dele. Vai abandoná-lo. “Isso é normal. Um blog reflete as fases da vida da gente e, às vezes, quando queremos mudar, temos vontade de deixar tudo pra trás”, garante Carpe Diem, que já teve quatro – o próprio Gente já foi abandonado e recuperado. “Aí abrimos outro. Mas pode acontecer depois de voltarmos ao antigo.” Com relação ao desânimo de Marina, ele está convencido de que é passageiro. “Vai por mim, conheço todas as fases dessa relação”, garante.

Novinho em folha - O site do Sesc São Paulo mudou. Entre outras modificações, está mais fácil de navegar e mais informativo

Maior interatividade, conteúdo mais integrado e facilidade para navegação são algumas das alterações trazidas pelo novo portal do Sesc São Paulo (foto), que está no ar desde o dia 20 de abril. A primeira versão do site é de 1996 e apresentava apenas informações institucionais, além da programação das unidades. Com a popularização da rede, a página ganhou em dinâmica, passou a publicar reportagens baseadas nos eventos das unidades e a incluir chats (salas de bate-papo) e outros canais interativos. “A idéia é que os internautas e usuários das trinta unidades do Estado de São Paulo possam experimentar o Sesc também no próprio computador”, explica Malu Maia, editora de conteúdo do portal. O novo site é atualizado várias vezes ao dia. “Quando a programação é pertinente para ser levada à internet, ganha sua versão online, como aconteceu com os projetos Por que, Pra quê?, Paisagem 0, Uma viagem de 450 Anos e o Procure sua Turma, e vai para todos os outros sites 100% interativos do portal, que permitem ao usuário passear pela unidade virtual do Sesc”, completa Malu. Assim como acontece no resto da internet, nessa unidade virtual, os internautas também podem encontrar grupo de interesses comuns para formar a sua própria comunidade. É o caso, por exemplo, de quem procura uma companhia para praticar esportes. Basta entrar, através do portal, no site Procure sua Turma e lá digitar seu esporte de interesse junto com o CEP da sua casa para encontrar alguém que more perto de você e tenha vontade de praticar a mesma atividade. Para as crianças é reservado um espaço em que podem formar seu próprio laboratório de experiências no site do projeto Por que, Pra quê?.
Na sua mais nova versão, o portal traz ainda áreas distintas para todas as idades e atividades, exclusivamente online. Outro ponto forte fica por conta das ferramentas do site Meu Sesc, que permitem ao usuário personalizar a sua própria página do Sesc. Novidades não faltam. Como a curiosidade é pré-requisito a todo internauta que se preza, não perca tempo, vá lá fuçar.

A vida como ela é - Livro relata o dia-a-dia da guerra do Iraque. Só que o autor não é um jornalista ou cientista político, mas um blogueiro
Uma das primeiras polêmicas em torno da confiabilidade do conteúdo de um blog surgiu no final de 2002, com a iminência da invasão americana no Iraque. Naquela época, um homem que usava em sua página o nome de Salam Pax passou a relatar o dia-a-dia de Bagdá. Ele tinha 30 anos, era arquiteto, homossexual, que bebia cerveja e ouvia o mesmo som que qualquer jovem ocidental ouviria. Odiava tanto Saddam Hussein, o ditador que comandava seu país com mão de ferro, quanto Bush, o chefe de Estado que ameaçava invadir esse mesmo país sob pretextos que nunca foram comprovados. O blog de Pax (www.dearraed.blogspot.com) gerou controvérsia pelo conteúdo bombástico e mesmo pela veracidade da fonte. Será que esse rapaz existia mesmo? Quem era esse arquiteto que se arriscava a dizer coisas que, caso fosse descoberto, o levariam à execução pelo regime de Saddam? Hoje se sabe que ele existia, tanto que virou tema de um documentário da rede de televisão inglesa BBC. “Não lembro ao certo quando ouvi falar de Salam pela primeira vez”, escreveu o jornalista Pedro Doria na orelha do livro O Blog de Bagdá (Cia. das Letras, 2003 – foto), que reproduz os textos de Salam escritos entre novembro de 2002 e junho de 2003. “Lembro da impressão: será que é de verdade? Perdi quaisquer dúvidas de que ele era de verdade um pouco antes da guerra. Nas páginas de jornais brasileiros e estrangeiros, o Iraque era uma terra distante, terra de gente oprimida há muito vivendo entre guerras e preparando-se para mais uma. Uma gente bem diferente de nós, com outras crenças, valores e modas. Só que Salam Pax não era nada disso. Sua Bagdá é uma cidade grande que, não fossem as estátuas de Saddam espalhadas pela cidade, não seria muito diferente de São Paulo, Rio, Los Angeles ou Londres. O resultado de seu diário é um documento histórico. Não houve repórter ou analista, durante todo o conflito, que tenha produzido algo igual.”
No Brasil, antes de o episódio Salam Pax botar fogo na polêmica imprensa versus blogueiros, uma informação publicada no blog de Sérgio Faria (www.catarro.blogspot.com) foi parar na primeira página dos jornais. Isso ocorreu depois que o programa Vitrine, da TV Cultura, anunciou que lá estava escrito que o discurso de renúncia do senador Antonio Carlos Magalhães era um plágio. No dia seguinte, todos os grandes jornais do país deram a notícia. “Isso seria impossível de imaginar num mundo pré-blog. Um único autor de blog indo parar nas páginas nacionais em menos de 24 horas. Não tem mais volta”, brinca Marcelo Tas, apresentador do Vitrine.

Dicionário das emoções
Quem disse que as relações virtuais são frias? É possível expressar estados de espírito, sentimentos e sensações pelo computador por meio dos emoticons. Trata-se de “carinhas” que podemos fazer usando os ícones disponíveis no teclado do computador. Assim os internautas podem expressar como estão se sentindo e até fazer o outro imaginar a entonação de voz. A internet já possui até uma espécie de manual de etiqueta. Uma mensagem escrita somente em letra maiúscula, por exemplo, seja por e-mail, messenger ou postada no blog significa na língua da rede que você está gritando. Para não cometer gafes e, melhor, para conseguir expressar exatamente o que você sente, preparamos um miniglossário.
Basta seguir as instruções.

:-) – dois pontos, traço e fecha parênteses: feliz, alegre, sorrindo

:-( – dois pontos, traço e abre parênteses: triste, chateado

:’( – dois pontos, apóstrofo e fecha parênteses: chorando, muito triste

:-D – dois pontos, mais traço e a letra “d” maiúscula: muito feliz, sorrisão

0:-) – número zero, dois pontos, traço e fecha parênteses: anjinho, santinho

:-P – dois pontos, traço e letra “p” maiúscula: mostrando a língua

8-) – usa óculos ou de olhos bem abertos

>:( – bravo, nervoso, “de cara amarrada”

;-) – piscando o olho, cumplicidade

:-9 – com fome, com água na boca

:-* – mandando beijo

l-) – Dormindo

[]’s – colchetes mais apóstrofo e “s” – abraços

(::[ ]::) – abre parênteses, dois pontos, dois pontos novamente, abre colchete, fecha colchete, dois pontos, dois pontos novamente, fecha parênteses – band-aid

:-)~ – dois pontos, traço, parênteses, acento til:

:-# – dois pontos, traço e jogo- da-velha: guardar segredo

:o)) – dois pontos, letra o, fecha parênteses duas vezes: palhaço

:-t – dois pontos, traço, letra t: rabugento, implicante, mal humorado

Fonte: Portal Terra (http://ilove.terra.com.br/lili)babando)