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O Teatro como Intervenção Estética e Política
As “vozes” ouvidas por Joana D’arc no espetáculo “A Brava” tornam-se símbolos que podem ser interpretados como a ousadia de trilhar caminhos contrários a padrões pré-estabelecidos pela sociedade. Esta é uma das características do trabalho da Brava Companhia, que apresenta em julho os espetáculos “A Brava” e “Este Lado Para Cima”, no Projeto Repertórios do Sesc Campo Limpo.
Seu trabalho de pesquisa tem como eixos principais o corpo, o jogo e o improviso, aliados à vontade de fazer um teatro que possa alcançar a população que tem pouco ou nenhum acesso a essa linguagem. Pensando nisso, uma prática que caracteriza o grupo é a circulação de seus espetáculos pelas regiões periféricas da cidade de São Paulo, com o objetivo de levantar questionamentos sobre os problemas da sociedade, despertando assim, reflexões críticas no público.
Inspirados pela história da heroína francesa Joana D’arc, o grupo montou o espetáculo “A Brava” com referências na cultura anárquica, utilizando recursos como a música e a interação com a plateia. Explorando o drama e o humor, a Cia. traça paralelos com os dias de hoje para propor uma reflexão sobre objetivos, rumos e escolhas que fazemos em nossas vidas
O Diretor Ademir de Almeida explica que a Companhia “é formada por filhos de trabalhadores e trabalhadoras, é um grupo de teatro que tem origem na camada social menos favorecida da sociedade. Portanto, tratar de questões sociais é tratar das questões que afligem ao próprio grupo e aos seus iguais”.
O processo de elaboração e criação dos espetáculos é feito de maneira coletiva, possibilitando que todos os integrantes do grupo participem de todas as fases. ”Desde as decisões sobre abordagens temáticas, até o trabalho manual de confecção dos cenários e figurinos, cada integrante assume funções dentro do desenvolvimento. O resultado final é uma obra que pertence a todos os envolvidos”, conta Ademir.
Como sede de suas apresentações e pesquisas, o grupo utiliza o espaço do Sacolão das Artes, localizado na região do Parque Santo Antônio, zona sul de São Paulo. O lugar que antes estava abandonado foi ocupado depois de mobilização popular iniciada pela Brava Cia. Hoje o local é um centro cultural que oferece programações de teatro, cinema, dança, música, artes visuais, rodas de leitura, atividades esportivas, poesia, grupos de estudo, etc.
Para o diretor, toda intervenção estética é política, mesmo que quem as realize não tenha consciência disso. “O teatro, assim como qualquer arte assumidamente politizada é importante na sociedade, primeiro porque resgata a função social da arte, destacando o fazer artístico do mero culto ao belo e do vazio do mundo do entretenimento”, conclui Ademir.
Com humor, são discutidos na peça “Este Lado para Cima” o poder do mercado e o controle das relações humanas. A Companhia também faz uso de referências anárquicas para construir um espetáculo de rua sobre a crise que abate uma cidade, onde seus habitantes vivem em razão do trabalho, sonhando com um futuro de felicidade, até que a ordem estabelecia começa a ser ameaçada.
“A arte política, quando executada de maneira consequente, pode lançar um olhar crítico sobre a realidade estabelecida, colocando em xeque consensos, problematizando certezas, causando algum distúrbio em meio à ordem”, finaliza o diretor. Com a proposta de despertar a reflexão sobre temas sociais, as cenas dos espetáculos da Companhia farão o público se identificar com algo em sua rotina que pode começar a ser visto com outros olhos.
o que: | Repertórios com A Brava Cia. |
quando: |
A Brava - 23 e 24/7 quinta e sexta às 20h | 25/7 sábado às 20h30 Este Lado Para Cima - 30 e 31/7 quinta e sexta às 20h | 1/8 sábado às 20h30 |
onde: |
Sesc Campo Limpo | Rua Nossa Senhora do Bom Conselho, 120 |
ingressos: |
Grátis. Não é necessário retirar ingressos. |