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Música, política e o universo poético de Leoni
Garotos ou garotas, não importa o gênero, são difíceis de resistirem aos mistérios de Leoni. E eles estão à disposição das plateias com a turnê “Multiversos”, onde o carioca mistura música, poemas e projeções em um espetáculo harmônico e repleto de sensibilidade, como as cordas do violão, seu fiel escudeiro nos shows.
Entre as canções escolhidas para a turnê, o repertório conta com faixas inéditas como “Tocha acesa”, feita a partir de poemas de Cazuza, com o qual já trabalhou outras vezes, como na canção de grande sucesso “Exagerado”.
Suas letras dialogam com a poesia e abordam desde o sofrimento e o fracasso, ao amor e a celebração, capazes de proporcionarem um mix de sensações e arte.
Em entrevista à EOnline, Leoni falou sobre seu amigo e companheiro de trabalho, Cazuza, poesia, política, trabalho e sua relação com as mídias sociais. Confira:
Eonline: O que você mais gosta na poesia? Como essa arte está incorporada em suas letras?
Leoni: Adoro o descompromisso da poesia contemporânea com qualquer tendência, escola, formato e, principalmente, adoro sua independência em relação ao mercado. Pelo fato de não ser uma arte comercial, manteve-se sempre inquieta, insatisfeita e inovadora. Também me encanta a dificuldade da poesia, que nos obriga a reduzir o ritmo, saborear, reler. A poesia é um oásis de dificuldade num deserto de superficialidades. E adoro a loucura dos poetas, que nos lembram que o nosso cotidiano não é a única realidade possível, que a vida é muito mais do que pagar contas e lavar a louça.
Eu sempre gostei de poesia. Vários de seus recursos sempre fizeram parte do meu arsenal na hora de escrever letras. Mas de um tempo pra cá, sinto que venho incorporando um pouco mais dessa falta de linearidade, desse pouco caso com a comunicação fácil, no que venho escrevendo. Estou mais atento à linguagem e suas possibilidades.
Eonline: Seguindo o verso “Na esquina mais escura do mundo" - sua parceria com o poeta Fabiano Calixto - qual a relação que você faz da música com a política atual?
Leoni: A música que reflete os nossos tempos está fora das paradas. Mas há muita gente pensando esses tempos cinzas, individualistas, competitivos, focados na eficiência e no lucro e transformando o pesadelo em arte. O problema é fazer essas manifestações chegarem a mais gente. No meu show “Como mudar o mundo?”, de 2013, eu já discutia muitos desses temas. Muito da produção mais focada na política tem vindo de São Paulo. Acho que com essa onda neo-careta tomando o poder político, teremos mais artistas com a necessidade de falar sobre o assunto.
Eonline: Sobre Cazuza, como era sua relação com ele? Como você acha que ele enxergaria o atual momento do País se estivesse vivo?
Leoni: Acho que ficaria horrorizado com essa ascensão conservadora/religiosa. Ainda mais depois de termos vivido tempos de tanta liberdade individual até o final dos anos 1980.
Eonline: Como você enxerga plataformas de músicas, como Spotify?
Leoni: Os players de streaming, como Spotify e Deezer, são a única possibilidade de remuneração no universo digital. A seu favor têm a enorme seleção de músicas disponíveis. Contra, a insegurança de nem sempre encontrarmos nossas favoritas o tempo todo, já que parece que o acervo é mutante. Ninguém nunca tem a posse de uma canção ou de um disco. Atualmente os compositores e artistas são muito mal remunerados e mal informados de seus direitos. Vai haver uma guerra entre artistas e gravadoras para que alguma justiça seja feita.
Leoni se apresenta em Santo André nesta sexta, dia 27 de janeiro. Os ingressos para o show estão esgotados.