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Christian Boltanski inaugura obra inédita

Detalhe da exposição na área de convivência
Detalhe da exposição na área de convivência

Ocupando cerca de 1.400 m2 do Área de Convivência do Sesc Pompeia, Boltanski - 19.924.458 +/-,  instalação inédita em grandes dimensões de Christian Boltanski, reafirma a síntese da investigação de todo o trabalho do artista francês: o enigma entre vida e morte depois de visitar a capital paulista no ano passado.

Boltanski - 19.924.458 +/- (número oscilante que corresponde à população de São Paulo) conta com uma densa concentração de 950 torres (arranha-céus) construídas em papelão, revestidas de páginas de listas telefônicas. Além disso, na exposição, um movimento de luzes em períodos de tempo alternados torna-se um indicador de nascimentos e mortes na megalópole paulistana. 

Ao percorrer o espaço, ou ter uma visão aérea da cidade a partir de uma plataforma, o visitante vivenciará situações que iluminam a poética do artista, ou seja, a memória, a identidade, a ausência, a perda e a morte. A instalação, que pulsa na frequência do desaparecimento dos indivíduos e no surgimento de outros, potencializa as questões que Boltanski quer provocar.

De acordo com o curador Marcello Dantas, o artista evoca uma memória sem juízo de valor, e por isso mesmo diferentes verdades podem ser encontradas dentro do mesmo invólucro. “Essa capacidade de criar situações em que o espectador passa a depositar sua própria memória no espaço que Boltanski criou é o ato maior de sua arte”, ressalta Dantas.

Ainda segundo Dantas, as instalações do artista francês são terrenos férteis para a interpretação ao remeter a memória das coisas – a memória contida dentro de objetos. “Para ele, os objetos servem de  testemunho mudo para o sofrimento e a experiência humana”, completa o curador.

Boltanski costuma se comparar a uma espécie de filósofo que investiga grandes questões da humanidade por meio de imagens e instalações que operam no nível emocional. Ele também se compara a artistas inquietos, como a artista plástica francesa Louise Bourgeois (1911 – 2010), explorando as adversidades e agruras de suas vidas.

Além desta instalação, o artista continua no Sesc Pompeia a pesquisa que vem realizando pelo mundo. A Cabine do Coração é mais um processo do que uma obra, no qual o visitante é convidado a gravar o som das batidas de seu coração. Este conjunto de batimentos cardíacos é mantido por Boltanski em uma crescente coleção.

Trajetória do artista

Os eventos históricos que acompanham a vida de Christian Boltanski, como o fim da grande guerra e a liberação de Paris, marcam todo seu trabalho. Aos 14 anos de idade, dedicou-se à pintura. Aos 27 anos ganhou reconhecimento ao expor na galeria Sonnabend em 1971 e na Documenta de Kassel em 1972, após uma série de exposições nos Estados Unidos que começaram em 1987 e passaram por Nova York, Chicago, Los Angeles, e, depois dos anos 1990, em numerosos museus europeus. O artista passou a trabalhar cada vez mais com a luz e as sombras, criando as séries Monuments, Reserves e Lessons Of Darkness que resumem um título deste período.

No início dos anos 2000, Boltanski se volta para as grandes instalações e participa de espetáculos musicais, em que também, durante este período, começa seu projeto dos Arquivos do Coração (Archives Du Coeur). Suas instalações tornaram-se mais complexas com a utilização do som como movimento. Os trabalhos de Boltanski afirmam a obra de arte total, l`Art Total. Dedicou-se ao ensino em grande parte de sua vida e produziu mais de 100 livros de vários artistas. Christian Boltanski vive e trabalha em Malakoff, nos arredores de Paris, mas passa a maior parte de seu tempo viajando para criar novos projetos pelo mundo.

Além das edições da Documenta V (1972), VI (1977), e VIII (1987) e da 54ª Bienal de Veneza (2011), Boltanski realizou importantes exposições: no Centre Georges Pompidou Paris (1984); no Museum of Contemporary Art, em Chicago e Los Angeles (1988); e na Whitechapel Art Gallery, Londres (1990). No Brasil, participou da Bienal Internacional de Arte de São Paulo (1996) e realizou sua primeira mostra individual no país, na Casa França-Brasil (Rio de Janeiro), em 2012. Recentemente, entre suas aparições individuais, destacam-se as realizadas no Kunstmuseum Wolfsburg na Alemanha (2013); no Park Avenue Armory em Nova York (2010) e na Serpentine Gallery, Londres (2010).