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Robert Lepage apresenta espetáculo e exposição em São Paulo
Lepage desembarca em São Paulo para apresentar o espetáculo “887” no Sesc Pinheiros, onde também participa de bate-papo, e a exposição “A Biblioteca à Noite” no Sesc Avenida Paulista.
Diretor teatral, ator, dramaturgo, cineasta, multiartista. Difícil rotular o canadense Robert Lepage e sua inventividade aplicada aos mais diversos campos da criação, característica que resulta, em grande medida, do cruzamento entre linguagens – como o teatro e o cinema – e do uso de novas tecnologias.
Uma inventividade que se mostra desde a escolha do nome de sua companhia, fundada em 1994. Para chegar à Ex Machina, a ausência do termo “teatro” estava entre as premissas, como aponta Andrea Caruso Saturnino, pesquisadora e doutora em teatro contemporâneo: “Essa condição indica as motivações da trupe – seus objetivos sempre foram quebrar barreiras, dissolver convenções e derrubar ideias pré-concebidas de seus pedestais para inventar uma linguagem de cena conectada com seu tempo e lugar”.
Desta vez, em sua quarta passagem pelo Brasil, Lepage dedica seu potencial criativo a vasculhar o tema da memória: “O teatro é provavelmente a forma de expressão que melhor incorpora a memória coletiva. A prova é que, ao longo da história, a primeira coisa que um regime totalitário faz para garantir a erradicação de uma cultura é queimar os livros - um ato que geralmente é seguido pela morte de cantores, contadores de histórias e atores, que carregam a memória viva das canções, poemas e obras teatrais” – afirma o diretor.
Apesar de presente tanto no espetáculo quanto na exposição, o tema ganha diferentes abordagens em cada obra.
No solo 887, ele vem ao palco para fazer um mergulho interior em busca de suas memórias de infância, questionando os mecanismos que regem essas lembranças. Por que nos lembramos do número de telefone de nossa juventude e nos esquecemos do número atual? Como um lampejo de infância atravessa o tempo e permanece intacto em nossas mentes enquanto que o nome de um ente querido nos escapa? Por que as informações sem sentido persistem, enquanto outras, mais úteis, desaparecem?
A partir de suas recordações pessoais, ele chega às memórias coletivas e ao contexto histórico que as envolvem: “887 é, para mim, uma tentativa humilde de mergulhar em uma história com um pequeno ‘h’ para entender melhor aquele com o grande ‘H’”, define o ator e diretor.
Objetos da exposição A Biblioteca à Noite, as bibliotecas (e os livros que elas guardam) também podem ser consideradas templos materializados da memória. Com inspiração na obra homônima do escritor argentino Alberto Manguel, a exposição evidencia outra faceta de Lepage: a busca por uma criação a partir do diálogo e da contribuição de diversas vozes. “Essa vontade de se deixar contaminar também faz com que Lepage aceite convites e desafios de trabalhar com outros artistas, tanto para explorar temas que lhe são caros quanto para imergir em novos universos”, afirma Andrea Caruso Saturnino.
Em A Biblioteca à Noite, o diretor emprega pela primeira vez o recurso da realidade virtual, com vídeos tridimensionais. A partir do uso de novas tecnologias, mais uma marca de seu trabalho, ele cria dez bibliotecas, reais e imaginárias, convidando o público a explorar os limites cada vez mais difusos entre realidade e ficção.