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Habitar Palavras: Milton Hauy
Dia das Mães
Hoje é o dia para homenagearmos todas as mães, indistintamente: a mãe rica e a pobre, a bonita e a feia, aquelas cujos filhos são adultos e aquelas cujo filho ainda é inocente. A mãe de enorme prole, e a que nenhum filho teve, mas adota os das outras amorosamente. A mãe grávida que espera o filho nascer ansiosamente. A mãe que não chegou a ser... perdeu o filho precocemente, e não pode engravidar novamente. A mãe que partiu sem nos dizer adeus, e foi para longe da gente. A mãe que é saudável, a mãe doente. Aquela cuja casa está cheia de gente e aquela que está só, sem nenhum parente. A mãe solteira, tão carinhosa e valente. A mãe que rejeita o filho, covardemente, e depois se arrepende, e chora copiosamente. A mãe do filho exemplar tão querido, imponente! A do filho sadio, e a do paraplégico ou doente. A do encarcerado, do viciado, e a do demente. A mãe analfabeta, e a docente. A mãe crente, e a descrente. A mãe dos árbitros e dos jogadores de futebol, dos políticos deprimentes, e a dos nossos inimigos do lado e da frente. A mãe alcoólatra, e a sóbria. A mãe confidente e a vadia. A mais moça, a mais velha, a brasileira, a estrangeira, e as de todos os continentes. A mãe cega, a surda, a muda, e a mãe triste, e a contente. A dos nossos amigos presentes, a dos distantes e ausentes. À Santa Mãe de Deus e nossa, à nossa mãe biológica e querida, a mãe de nossa mãe. A mãe bondosa, caridosa, que está sempre no batente. A dona de casa e comerciante, a caminhoneira, a faxineira, a gari, a cozinheira, a mãe operária, a empregada doméstica, lavadeira, a taxista. A mãe robusta e a magrela. A mãe prudente e a imprudente. A confeiteira, a verdureira, a merendeira, a costureira, a médica, a farmacêutica, a enfermeira e a atendente. A barraqueira, a artista, a cantora, a funcionária pública, a veterinária, a fazendeira, a sitiante e a ambulante. A rural, a passista e a porta bandeira. A escritora, a poetisa, a cabeleireira, a manicure, a cuidadora, a macumbeira, a mãe de santo, a mãe abandonada, a divorciada, a garimpeira, a modelo, a humorista, a jornalista, e afinal, como presente, saudamos a sua mãe, solenemente!
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Pedinte
Esmolar, transpondo o grande obstáculo inicial da vergonha…
Rogar ao próximo um auxílio, para suprir a necessidade premente, que, às vezes, a inércia faz solicitar…
Parasita social, que a sociedade ativa se antipatiza, e para se desfazer da lamúria contumaz, derrama migalhas, fazendo-o passar…
Poucos são os que existem e vão auxiliar sinceramente, pois também necessitam, mas, dividindo o que têm, com receio de também mendigar…
Outros, para se desfazer da inútil presença incômoda, colaboram, rogando, intimamente, para que ele não retorne a pedir... (eis a caridade forçada!), deslembrando o que disse Jesus: “Com toda certeza vos asseguro, que sempre que o fizestes, para alguns destes meus irmãos, mesmo ao menor deles, a mim o fizestes”.
Pois suas vestes sujas e fétidas provocam nojo na sensibilidade alheia. Pois banho e higienização não faz parte do dia a dia, daquela pessoa desdentada, imunda. Com mau hálito de bebidas alcoólicas, do tabaco e até de outras drogas que permeiam e correm soltas por aí.
O coitado, que não tem lar, nem mais da família se sabe, que dorme ao relento, nos bancos da praça, e mora embaixo da ponte.
E às vezes acaba no cárcere, quando abusa da “marvada pinga” e quer bancar o valentão, chegando até a afrontar as autoridades e os transeuntes, quando se cruzam, no cotidiano.
E os olhos do pedinte, apesar de sujos, demonstram qualquer coisa tristonha, apesar de seus risos e gargalhadas, algo profundo que até hoje não consegui entender… É a vivência fácil do pedinte, que o triste vexame não acaba, mas pode mediar: O costume de pedir, e a vontade de negar....
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Sobre o autor
Milton Hauy é nascido em Getulina/SP, filho de imigrantes libaneses, advogado aposentado, casado, pai de 5 filhos, jovem de ontem, que, agora na terceira idade, dedica-se a rabiscar histórias de infância, de vida, e de cidades do interior.
Habitar Palavras - Biblioteca Sesc Birigui
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