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Dossiê

Pagu no teatro
Os últimos dias de prisão da escritora Patrícia Galvão, a Pagu, e seus derradeiros anos de vida – dedicados ao jornalismo, à poesia e ao teatro – são o fio condutor da peça Pagu Que, que estreou em abril, no Sesc Belenzinho, com direção de Cristiane Tricerri (foto). O título é inspirado em um poema de Pagu, escrito entre 1960 e 1962, encontrado entre os seus papéis após a morte da escritora. O espetáculo fica em cartaz na unidade até o dia 23 de maio.

O que você está falando, menina?
Estou falando que.
Que ou quê?
Que.
Vamos dizer que a menina, minha amiga, pretenderia o quê?
Que.

Poema sem título de Pagu, encontrado após sua morte, que serviu de inspiração para a montagem Pagu Que, em cartaz no Sesc Belenzinho

“Pagu foi revolucionária na arte, na política e na prática da vida.”
Trecho do livro Pagu Vida-Obra, de Augusto de Campos

Som e imagem
Durante os anos de 1990, André Abujamra (foto) esteve à frente da banda Karnak, que fazia sucesso com um som irreverente e letras provocativas. Antes disso, participou do duo Os Mulheres Negras, com o músico Maurício Pereira. Atualmente, tem visto seu nome incluído em créditos de muitos filmes, mas nem por isso está longe da música. Em abril, esteve no Sesc Santos para participar do projeto Cinema Falado. No encontro, contou ao público sua experiência com a trilha de filmes como Castelo Rá Tim Bum, Durval Discos, Carandiru e Bicho de Sete Cabeças. O escritor José Roberto Torero esteve presente como mediador.

“Amo tanto as palavras... As inesperadas...
As que glutonamente se amontoam, se espreitam, até que de súbito caem... Vocábulos amados...
Persigo algumas palavras... São tão belas que
quero pô-las a todas no meu poema (...)
Tudo está na palavra... Uma idéia inteira
altera-se porque uma palavra mudou de lugar,
ou porque outra se sentou como um reizinho
dentro de uma frase que não a esperava,
mas que lhe obedeceu...”

Excertos do livro Confesso que Vivi, de Pablo Neruda, poeta chileno homenageado no projeto Saraus Literários, do Sesc Vila Mariana

Verdade na telona
O Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, dirigido por Amir Labaki, é o principal evento voltado para o gênero documental na América Latina. Neste ano, em sua nona edição, aconteceu simultaneamente em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre os dias 25 de março e 4 de abril. De 6 a 11 de abril, o festival prosseguiu em Brasília. Na capital paulista, o CineSesc exibiu documentários de cineastas brasileiros e estrangeiros, incluindo A Alma do Osso (foto), do mineiro Cao Guimarães, escolhido como melhor documentário da mostra.

“Vivi isolado e tive a oportunidade de refletir. Meu organismo estava desgastado, a falta de oxigênio me fazia andar como um velho. Cheguei ao topo (do monte Kilimanjaro, com 5.895m, na Tanzânia) em seis dias e estava perdido. Fiquei com medo de me perder também em meu cérebro. Questionei se poderia criar uma dança não influenciada pela guerra.”
Angelin Preljocaj, coreógrafo francês que apresentou Near Life Experience no Sesc Vila Mariana

Pela primeira vez no Brasil

Estreou na última semana de abril, no Sesc Consolação, a montagem carioca da peça Credores, de August Strindberg, que põe em cena o triângulo amoroso entre uma escritora, um pintor e um professor no final do século 19. Com direção de Antonio Gilberto, o espetáculo traz no elenco os atores Alessandra Negrini, Marcos Winter e Emílio de Mello. Apesar de escrito em 1888, até sua estréia em setembro do ano passado no Rio de Janeiro, o texto permanecia inédito nos palcos brasileiros.

“Em Credores, Strindberg trata da dificuldade do homem em lidar com a liberdade e a independência da mulher na sociedade moderna, daí sua extrema atualidade.”
Antonio Gilberto, diretor do espetáculo, em cartaz até o dia 30 no Sesc Consolação

Reunião de primeira
O mês de abril começou em grande estilo no Sesc Pompéia com o show de lançamento do CD Vasconcelos e Assumpção – Isso Vai Dar Repercussão, trabalho que uniu Naná Vasconcelos (foto) e Itamar Assumpção, morto em 2003. Para dividir o palco, Naná recebeu como convidados especiais Zélia Duncan e Anelis Assumpção, nos vocais; Bocato, no trombone; Paulo Lepetit, no baixo; e Webster Santos, no violão e vocal.

“O som dos dois foi modificado pelos sons dos dois.”
Naná Vasconcelos, que se apresentou no Sesc Pompéia, sobre o CD gravado em parceria com Itamar Assumpção

Todas as faces do Hip Hop
Durante quase todo o mês de abril, o Sesc Itaquera realizou o projeto Hip Hop: Os Cinco Elementos, contemplando os elementos-chave de expressão do movimento – rap, break, grafite e DJ – e propondo uma reflexão sobre o seu sentido social, político e cultural. A cultura hip hop nasceu em Nova York, no final da década de 1970, quando principalmente os negros levaram para as ruas as músicas e danças das discotecas.

“Ladrão sangue bom tem moral na quebrada/
Mas pro Estado é só um número, mais nada.”

Trecho da música Diário de Um Detento, do Racionais Mc’s, um dos principais grupos brasileiros de rap, que se apresentou no projeto Hip Hop: Os Cinco Elementos, realizado no Sesc Itaquera

“Os jornais sempre falaram em ‘revolução’. Até hoje, muita gente ainda diz que
[o golpe militar de 1964] foi uma ‘revolução’. O uso indiscriminado desta palavra é
uma coisa que me dói. Tenho muito respeito pelas palavras, acho que cada uma tem
seu peso, seu valor... A mídia brasileira, desde aquela época, servia ao poder. Censura dura, de fato, quem sofreu foi a revista Veja. Começou em 1969, depois de várias apreensões em bancas. A censura só acabou quando saí da revista.”

Mino Carta criou e dirigiu a revista Veja de setembro de 1968 até 1976, além de outras publicações como IstoÉ e Carta Capital. O jornalista esteve no projeto Terceiras Terças, do Sesc Santos