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Filho de Ogum Bexigento

No estúdio da Rádio Mayrink Veiga, 1932, Pixinguinha ao lado de amigos.
No estúdio da Rádio Mayrink Veiga, 1932, Pixinguinha ao lado de amigos.

No Dia Nacional do Choro, data que homenageia o nascimento de Pixinguinha, confira apresentações especiais, 23 de abril no Sesc Bom Retiro e Estação da Luz.

“Um negão filho de Ogum, bexigento e fadista de profissão”, assim Mário de Andrade registrou a presença de Pixinguinha, em seu livro “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter”. Comemorado em 23 de abril, o Dia Nacional do Choro foi criado em homenagem a Alfredo da Rocha Vianna Júnior, para a avó era o pinzindim - menino bom -; e por causa da varíola - que lhe marcou o semblante - era o bexiguento; juntando tudo virou Pixinguinha.

Considerado o primeiro modelo de música popular urbana típica do Brasil, por sua forma solta e dançante, o ritmo  estará presente na programação do Sesc Bom Retiro, ocupando o palco, a praça e a estação.

No fervor da Estação da Luz, um grupo de jovens chorões trará melancolia e serenidade para quem passar por lá. Samuel Silva (violão 7 cordas), Jorge Silva (cavaquinho), Tiganá Macedo (pandeiro) e Ariel Coelho (percussão geral) formam o Choro das Estações, que levará o ritmo para um espaço democrático e acessível. 

A história do choro vem se formando desde o século XX, e para apresentar a cronologia dos acontecimentos e suas curiosidades, uma contação de histórias com música trará para a Praça de Convivência A História do Choro em Três Tempos.

Para você ouvir causos como quando, em uma noite qualquer, Pixinguinha voltava de uma de suas apresentações e foi cercado por três assaltantes. Depois de entregar o dinheiro e explicar que carregava a sua flauta no estojo, foi reconhecido pelos criminosos, que, com um pedido de desculpas, devolveram tudo e o escoltaram para sua casa. Mas eles tropeçaram em uma birosca que abria as portas ainda de madrugada e o inusitado encontro acabou em comemoração, com muito samba e cachaça, por conta – imagina – do cachê que o músico havia recebido.

Depois de contada, a história será cantada no show de João Macacão e Conjunto Paulistano, acompanhados de Danilo Brito, Alessandro Penezzi e Toninho Ferragutti, será uma viagem ao tempo pelas canções mais marcantes do gênero, com músicas desde Chiquinha Gonzaga ‘Só no Choro’ – primeira música com o nome choro – 1889; passando por Pixinguinha com ‘Lamentos’ – 1928, até Paulinho da Viola com ‘Choro Negro’.

Não é a toa que Pixinguinha seja tão homenageado, sempre muito festeiro não deixava de comemorar seus aniversários “todos os anos a festa do meu aniversário dura três dias", disse em entrevista para a Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, em 1997.

O que esperar de um boêmio  famoso entre seus amigos, que ofereciam tudo para a festa. Certo ano Almirante [cantor, compositor e radialista brasileiro] contribuiu com a bebemoração "ofereceu 600 litros de chope para alegrar minha festa”, disse completando que a festa não tinha hora para acabar "o pessoal fica comendo e bebendo e festando até o enterro dos ossos, quer dizer, o pessoal é exigente e, no começo, come o que tem de melhor, depois come o resto, rói até os ossos".

Mesmo depois de 41 anos da sua morte Pixinguinha é homenageado, mas toda comemoração ainda é pouco comparada aos festejos que o artista promovia, com tanta comida, bebida e choro. Quem sabe um dia o Brasil tenha também um Carnaval diferente, onde os românticos de plantão se declarem ao som do saudoso "Carinhoso".

"Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim."