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Arte e tecnologia revelam a floresta Amazônica como potência de vida
Por Simões Neto*
“A floresta está na gente”, dispara no grito ressonante projetado sobre a mata em um dos trechos da obra imersiva RESISTE! da artista visual Roberta Carvalho.
A Floresta Está na Gente: Trecho da obra Resiste! da ocupação Ofício: Web: Roberta Carvalho: Resiste!: Pompeia!
Dói nos olhos, arde na alma, faz o coração ser sufocado pela angústia da impotência e nos faz sentir como se tivéssemos recebido uma rajada de piche da cabeça aos pés: a sensação é de imobilidade frente à ambição desenfreada.
Imersões digitais: mergulho no universo amazônico
O trabalho da artista é destaque da ocupação digital Ofício:Web:Roberta Carvalho:Resiste!:Pompeia, do Sesc Pompeia. Nele, Roberta propõe duas imersões digitais: uma imagem de realidade aumentada que pode ser acessada por meio do aplicativo Amazônia Aumentada; e um vídeo de Realidade Virtual 360°, que pode ser visto direto na página do projeto ou por meio de óculos de realidade virtual (VR). As duas obras conduzem o internauta a um mergulho no universo amazônico e seus personagens.
Olhar sobre a originalidade amazônica e seus povos
Natural de Belém do Pará, Roberta despertou o olhar para as artes visuais e ultrapassou as fronteiras da própria cidade, reverberando a sua mensagem para diversos espaços brasileiros como São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre; e países como França, Espanha, Alemanha e Bélgica.
Como diz o artista e curador Fernando Velázquez, no texto critico para a obra, “na sua pesquisa, Roberta busca identificar as dinâmicas e agenciamentos que tornam a Amazônia um lugar de resistência e, no percurso, nos convoca a resistir junto”.
É sobre suportar, ser resiliente, sobre perceber sons, texturas e ouvir os povos da floresta que vivem, que se alimentam de uma culinária peculiar e que, sob o olhar da artista, são estampados nas copas das árvores e suas folhagens, que ganham vida e que pedem atenção.
Do Cinema Líquido à Amazônia Aumentada
Em retrospectiva veloz pelos principais trabalhos da trajetória de Roberta Carvalho consta o Festival Amazônia Mapping (desde 2013), em Belém (PA), no qual assina a curadoria e idealização. Trata-se de um festival de realidade expandida e macroprojeções no espaço urbano da Amazônia e promove o intercâmbio com diversos artistas locais e do Brasil. Roberta participou também de eventos como ArtRio (Feira Internacional de Arte do Rio de Janeiro - 2019), Virada Cultural de São Paulo (2013 , 2016 , 2018 e 2019), Festival de Luzes de São Paulo (2018), Arte Pará 2015, 2017 e 2019 e do Festival ON_OFF_ (2019) Itaú Cultural (SP), com curadoria de Lucas Bambozzi.
Internacionalmente, a artista participou do Amazonian Video Art (2016), no Centre for Contemporary Arts, no CCA Glasgow (UK), do Amazon Connection (2017), no Parlamento Europeu de Bruxelas (Bélgica), além de um trabalho na COP24, em Katowice (Polônia), no Centro Climático do Greenpeace.
Nesse caminho, Roberta recebeu o Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais (2014) e Prêmio Centro Cultural São Paulo (CCSP) de Residência Artística (2016).
Algumas obras marcaram a carreira da artista ao mostrarem a versatilidade com que passeia por técnicas que envolvem da fotografia à Realidade Aumentada, passando por intervenções urbanas que misturam linguagens. Transborda é um exemplo desse tipo de intervenção urbana. “Verticalidade e horizontalidade tensionam o fluxo de águas sobre a arquitetura urbana da cidade de São Paulo”, explica Roberta que, no período inicial de isolamento, realizou, da janela de sua casa, uma série de intervenções com projeção de imagens sobre os prédios ao seu redor. “As imagens trazem a força dos rios para dentro de uma cidade onde as águas foram desviadas, poluídas, aterradas pelo crescimento urbano desenfreado”, contextualiza.
As projeções revelam o forte balanço das águas barrentas, típicas de rios da Amazônia, local de origem da artista. Transborda traz o fluxo dos rios sobre a superfície da cidade e talvez seja uma espécie de memória da natureza forte, incontrolável e irreprimível dos rios que cruzam ou cruzaram as cidades. "Rios são fluxos de água e de (r)existência", lembra a artista.
O projeto Transborda, 2020, com projeções monumentais, traz os fluxos dos rios para a paisagem vertical da cidade São Paulo
Já Cinema Líquido, outro trabalho de impacto da artista visual, envolve intervenções, fotografias e instalações, e traz a imagem projetada sobre as águas barrentas dos rios da Amazônia.
Atenta às novas tecnologias, Roberta desenvolveu o projeto Amazônia Aumentada, aplicativo de realidade aumentada que possibilita a experiência em suas obras de maneira lúdica e criativa. Uma das imagens da série pode ser encontrada no Museu de Arte do Rio (MAR), sendo a primeira obra de realidade aumentada a fazer parte do acervo da instituição.
Amazônia Aumentada: obra em realidade aumentada e aplicativo
Imagens que compõem a obra exposição RESISTE! fazem parte de desdobramentos do projeto Symbiosis, que acontece desde 2007 e consiste em uma série de projeções sobre superfícies da floresta a partir da relação com comunidades ribeirinhas da Amazônia. O intuito é misturar, simultaneamente, intervenção urbana, fotografia, videomapping e a arte como dispositivo de encontros.
Projeto Symbiosis, realizado desde 2007
Essa imersão interativa no universo amazônico faz parte da experiência disponível na ocupação digital Ofício:Web:Roberta Carvalho:Resiste!:Pompeia, de 17 de agosto até 19 de outubro, gratuita e livre, em anexa.sescsp.org.br/oficio.
*Simões Neto é jornalista especializado em Arte, Design e Arquitetura.