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Aqui se planta, aqui se come

A importância do cultivo para garantir uma alimentação saudável e variada faz parte dos sete principais eixos que compõem o Experimenta! – Comida, saúde e cultura, projeto que discute o universo da alimentação em todas as unidades do Sesc, durante o mês de outubro. Saiba mais sobre o tema:

Apesar da correria do dia a dia, cada vez mais ouvimos falar em iniciativas individuais e coletivas para ampliar o cultivo de alimentos nos ambientes urbanos e, consequentemente, aproximar a comida de verdade do nosso prato. Essa (re)conexão com a natureza vem sendo expressa de várias formas, desde a criação e manutenção de hortas urbanas comunitárias, tocadas por vizinhos de uma região, em canteiros, praças e terrenos abandonados, até o cultivo de hortinhas caseiras, em vasos ou pequenos espaços.

De maneira mais abrangente, o trabalho dos agricultores familiares também contribui para ampliar à acesso a alimentos in natura, de forma sistêmica. Segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, os pequenos produtores são responsáveis por 70% do fornecimento de alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, como frutas, verduras e legumes. “A agricultura familiar continua sendo o nosso esteio, somos nós que produzimos os alimentos principais dos brasileiros”, afirma o produtor Venceslau Donizete de Souza, presidente da Cooperacra – Cooperativa da Agricultura Familiar e Agroecológica, de São Paulo. A cooperativa, composta por produtores de Americana, Nova Odessa, Limeira, Santa Bárbara D’Oeste e Piracicaba, no interior de São Paulo, foi criada no final da década de 1980 com o objetivo de “fixar o homem no campo, resgatando a dignidade do produtor rural”.


Em linha com o conceito de alimentação adequada e saudável, muitos agricultores familiares, como os da Cooperacra, optando pela cultivo de orgânicos, produzidos sem agrotóxicos, e pelo uso formas sustentáveis de manejo, como o sistema agroflorestal. “A gente baniu o uso de produtos químicos e, agora, apostamos na modalidade agroecológica, com uma visão de preservação do meio ambiente, da água. Isso tem fortalecido a agricultura de um modo geral”, diz Venceslau. “É o produtor do campo aperfeiçoando uma forma de produzir diferenciada”, acredita ele. Isso contribui para a promoção de uma alimentação saudável, baseada em alimentos frescos, regionais e sazonais, seja por meio dos programas de alimentação escolar – um dos focos principais da Cooperacra – seja pelo comércio em feiras ou direto ao consumidor final.

Como surgiu a Cooperacra, nas palavras de Venceslau:

“A cooperativa foi formada a partir do êxodo rural decorrente da chamada ‘modernização conservadora’ dos anos 1970, que mecanizou em larga escala a agricultura, expandiu a monocultura e concentrou a renda em latifúndios, além de implantar o uso indiscriminado de agrotóxicos. Quando as famílias chegaram, algumas foram trabalhar na indústria têxtil, outras, porém, aproveitaram o fato da prefeitura disponibilizar terrenos públicos vazios para a plantação de milho, abóbora, mandioca e hortaliças, e começaram a exercer sua vocação ligada ao cultivo da terra. Essa circunstância foi o início da ideia do que viria a ser a Cooperacra. De certa forma, essa movimentação serviu como exemplo para a iniciativa de ocupação por outras famílias de outras áreas públicas, que não estavam sendo utilizadas, para a formação das hortas urbanas da cidade, sem oposição das autoridades locais.”

 

Palavras chave:

Orgânico

São os alimentos produzidos sem o uso de agrotóxicos. Para ser reconhecido como orgânico, é preciso obter selos e certificações que garantam ao consumidor a origem daquele alimento e a forma como foi produzido.

Agroflorestal

Cultivo que vai além do conceito de orgânicos, visando a uma produção em equilíbrio com o meio ambiente. Envolve a preservação das águas, o plantio de variedades que se protegem mutuamente, evitando o uso de agrotóxicos. Também pode ser usado para recuperação de florestas e áreas degradadas.