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Um modo de existir na dança: intervenção

foto: Elmo Sellitti Rangel

Onde a dança está permitida a existir? Nos teatros, em palcos com iluminação específica, sob o ritmo de uma música, certamente. E no meio da rua, nas calçadas, confundindo-se com o passar dos pedestres, sob as buzinas dos carros e sons de motores?

Um fenômeno artístico, que não é propriamente recente, mas que ganha cada vez mais espaço, traz à tona essa abordagem: a intervenção. Esse foi o tema escolhido para a quinta edição do projeto Modos de Existir, que recebe o subtítulo “Módulo 5: Intervenções”.

Marcos Villas Boas, responsável pela programação de dança do Sesc Santo Amaro, justifica a escolha: “a dança já vem há um tempo desenvolvendo projetos de ocupação e intervenção urbanas, gerando uma reflexão sobre o lugar da arte no espaço público e como o corpo dos intérpretes se relacionam com os corpos dos pedestres e os fluxos da cidade”.

foto: Elmo Sellitti Rangel


Paula Petreca, bailarina e mestre em Comunicação em Semiótica pela PUC/SP, foi convidada para ser curadora do módulo junto com Villas. “Desde a nossa primeira conversa, nossos pensamentos se afinaram sobre a potência da dança que acontece em espaços a priori não a ela destinados”, conta.

Paula desenvolve trabalhos artísticos e projetos no setor público relacionados à dança. Em 2007, começou a criar videodanças em espaços alternativos e exibi-los em circuitos que considerava fora da realidade da dança, como salões de arte, galerias, shows de rock e espaços culturais. Depois disso, teve uma passagem por Portugal, onde o contato com performance e intervenção em espaços públicos se intensificou. Em Lisboa, integrou o coletivo do Centro em Movimento e fundou um projeto de pesquisa em dança em espaço urbano chamado Projeto Co. Posteriormente, este projeto se transformou em uma companhia, com a volta da artista ao Brasil em 2012.

Villas acredita que a intervenção tem um papel fundamental para que o público vivencie novas possibilidades corporais e percepções do espaço. “Se pensarmos no panorama da dança contemporânea, a questão de formação de público é muito importante”, diz. “Ocupar estes espaços públicos é uma maneira de democratizar a produção e o pensamento contemporâneo”.

Para Paula Petreca, a intervenção em espaço público atinge pessoas que nem sempre estão habituadas a se relacionar com objetos artísticos espontaneamente, o que abre um espaço de encontro e interlocução genuíno. “Como muitas vezes uma intervenção apanha o espectador desprevenido, o que se desperta nele são reações instintivas ou catárticas, que de um modo geral contribuem para o adensamento do trabalho artístico, integrando a apreciação estética do espectador à textura do trabalho, aproximando quem vê e quem faz”, afirma.

Esse tipo de situação borra os contornos de onde está a arte, onde está a ação artística, e mobiliza a percepção para uma leitura mais sensível do espaço, segundo ela. “Eu acredito que a obra de arte em espaço público tem uma função educativa, social, ecológica, humanizadora muito grande e por isso deveria ser uma garantia para a população”.

As obras de intervenção são bastante abertas à relação com o acaso, o improviso e a colaboração do que chega do entorno. Paula explica que isso produz no artista um grau de disponibilidade e atenção muito grande, que mexe com o estado de corpo e presença cênica, exercitando grande abertura mental, perceptiva, motora, imaginativa e sensível. Essa abertura e a implicação do artista no “aqui e agora” torna seu estado de espírito ligeiramente distinto de um modo de estar ordinário. “Essa sensível transgressão abre em quem vê a ideia de liberdade, de possibilidade”, diz Paula. “Como a liberdade é visceral e assustadora, ela pode abrir reações também mais doentias, mas é nesse risco que a obra de arte atua, na transformação do ser humano sem juízos de valor”, encerra.

foto: Elmo Sellitti Rangel

 

O Modos de Existir

Marcos Villas Boas criou o Modos em 2012, com o intuito de mostrar a diversidade de linguagens da dança. “O projeto surgiu a partir da constatação de que, por motivos estéticos, políticos e econômicos, a produção de dança vem se diversificando nesta última década”, conta. “Assim, a dança amplia sua área de atuação e o bailarino também, uma vez que lhe é exigido novas estratégias de atuação no espaço e na relação com o público”.

O projeto já discutiu Coletivos (agosto/2012), Parcerias e colaborações (abril/2013), Cias. e grupos (novembro/2013), e Solos (setembro/2014). O objetivo é não só de apresentar espetáculos variados de dança para o público, mas também promover intercâmbios entre os artistas. Todos os envolvidos acabam participando de uma imersão na linguagem, reunidos na unidade, nos espaços de convivência e nas apresentações.

Veja a galeria completa com as imagens da programação:

 

o que: Modos de Existir//Módulo 5: Intervenção
quando:

de 11 a 14 de junho

onde:

Sesc Santo Amaro | Rua Amador Bueno, 505 | 11 5541-4000

ingressos:

Grátis