Postado em
Kleiton e Kledir, o "gênio" e o "irmão do gênio"
Com mais de 40 anos de carreira, Kleiton e Kledir colocaram o Rio Grande do Sul no mapa de referências musicais no Brasil. A dupla gaúcha já lançou mais de 20 discos em português e um em espanhol, o que lhes rendeu disco de ouro e shows por EUA, Europa e América Latina. Gravaram em Los Angeles, Nova York, Lisboa, Paris, Miami e Buenos Aires. Suas composições foram gravadas por Simone, Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Ivan Lins, Chitãozinho e Xororó, Zezé de Camargo e Luciano e outros grandes nomes da música.
Seus novos projetos incluem o CD “Par ou Ímpar”, de música para crianças e “Com Todas as Letras”, que faz uma aproximação da literatura com a música popular e propôs para grandes nomes da literatura como Luis Fernando Verissimo, Martha Medeiros, Fabrício Carpinejar, Lourenço Cazarré, entre outros, a escrever letras para canções. A dupla, que gravou na memória do brasileiro o hit “Deu pra ti, baixo astral, vou pra Porto Alegre e tchau”, não pretende parar e se sente estimulada a produzir cada vez mais. Com tanto talento não dá pra ficar apenas em Porto Alegre.
Para Kleiton - Quem é Kledir?
Kleiton - Kledir é, há muito tempo, um ícone na cultura, na música popular brasileira. Artista performático nos palcos, grande compositor e intérprete, para mim é um privilégio estar com ele produzindo arte há tantas décadas com tanta qualidade e reconhecimento.
Para Kledir - Quem é Kleiton?
Kledir - Kleiton pra mim será sempre o "gênio". Assim ele era chamado na escola e eu era conhecido como "o irmão do gênio". Temos uma vida inteira juntos e é um privilégio ter um parceiro como ele, "meu irmão, meu Par".
Hoje em dia, com a internet, as comunicações e as relações com os agentes culturais estão mais simples, o que não quer dizer que estejam mais fáceis.
Vocês começaram a estudar música muito cedo. Cursaram Composição e Regência, e também Engenharia. Kleiton concluiu seus estudos de pós-graduação na França e obteve seu mestrado em música eletroacústica no Rio de Janeiro. Como a formação musical se reflete na música de vocês? Há um cuidado maior com o lançamento de um novo trabalho?
Kleiton - Nosso aprendizado com música foi a base de tudo que fazemos hoje. Ela tem dois aspectos principais: o estudo formal e a escola prática da vida. Desde novos estudamos música em boas escolas, conservatórios, faculdades de música e depois mestrado. Paralelamente a isso, sempre tivemos uma relação muito íntima com folclore do sul do Brasil e da América Latina, com a música popular, com a música internacional. Participamos de muitos festivais de música e fizemos uma infinidade de shows, ainda amadores, que foi a argamassa de tudo o que viria depois. Quando percebemos, apesar de estudarmos engenharia (Mecânica e Eletrônica) estávamos nos tornando músicos profissionais e o mais importante: criando uma nova linguagem musical para a música popular do sul do Brasil. Isso tudo só foi possível devido a nossa formação musical, fundamental para chegar onde chegamos.
Vocês já lançaram mais de 20 discos em português e um em espanhol, o que lhes rendeu disco de ouro e shows por EUA, Europa e América Latina. Gravaram em Los Angeles, Nova York, Lisboa, Paris, Miami e Buenos Aires. Suas composições foram gravadas por Simone, Adriana Calcanhotto, Nara Leão, MPB4, Caetano Veloso, Xuxa, Claudia Leitte, Fafá de Belém, Fábio Jr, Nenhum de Nós, Zizi Possi, Ivan Lins, Chitãozinho e Xororó, Zezé de Camargo e Luciano, Emilio Santiago e muitos outros. Também pelo mundo afora suas músicas ganharam versões de grandes artistas, como os argentinos Mercedes Sosa e Fito Paez, a cantora portuguesa Eugenia Mello e Castro e a japonesa Chie. O que mais vocês vislumbram?
