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Parcerias frutíferas para ações no território

Por Claudete Greiner*

O Sesc Osasco vem construindo relações frutíferas com coletivos e grupos ligados a práticas sustentáveis que atuam no território. O projeto Mutirões da Horta, as oficinas do Portal Panaceia e o Café ao Pé da Árvore são exemplos de atividades que contribuíram para levar ao público da unidade questionamentos e opções para modos de viver conectados com as questões socioambientais. Porém, com a pandemia e a necessidade de mantermos o distanciamento social, vimos o desemprego e a fome atingir de forma cruel grande parte da população. Isso nos levou a refletir quais ações poderiam contribuir e gerar algum bem e valor social. 

Primeiramente foi contactada a nossa rede de relacionamento local e verificada quais ações solidárias estavam acontecendo na cidade. Felizmente, Osasco conta com uma rede de pessoas que se engajaram em criar diferentes iniciativas de auxílio a população - desde a confecção de máscaras, até doação de cestas básicas e alimentos prontos. 

Na unidade, foi retomado o manejo na horta ecológica para a produção de mudas de plantas alimentícias, com a intenção de encontrar a melhor maneira de fazê-las chegarem às pessoas em situação de vulnerabilidade. 

Enquanto isso, um grupo que já desenvolvia atividades em conjunto com o Sesc, iniciou uma ação que envolveu duas demandas muito importantes: a dos produtores das hortas urbanas e a distribuição de alimentos. O grupo se organizou e, através das cestas solidárias, realizaram doações de alimentos naturais oriundos das hortas da região para as mães solos do bairro Jardim Conceição. Foi formado assim a ECOz, iniciativa que teve sua proposta ampliada para fomentar a soberania alimentar entre os moradores da cidade e estimular o respeito pelo planeta, a solidariedade e o consumo responsável. 

Numa proposta de ação colaborativa, o Coletivo ECOz foi convidado a realizar o cuidado e o manejo da horta da unidade, produzindo mudas, plantando PANC´s e hortaliças. 

Esta produção, além de contribuir na composição das cestas solidárias, também ficou disponível para usufruto dos funcionários da unidade.  

Paralelamente, foi criada uma série de vídeos disponibilizados no Youtube da unidade, abordando métodos e incentivando o plantio doméstico de maneira ecológica. Esses vídeos foram divulgados junto à comunidade, somado à orientação in loco realizada pelo ECOz para aqueles que estivessem interessados em fazer a sua própria horta.

Foto: Rafael Santana

 


Posteriormente foram criados zines - material que, de forma lúdica, oferece uma rápida explicação sobre os produtos que acompanham as cestas com as mudas doadas e a melhor maneira de aproveitar os alimentos recebidos. 

Recentemente a trajetória do coletivo foi mostrada no documentário Plantar, Regar, Colher e Ecoar, produzido por Ingrid Mabelle e Rafael Santana, da Teorema Lab, apresentado pelo Sesc Osasco como parte da programação do projeto Ideias e Ações para um Novo Tempo, do Sesc São Paulo.

Foto: Claudete Greiner

 

Territórios do Comum – Construções Sustentáveis 

Ao longo do tempo, a partir desta ação de relacionamento com o território, foram identificadas outras demandas; dentre elas a viabilização da circulação dos produtos das hortas da cidade, uma melhor estruturação dos espaços e a organização dos produtores. 

A partir disso, foi proposto o projeto “Construções Sustentáveis", dentro da ação em rede Territórios do Comum. Esta proposta vem ao encontro de demandas das hortas urbanas de Osasco, referente à necessidade de estruturar melhor seus espaços. 

Foi convidado o Coletivo 1417, que tem larga experiência em projetos relacionados à bioarquitetura. A proposta inicial era desenvolvermos a ação com os agricultores urbanos da cidade. Porém, considerando que ainda devemos evitar aglomerações, optamos por gravar as aulas e disponibilizá-las no YouTube da unidade

O espaço escolhido para a realização das gravações foi a Horta Modelo, na Vila dos Industriários (I.A.P.I). Uma horta escola que pretende ampliar as atividades, abarcando outros temas ligados a sustentabilidade e consumo consciente.  

Para viabilizar o projeto foram feitas tratativas com a Divisão de Agricultura Urbana, do programa de Economia Solidária da Secretaria de Emprego, Trabalho e Renda da Prefeitura Municipal de Osasco, responsável pela maior parte dos terrenos onde existem hortas urbanas na cidade. 

O projeto traz oito vídeos que abordam o contexto histórico e os diferentes métodos da bioarquitetura; a importância do trabalho em equipe; os fundamentos e etapas de realização; conceitos de permacultura, agrofloresta e alimentação natural; e todo processo de construção, do piso à parede e à produção de tintas naturais. Além disso, depoimentos de especialistas da área contribuem para mostrar como a bioarquitetura vem cada vez mais se revelando como uma alternativa viável de construir e morar de forma mais econômica e mais sustentável. 

Primeiramente foram identificados os recursos disponíveis no espaço: madeira, terra, palha e entulho. A partir deste diagnóstico, iniciou-se o processo de construção de um muro com diferentes técnicas de taipa. A última etapa é a reformulação do muro e da calçada em frente à horta, que atualmente tem servido de depósito de entulhos da vizinhança. A proposta é pintar o muro, com tintas naturais e criar um jardim para melhor acolhimento das pessoas que frequentam a horta.


Ricardo Benitez prepara os tijolos de adobre. Foto: Dani Sandrini

 


Taís Cabral preenche tela de galinheiro com massa de adobe. Foto: Dani Sandrini



Detalhe da estrutura de parede de pau-a-pique sendo preenchida com massa de adobe. Foto: Dani Sandrini


Para o futuro, está sendo planejada uma ação conjunta entre o Sesc Osasco e LABIS - Laboratório de Inovações Sustentáveis da Unifesp para a criação de projetos que auxiliem os agricultores urbanos da cidade. Porém, vale observar que qualquer atuação junto aos grupos e coletivos implica primeiramente num exercício de escuta e na validação dos saberes locais. Demandas e necessidades mudam no decorrer do tempo e a conciliação dos diferentes interesses; seja dos agricultores, seja do poder público é um eterno exercício de cidadania e democracia. Práticas importantes e necessárias em todos os momentos. Somente assim é possível implementar ações solidárias e que tragam benefícios para a coletividade. 

 

*Claudete Greiner é economista, gestora cultural e animadora cultural do Sesc Osasco.