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Autoeficácia e exercícios físicos para idosos

Juracy Campos dos Santos, 70 anos, aluno de GMF do Sesc Interlagos. [Foto: Tamara Demuner]
Juracy Campos dos Santos, 70 anos, aluno de GMF do Sesc Interlagos. [Foto: Tamara Demuner]

Na nossa sociedade envelhecer é considerado, para muitos, uma experiência muito difícil e negativa. Para falar mais sobre isso conversamos com Thabata Ventura, Mestre em Ciências do Envelhecimento, Graduada em Educação Física com especialização em Aptidão Física e Qualidade de Vida, Pós graduada em Método Pilates e Instrutora de Atividades Físicas no Sesc em São Paulo, que fala sobre o processo de envelhecimento, prática de atividades físicas e a importância do senso de autoeficácia e seus benefícios.

EOnline: O que é crença de autoeficácia?

Thabata Ventura: A crença de autoeficácia é um construto importante dentro da Teoria Social Cognitiva, que foi elaborada por um famoso psicólogo, chamado Albert Bandura. De uma maneira bem simples, podemos definir a autoeficácia como o julgamento que cada pessoa faz da sua capacidade para realizar alguma ação específica ou um conjunto de ações. Dependendo da tarefa que vai executar, cada pessoa pode se sentir com uma autoeficácia mais elevada ou mais baixa, o que determina o quanto de motivação ela terá para realizar essa tarefa. Todos os seres humanos tem a capacidade de superar limites que acredita possuir, porém do mesmo modo, cada um pode construir a crença de que é limitado para enfrentar algumas situações. Assim, crenças de autoeficácia positivas contribuem para que as pessoas tenham melhores desempenhos nas diferentes atividades que desenvolvem, e principalmente naquelas que envolvem uma nova aprendizagem.

EOnline: Por que é importante discutir esse tema relacionado ao processo de envelhecimento?

Thabata Ventura: Vivemos em uma sociedade em que envelhecer é uma experiência um tanto quanto difícil. Muitas mudanças acompanham o processo de envelhecimento no âmbito biológico e social, e algumas são difíceis de serem aceitas pelo indivíduo, por conta da ênfase negativa dada pela sociedade. A aposentadoria por exemplo, é um evento chave, pois retrata uma ruptura de um papel social importante, refletindo muitas vezes em perda de status social e da identidade pessoal.

Questões estéticas atreladas ao envelhecimento também são pontos chave a serem discutidos. Ao longo da vida somos bombardeados por informações e apelos sobre a importância de mantermos um corpo belo e dentro de padrões sociais preestabelecidos. A cada dia surgem novas fórmulas ou receitas para o “combate” ao envelhecimento, como se envelhecer fosse uma experiência ruim e que deve ser retardada e inevitada a todo custo. Embora não exista uma regra para isso, nem um tempo determinado para que ocorra com as diferentes pessoas, existe a expectativa de que a velhice acarrete um declínio obrigatório nas competências físicas e cognitivas. Por conta disso, a sociedade cria barreiras à participação social das pessoas mais velhas, antes mesmo que esses eventuais declínios se manifestem. Como as pessoas são ensinadas ao longo da vida que a velhice está relacionada à limitação e incapacidade, as pessoas criam expectativas baseadas nessas crenças e se comportam de acordo com elas. Não raro ouvimos declarações do tipo “Eu não tenho mais idade para isso”, ou “Eu não consigo mais fazer aquilo” por parte de pessoas idosas, o que muitas vezes as impede de se engajarem em novas atividades.

Em muitos casos, a percepção de dificuldade para a realização de tarefas simples, como agachar para pegar algo no chão ou amarrar o cadarço, sentir dores ou incômodos por conta de doenças crônicas associadas à idade, podem fazer o indivíduo idoso se sentir menos competente para realizar suas atividades diárias, gerando sentimento de frustração ou impotência diante de suas necessidades. Portanto, a preservação do senso de autoeficácia positivo na velhice, permite que a pessoa avalie melhor suas próprias capacidades para desempenhos que podem ter sido afetados por perdas biológicas ou doenças ligadas à idade. Assim, a pessoa idosa pode estabelecer novas metas e se engajar em atividades que estejam de acordo com suas reais possibilidades.

EOnline: Como o exercício físico pode influenciar na constituição da crença de autoeficácia?

Thabata Ventura: Embora os benefícios da prática regular de exercícios físicos para a saúde sejam cada vez mais evidentes e divulgados, podemos perceber que muitas pessoas ainda resistem em aderir à prática. Não só motivação, é necessário que a pessoa se identifique com a atividade e se sinta capaz de realizá-la.

O exercício físico possibilita que cada um faça uma avaliação das suas próprias capacidades, e quando a pessoa consegue executar uma atividade que julgava não ser capaz, seu senso de autoeficácia pode se tornar mais positivo. A evolução dos treinos e a progressão da complexidade das tarefas, influenciam positivamente na autoeficácia.

Além disso, atividade praticada em um grupo permite não só que a pessoa estabeleça vínculos de amizade, mas permite que ela observe comportamentos de outras pessoas e faça comparações com suas próprias capacidades. Quando falamos de pessoa idosas isso é muito importante, pois se a pessoa vê a velhice pelo viés da fragilidade e limitação, e se depara com outras pessoas com idade e condições semelhantes à sua realizando uma tarefa motora que julga complexa, ela pode se sentir mais confiável para executar.

Um detalhe importante de ser observado, principalmente por professores de Educação Física, é que a intensidade do exercício influencia na percepção de autoeficácia das pessoas. Quanto maior for a intensidade do exercício para um indivíduo sem muito preparo para suportá-la, maior será também a probabilidade que ele sinta reações fisiológicas intensas, como dor, cansaço, tensão muscular e em função disso, sensação de incapacidade para continuar a praticar, o que pode promover o abandono desse comportamento.

EOnline: Como a prática de exercício físico no Sesc pode contribuir na constituição da crença de autoeficácia de pessoas idosas?

Thabata Ventura: O exercício físico como promotor de habilidades e capacidades físicas é de fundamental importância para pessoas idosas, devido a possibilidade de manter as capacidades funcionais que dão a elas maior autonomia para desenvolver suas atividades diárias.

Na Ginástica Multifuncional (GMF), programa de exercícios físicos do Sesc, a pessoa idosa tem a possibilidade de explorar diferentes habilidades motoras planejadas de acordo com suas necessidades e características individuais. A proposta de aumentar a complexidade motora das tarefas conforme a evolução do aluno, permite que o idoso acompanhe sua progressão e perceba o quanto é capaz de melhorar seu desempenho motor, desmitificando a crença de que o idoso é menos capaz e limitado. Como além do treinamento individualizado a GMF propõe também a participação em aulas em grupo, os alunos tem a possibilidade de conviver e trocar experiências com outras pessoas, de diferentes idades. Isso garante a participação de todos na mesma atividade, cada um respeitando seus limites e potencialidades.

Em minha dissertação de mestrado entrevistei idosos que praticam exercícios físicos em unidades do Sesc de São Paulo e é notória a relação que fazem entre a prática de exercícios e a melhora em aspectos gerais de sua saúde. O fato de se sentirem melhor, com menos dores, faz com que se sintam mais dispostos e com o desejo de continuarem ativos. Ao longo das discussões, os entrevistados apontaram que as atividades que a instituição oferece são adequadas ao público idoso, tanto em relação às suas expectativas, como em relação às suas capacidades físicas para executar determinadas tarefas, o que favorece a constituição de crenças mais positivas sobre suas capacidades.


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