Kledir - O fato de termos realizado tanto só nos estimula a continuar produzindo cada vez mais e melhor. Nossos trabalhos mais recentes são super originais, coisa que nunca havíamos feito: música para crianças e o projeto Com Todas as Letras, que faz uma aproximação da literatura com a música popular. Além disso, inventamos uma oficina de criação de música popular, "Letra & Música", que temos levado a estudantes universitários e comunidades carentes. Tudo isso pode ser acompanhando pelas redes sociais (como Facebook, Instagram...) e pelo site K&K.
Em nossa vida, fazer músicas para crianças, foi um verdadeiro oásis. E queremos fazer sempre, sem parar mais.
Como é inserir Porto Alegre no mainstream musical? Sair do eixo São Paulo – Rio de Janeiro.
Kledir - Quando a gente começou, com a banda Almôndegas, fomos morar no Rio de janeiro e foi um grande desafio. Hoje em dia, com a internet, as comunicações e as relações com os agentes culturais estão mais simples, o que não quer dizer que estejam mais fáceis.
Depois de vários anos fazendo sucesso entre os adultos, vocês resolveram compor para crianças e lançaram o CD “Par ou Ímpar”. É muito diferente compor para crianças?
Kleiton - Sempre tivemos vontade de fazer música para crianças. Criar algo novo, de qualidade e respeitando o mundo infantil como ele se apresenta hoje. Foi um desafio enorme porque, na nossa infância, que foi muito livre e divertida, não havia jogos eletrônicos e nem a televisão tinha papel tão importante como agora. Quando sentamos para decidir o que deveríamos fazer, que tipo de música compor, quais os assuntos eram importantes, percebemos que há coisas que são eternas para as crianças de qualquer época: os mágicos, o amor pelos animais, as brincadeiras de rua, as histórias bem contadas. São muitos aspectos que se perpetuam. Até hoje as crianças tiram Par ou Ímpar para tomar alguma decisão. É algo universal! Foi então muito prazeroso, através dessa percepção, compor, fazer arranjos, gravar discos e depois montar um belíssimo espetáculo, com o Grupo Tholl. Trabalhos artísticos que foram premiados, pela dimensão que tomaram. Em nossa vida, fazer músicas para crianças, foi um verdadeiro oásis. E queremos fazer sempre, sem parar mais.
NOSSO APRENDIZADO COM MÚSICA FOI A BASE DE TUDO QUE FAZEMOS HOJE. ELA TEM DOIS ASPECTOS PRINCIPAIS: O ESTUDO FORMAL E A ESCOLA PRÁTICA DA VIDA.
“COM TODAS AS LETRAS”, o disco mais recente de vocês é um projeto que faz uma aproximação da literatura com a música popular. “Lixo e Purpurina”, foi uma parceria inédita de vocês com o escritor Caio Fernando Abreu e o ponto de partida e serviu de inspiração para todas as novas parcerias que surgiram com grandes nomes da nossa literatura, que viveram pela primeira vez a experiência de escrever uma letra de canção: Luis Fernando Verissimo, Martha Medeiros, Fabrício Carpinejar, Leticia Wierzchowski, Daniel Galera, Paulo Scott, Claudia Tajes, Alcy Cheuiche e Lourenço Cazarré. Podem contar um pouco sobre essa forma de fazer música? Os escritores enviam as letras e vocês musicam? Como funciona?
Kledir - Foi um projeto original, com escritores consagrados escrevendo letras de música, enriquecendo o nosso cancioneiro com novas ideias e maneiras de escrever canções. O processo foi assim: primeiro encontrávamos o escritor para entender o que ele gostava em música. Fazíamos então uma melodia dentro desse universo pessoal e pedíamos para que escrevesse sobre a música pronta. A ideia era que escrevessem palavras para serem "ouvidas" e não "lidas", como estão nos livros. O resultado foi extraordinário. Gerou obras caligráficas que, reunidas, viraram exposição em Nova York, Lisboa e outros lugares do mundo.
Atualmente vocês estão viajando com o espetáculo CASA RAMIL, que reúne pela primeira vez os músicos da família: Kleiton, Kledir, Vitor, Ian, Gutcha, Thiago e João. Foi inevitável influenciar a família a seguir a carreira musical?
Kledir - Parece que sim. A gurizada está vindo com muito talento e a gente aprende muito com eles. Um bom exemplo é o Ian, que venceu o Grammy Latino no ano passado.