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O perfil de Ubaldo de frente pra trás
Em sua primeira edição de 2017 o Contextos Literários faz uma homenagem ao escritor João Ubaldo Ribeiro (1941-2014). Com livros publicados em todo o mundo, dentre diversos prêmios, o escritor ganhou o Jabuti (1985) e o Camões (2008). Sargento Getúlio (1971) e Viva o Povo Brasileiro (1984) são suas obras primas - suas e da literatura brasileira. Seus livros originaram peças teatrais, filmes, minisséries e estudos acadêmicos.
Por trás de tanta criatividade e densidade literária havia um homem culto e simples, que nunca se levou a sério publicamente. Sempre riu de si mesmo e das grandiosidades que diziam sobre seus textos. Nunca gostou que comparassem a inventividade formal de Sargento Getúlio com Guimarães Rosa; nunca quis desenvolver a ideia de que Viva o Povo Brasileiro era um romance histórico.
A partir de fevereiro, o Sesc Consolação apresenta sua obra em diferentes linguagens, com a proposta de (re)aproximar o público deste legado por meio da literatura, da música, do cinema e de reflexões sobre a vida e a obra do autor. Por isso, pedimos para que Juva Batella, sobrinho de Ubaldo, cuja tese de doutorado revelou aspectos inéditos dos romances publicados pelo tio, escrevesse de trás pra frente um perfil deste grande escritor baiano.
"Ubaldo deixou-nos em 2014, e também livros por todo o mundo. Ganhou importantes prêmios e foi convidado de honra em universidades alemãs, americanas e portuguesas. Morou na Califórnia, em Lisboa e em Berlim.
Em 1994 sentou-se na cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras. Dez anos antes, Viva o povo brasileiro, seu mais denso trabalho, virou livro. Começou-o em 1980, e chamava-se Alto lá, meu general. Em 1971 Sargento Getúlio saiu do prelo, depois de muita batalha. Em 1968 publicou seu primeiro romance: A semana da Pátria, mudado para Setembro não tem sentido. O livro só conseguiu sair graças a Glauber Rocha.
Em 1961, na coletânea de contos Reunião, publicou Josefina, Decalião e O campeão. Foi, no entanto, na antologia Panorama do conto baiano que se deu sua estreia na ficção brasileira. O ano é 1959, e o conto chama-se Lugar e circunstância. Ganhava dinheiro como office-boy para a Prefeitura de Salvador.
Em 1958, foi aluno de Direito da Universidade Federal da Bahia. Editou revistas culturais e políticas e, acima de tudo, leu e releu os clássicos que anos depois estariam gritando dentro de sua literatura. Mal tinha 17 anos e já trabalhava, em 1957, como repórter. Sua primeira entrevista foi com Aldous Huxley, autor de Contraponto e Admirável mundo novo.
Iniciou o curso clássico no Colégio da Bahia, e em 1956 conheceu Glauber Rocha. Começou a estudar para valer em 1947, aos 6 anos. Entrou para o Instituto Ipiranga, em Sergipe, e deu início a uma verdadeira bibliofagia, estimulada e exigida por seu pai, que não se contentava com nada menos que o primeiro lugar e a excelência. O menino ficaria então horas na biblioteca de sua casa, às voltas com livros infantis, em especial os de Monteiro Lobato.
A infância toda passou em Aracaju, colecionando, sem saber, as histórias que dariam no seu Sargento Getúlio; a infância toda, com exceção dos dois primeiros meses, vividos na casa de seu avô, na Rua do Canal, número 1, na ilha de Itaparica - a casa onde, no dia 23 de janeiro do ano de 1941, como filho primogênito de Maria Felipa Osório Pimentel e Manoel Ribeiro e sob o nome de João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro, nasceu."
Acompanhe a programação do Contextos Literários: João Ubaldo Ribeiro