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Filho de Ogum Bexigento
No Dia Nacional do Choro, data que homenageia o nascimento de Pixinguinha, confira apresentações especiais, 23 de abril no Sesc Bom Retiro e Estação da Luz.
“Um negão filho de Ogum, bexigento e fadista de profissão”, assim Mário de Andrade registrou a presença de Pixinguinha, em seu livro “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter”. Comemorado em 23 de abril, o Dia Nacional do Choro foi criado em homenagem a Alfredo da Rocha Vianna Júnior, para a avó era o pinzindim - menino bom -; e por causa da varíola - que lhe marcou o semblante - era o bexiguento; juntando tudo virou Pixinguinha.
Considerado o primeiro modelo de música popular urbana típica do Brasil, por sua forma solta e dançante, o ritmo estará presente na programação do Sesc Bom Retiro, ocupando o palco, a praça e a estação.
No fervor da Estação da Luz, um grupo de jovens chorões trará melancolia e serenidade para quem passar por lá. Samuel Silva (violão 7 cordas), Jorge Silva (cavaquinho), Tiganá Macedo (pandeiro) e Ariel Coelho (percussão geral) formam o Choro das Estações, que levará o ritmo para um espaço democrático e acessível.
A história do choro vem se formando desde o século XX, e para apresentar a cronologia dos acontecimentos e suas curiosidades, uma contação de histórias com música trará para a Praça de Convivência A História do Choro em Três Tempos.
Para você ouvir causos como quando, em uma noite qualquer, Pixinguinha voltava de uma de suas apresentações e foi cercado por três assaltantes. Depois de entregar o dinheiro e explicar que carregava a sua flauta no estojo, foi reconhecido pelos criminosos, que, com um pedido de desculpas, devolveram tudo e o escoltaram para sua casa. Mas eles tropeçaram em uma birosca que abria as portas ainda de madrugada e o inusitado encontro acabou em comemoração, com muito samba e cachaça, por conta – imagina – do cachê que o músico havia recebido.
Depois de contada, a história será cantada no show de João Macacão e Conjunto Paulistano, acompanhados de Danilo Brito, Alessandro Penezzi e Toninho Ferragutti, será uma viagem ao tempo pelas canções mais marcantes do gênero, com músicas desde Chiquinha Gonzaga ‘Só no Choro’ – primeira música com o nome choro – 1889; passando por Pixinguinha com ‘Lamentos’ – 1928, até Paulinho da Viola com ‘Choro Negro’.
Não é a toa que Pixinguinha seja tão homenageado, sempre muito festeiro não deixava de comemorar seus aniversários “todos os anos a festa do meu aniversário dura três dias", disse em entrevista para a Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, em 1997.
O que esperar de um boêmio famoso entre seus amigos, que ofereciam tudo para a festa. Certo ano Almirante [cantor, compositor e radialista brasileiro] contribuiu com a bebemoração "ofereceu 600 litros de chope para alegrar minha festa”, disse completando que a festa não tinha hora para acabar "o pessoal fica comendo e bebendo e festando até o enterro dos ossos, quer dizer, o pessoal é exigente e, no começo, come o que tem de melhor, depois come o resto, rói até os ossos".
Mesmo depois de 41 anos da sua morte Pixinguinha é homenageado, mas toda comemoração ainda é pouco comparada aos festejos que o artista promovia, com tanta comida, bebida e choro. Quem sabe um dia o Brasil tenha também um Carnaval diferente, onde os românticos de plantão se declarem ao som do saudoso "Carinhoso".
"Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim."