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Tirando o público da gaiola
Luzes coloridas, música eletrônica e muitas intrigas. Falando assim, até parece uma balada qualquer, mas não é. Ou, pelo menos, não só. No complexo “A Gaiola das Divas”, que aconteceu no Sesc Pompeia durante a Virada Cultural, o público foi convidado a entrar no clima das noites paulistanas, enquanto interagia com drag queens, atores, dançarinos e, claro, com a música alta. “A plateia faz parte do show. Não é só para ela, mas também é com ela que as ações se desenrolam”, conta Pedro Granato, diretor do evento que juntou a sua peça, “Fortes Batidas”, com outras apresentações, como um coro de drags e coreografias de músicas de David Bowie.
A peça, que abriu “A Gaiola das Divas”, acompanha a trajetória de 15 jovens na pista de uma balada. Em vez de ficar sentada, a plateia fez parte da trama: “Um personagem pode dançar com você, te paquerar, ou você pode, de repente, se ver no meio de uma briga”, explica Pedro. “Fortes Batidas”, que já foi apresentada no Centro Cultural São Paulo e no teatro Pequeno Ato, mistura improviso, interação com o público e uma marcação severa de palco, feita por meio de uma setlist que vai de Stromae a Rocky Horror Picture Show. “É uma estrutura aberta, mas sabemos exatamente aonde queremos chegar”, endossa o diretor, que também já fez discotecagem e, em 2009, se apresentou no Prata da Casa do Sesc Pompeia, interpretando uma diva do pop.
A ideia de criar uma peça-balada surgiu no ano passado, quando Pedro participou de um laboratório de diretores no Lincoln Center, em Nova York. O evento, que reuniu cerca de 60 diretores teatrais do mundo inteiro, fez o criador de “Fortes Batidas” pensar: “Quantos conflitos acontecem em uma balada e sem a gente ver? Situações muito fortes, como terminar um namoro, ter novas experiências ou encontrar os melhores amigos se concentram na noite. Minha vontade era trazer isso para o palco”. A ideia veio, também, da percepção de que há poucas produções teatrais voltadas para o público jovem no Brasil. “Essa geração quer viver uma experiência no teatro que seja diferente de tudo. Então, por que não colocar o público dentro da balada, em vez de contar uma historinha como ele veria na TV?”, questiona.
“A Gaiola das Divas” se conecta com o público jovem também porque foi criado de forma colaborativa por diretores, cenógrafos, atores e coreógrafos de “vinte e poucos anos”, a partir de experiências reais que eles mesmos trouxeram para os ensaios. Até as músicas foram sugeridas por eles, e o sonoplasta, que fica à mostra na peça como o DJ da noite, foi um jovem ator. Para garantir que a trama entendesse as dinâmicas da idade, o grupo apresentou dois ensaios abertos e adaptou cada ação às reações da plateia, incorporando também as opiniões compartilhadas no fim dos ensaios. “Na trama, há dois meninos que se beijam e, para um deles, é a primeira vez que ele fica com um homem. No ensaio aberto as pessoas aplaudiram, comemoraram, então eu vi que era um baita tema e o coloquei em destaque na peça”, lembra Pedro.
Cada apresentação de “Fortes Batidas” é diferente porque o próprio público é outro. Segundo o diretor, durante a Virada Cultural o convite para a participação da peça foi intensificado pelas outras programações, que misturavam show, discotecagem, performance, dança, peça e a experiência do público: “Acho que é uma oportunidade de fazer algo mais marcante dessa fusão. Ficar na memória das pessoas como algo diferente e novo”.