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Desce pra ver - Danilo Yamamoto

Para quem visitou o Sesc São Caetano ou passou pelo menos uma vez por ali em 2016, com certeza teve a oportunidade de apreciar o painel na fachada da unidade com as obras de talentosos artistas. A cada três meses, um ilustrador para concebe sua obra ao vivo. O projeto Desce pra Ver apresenta artistas da região do ABC, convidados a mostrar um pouco do seu trabalho em uma tela de 4,5 metros por 3,5.

Em sua 4ª edição, o Desce pra Ver traz Danilo Yamamoto, graduado em Publicidade e Propaganda pela Faculdade Editora Nacional. Trabalhou em agências de publicidade como diretor de criação/arte, foi voluntário em escola pública, professor de designer gráfico no Colégio Pentágono e de caricatura na Prefeitura de São Caetano. Também é fotógrafo e hoje administra a Estação Brasil - Casa de Arte e Cultura em São Caetano do Sul.  Desde 2016 vem desenvolvendo obras autorais e expôs trabalhos em Torres Vedras - Portugal, Araraquara e São Caetano do Sul.

"Tenho como propósito expressar visualmente os sonhos de quem consegue sonhar."

EOnline:  Quem é Danilo Yamamoto?
Danilo: Logo de cara uma pergunta existencial?! Haha
Bom, o Danilo é um cara de ótimo humor - mas nem sempre entendem suas piadas. :) De alguns anos para cá, venho estudando e investindo bastante tempo no autoconhecimento e na descoberta dos meus reais propósitos aqui nessa nave espacial chamada Terra. Com muitas meditações, conversas, reflexões e principalmente vivências, vem ficando cada vez mais claro que meu propósito é dar cara para os sonhos das pessoas, seja através da identidade visual gráfica de uma empresa ou projeto, para até mesmo a ilustração que servirá de presente para alguém. Durante um tempo cheguei a me arrepender de ter me formado em Publicidade e Propaganda, pois no meu ponto de vista, é um mercado onde às vezes se vende mentira em troca de capital (já vi muito disso na fila de jobs de agências por onde passei). Porém percebi também que este conhecimento pode ser usado para coisas boas, como por exemplo a Agência 13vinte, que pretendo lançar em 2017 com foco no 3º setor e pequenas empresas ligadas ao desenvolvimento humano.
Recentemente fiz um curso de desenvolvimento de ilustrações infantis com a mestra Chris Mazzotta, que me abriu a mente para novas formas de expressão artística e emocional e que já culminou num dos livros que também quero lançar em breve. Enfim, sou um sonhador também, com vários projetos engatilhados, mas que pretende no futuro se tornar autor e ilustrador de livros infantis permanentemente, para poder contar para as pessoas como percebo o funcionamento das coisa nesta nossa nave espacial.

EOnline: Como é ser um articulador cultural? Qual o seu papel para a sociedade?
Danilo: Ser articulador cultural dá um certo trabalho, mas é incrível poder conhecer pessoas que estão seguindo seus “Coelhos Brancos” por aí. Eu chamo de Coelho Branco aquela busca pela real essência de cada um. Se a arte é condição da existência, existe algo mais artístico do que apenas seguir os sonhos e ser? Através deste trabalho conheci muitas pessoas interessantíssimas e inspiradoras. Para a sociedade isso me possibilita aproximar interesses artísticos a interesses comerciais. Fazer essa ponte entre os sonhos das pessoas e a matéria do dia a dia.

EOnline: Como foi participar do Coletivo Brasil 2016 em Portugal? Pode nos contar um pouco?
Danilo: Foi realmente incrível! Tudo começou em 2015 quando resolvi ir para a Flip sozinho (mas seguindo meu Coelho Branco), pois nenhum dos meus amigos topou sair do bar na quinta a noite e pegar a estrada na sexta as 8h da manhã. Na ocasião, fui com o objetivo de conhecer editoras independentes, autores e, principalmente, os ilustradores, já pensando em como publicar os meus livros infantis. Uma das pessoas que conheci foi o grande aquarelista Ricardo Inke, que me indicou um curso no Sesc Santo André. Ou seja, tive que ir até Paraty para me indicarem um curso no ABC. Neste curso tive a oportunidade de conhecer outros grandes artistas: Lauro Monteiro e o arquiteto português André Duarte Baptista. O André viu meu trabalho e me convidou para expor em Portugal junto das oficinas de inclusão social com o Caricatura, que eu já havia feito em São Caetano. O Coletivo Brasil reúne artistas talentosíssimos de vários lugares do Brasil para expor e fazer uma residência artística em Torres Vedras - Portugal durante alguns semanas, aliada ao projeto mundial SketchCrawl que também reúne artistas do mundo todo. Neste período tive a oportunidade de expor 3 trabalhos de Livro de Artista: inspirado no tema “Liberdade: um mundo sem fronteiras”, expus dois livros artesanais, com diversas caricaturas e pensamentos de filósofos e pessoas, que lutaram pela liberdade ao redor do mundo, enforcados e suspensos por uma corda. E um terceiro livro com figuras de animais de zoológico, dentro de uma gaiola, para as pessoas poderem libertar por alguns instantes aqueles animais. Essa mesma exposição já passou por Araraquara e agora está em São Caetano do Sul. Além da exposição, dei Oficinas de Caricatura para um grupo de necessidades especiais de visão, para o APECI (Associação para Educação de Crianças Inadaptadas) de Torres Vedras e em algumas escolas da região.

EOnline: O projeto “Sarau de Lua Cheia” é um evento criado por você e muito conhecido na cidade.  A iniciativa foi sua ou partiu dos artistas da região?
Danilo: O Sarau de Lua Cheia é lindo! Ele foi criado em conjunto com diversos artistas. No princípio tínhamos na Estação Brasil um coletivo grande de artistas colaboradores que ajudaram a formatação inicial do projeto. Inclusive a artista Tânia Turcato foi quem sugeriu de cantarmos a Canção da Lua (Grupo MPB 4) na primeira edição e hoje se tornou um ritual quase que místico no início e fim de cada Sarau. Com o tempo fui assumindo a curadoria do projeto, ou seja, definir temas, divulgar e convidar os artistas a virem se expressar. Chegou um tempo que ele estava se tornando um grande festival de bandas e perdendo a essência artística de origem. Foi aí que em conjunto com a Diretoria/Conselho da Estação Brasil, mudamos o formato para algo mais intimista e sensorial, com experiências artísticas, e não apenas apresentações. Nosso objetivo é fazer o público se sentir com vontade de se expressar, seja isso com dança, música, desenho ou poema. O Sarau de Lua Cheia na verdade é um grande encontro de todas as pessoas com o seu próprio ser artístico, por isso temos o lema: Somos todos artistas.

EOnline: Como foi receber o convite do Sesc? Já fez algum trabalho parecido?
Danilo: O convite do Sesc veio de um sequência de coisas parecidas com aquilo que me levou à Portugal. Sempre digo: faça as coisas de coração e dentro dos seus propósitos que o Universo conecta tudo lá na frente. Quando estive expondo em Araraquara (nesta ocasião corri o risco de não conseguir ir para lá), acabei conhecendo o pessoal do Sesc de lá, que inclusive pediram a autorização de usar uma ilustração que fiz no espaço para decorar o ambiente da lanchonete; assim, o Gerente Daniel Hanai conheceu meu trabalho como articulador cultural e passou meu contato para a Gerente Denise Lacroix daqui do Sesc São Caetano. Marcamos algumas conversas e conheci a Debora, da programação, que viu meu trabalho e deve ter falado com a Helena (Artes Visuais).. enfim.. pontos se conectando! Fiquei muito feliz! Já havia feito algo parecido para um cliente de publicidade, mas não com tanta liberdade artística. Neste Job foi um painel impresso num Stand. Mas desenhar na rua e com outras pessoas vendo é normal pra mim. Durante muito tempo fiz eventos de caricatura ao vivo, seja isso em casamentos ou aniversários. Também fui convidado a fazer caricaturas em duas feiras internacionais, uma delas em Bento Gonçalves - RS, onde por baixo desenhei umas 800 pessoas em 5 dias de evento.

EOnline: Quando você faz trabalhos sob encomenda para editoras por exemplo, consegue ter a liberdade de fazer o trabalho como gosta?
Danilo: Foi exatamente o que disse anteriormente, trabalhos muito comerciais tendem a trazer muitas restrições artísticas. Ainda mais que eu não tenho um estilo super definido, a demanda que ainda recebo é muito variada e as vezes fico refém das “referências” esperadas. Neste projeto do Sesc, consegui aliar um estilo que gosto de fazer, com uma linguagem pessoal e um tema o qual venho pesquisando: os efeitos do tempo cartesiano vs o tempo natural e como as medicinas da floresta conectam esses dois mundos.

EOnline: O que mais você gosta de fazer? Qual a sua maior paixão?
Danilo: Sem dúvida é desenhar. Desenho desde criança. Fazia muitos dinossauros e cheguei a cogitar em ser Paleontólogo, na época lembro que as pessoas achavam estranho uma criança de 8 anos falar em paleontologia.. Gosto muito de viajar e conhecer histórias. Hoje minha maior paixão é seguir minhas vontades de coração aberto.

EOnline: Como a caricatura apareceu na sua vida? É um talento nato ou foi um processo de aprendizagem?
Danilo: Então.. sempre digo que talento não existe.. existe sim vontade! Vontade de fazer, de aprender, de melhorar e de não parar. A caricatura começou na época de escola ainda.. desenhando professores e amigos. Lembro que quando tinha uns 12 anos, desenhava os amigos da rua para fazer fanzines, mas alguns deles não gostavam, porque eu exagerava nas orelhas ou dentes.. mas a questão é que eles tinham as orelhas e dentes gigantes. Um tempo depois, quando saí da primeira agência de publicidade que trabalhei, abri uma empresa especializada em serviços de casamento, onde vendia sites, retrospectivas personalizadas e caricaturas para os noivos. Já fiz muita caricatura nessa vida.. Depois disso, dei Oficinas em São Caetano e Portugal. O processo de aprendizagem não para, ainda hoje vejo vídeos e estudos de outros grandes caricaturistas.

EOnline: Como faz para conciliar o seu trabalho de ilustrador e se dedicar na Casa de Arte e Cultura em São Caetano?
Danilo: Pois é, as vezes nem eu sei como. O meu estúdio de trabalho fica em casa mesmo, uns 200 metros de distância da Estação Brasil, então isso facilita conciliar trabalho e tempo. A maior parte dele, aliás, estou em casa atendendo clientes e fazendo jobs particulares. O centro cultural exige mais de mim durante os eventos e na sua pré e pós produção. Aí sim, são reuniões extensas, encontros, conversas, preparação e os eventos culturais em si: receber as pessoas, ver horários, etc. Mas normalmente durante os outros dias temos uma programação cultural fixa que não necessita da minha presença.

EOnline: Você como empreendedor, como vê o futuro dos colegas ilustradores?
Danilo: A questão sobre a profissionalização do ilustrador é um debate a longo tempo.. Lembro que logo que abri meu estúdio, entrei em muitos fóruns, falei com muitas pessoas e pesquisei muitos sites para conseguir a legalização da minha empresa. Mas lembro que foi difícil na época, nem mesmo o contador sabia me dizer que Cnae usar na abertura do negócio. Hoje percebo que a informação está muito mais acessível e existem grandes movimentos como a SIB que buscam uma padronização. Confesso que hoje estou bem por fora da parte jurídica da coisa, mas referente às relações, os ilustradores precisam ficar muito atentos aos seus egos. Trabalhar com arte é saber lidar com o ego seu e do outro. Já vi muita briga e discussão de grandes nomes, por causa de ego. Mas por outro lado, ouvindo podcasts e lendo entrevistas, o Brasil é um dos maiores e mais criativos produtores de ilustradores do mundo, ou seja, o futuro no meu ponto de vista, não tem fronteiras para ninguém!