Postado em 08/04/2014
Ocupando cerca de 1.400 m2 do Área de Convivência do Sesc Pompeia, Boltanski - 19.924.458 +/-, instalação inédita em grandes dimensões de Christian Boltanski, reafirma a síntese da investigação de todo o trabalho do artista francês: o enigma entre vida e morte depois de visitar a capital paulista no ano passado.
Boltanski - 19.924.458 +/- (número oscilante que corresponde à população de São Paulo) conta com uma densa concentração de 950 torres (arranha-céus) construídas em papelão, revestidas de páginas de listas telefônicas. Além disso, na exposição, um movimento de luzes em períodos de tempo alternados torna-se um indicador de nascimentos e mortes na megalópole paulistana.
Ao percorrer o espaço, ou ter uma visão aérea da cidade a partir de uma plataforma, o visitante vivenciará situações que iluminam a poética do artista, ou seja, a memória, a identidade, a ausência, a perda e a morte. A instalação, que pulsa na frequência do desaparecimento dos indivíduos e no surgimento de outros, potencializa as questões que Boltanski quer provocar.
De acordo com o curador Marcello Dantas, o artista evoca uma memória sem juízo de valor, e por isso mesmo diferentes verdades podem ser encontradas dentro do mesmo invólucro. “Essa capacidade de criar situações em que o espectador passa a depositar sua própria memória no espaço que Boltanski criou é o ato maior de sua arte”, ressalta Dantas.
Ainda segundo Dantas, as instalações do artista francês são terrenos férteis para a interpretação ao remeter a memória das coisas – a memória contida dentro de objetos. “Para ele, os objetos servem de testemunho mudo para o sofrimento e a experiência humana”, completa o curador.
Boltanski costuma se comparar a uma espécie de filósofo que investiga grandes questões da humanidade por meio de imagens e instalações que operam no nível emocional. Ele também se compara a artistas inquietos, como a artista plástica francesa Louise Bourgeois (1911 – 2010), explorando as adversidades e agruras de suas vidas.
Além desta instalação, o artista continua no Sesc Pompeia a pesquisa que vem realizando pelo mundo. A Cabine do Coração é mais um processo do que uma obra, no qual o visitante é convidado a gravar o som das batidas de seu coração. Este conjunto de batimentos cardíacos é mantido por Boltanski em uma crescente coleção.
Trajetória do artista
Os eventos históricos que acompanham a vida de Christian Boltanski, como o fim da grande guerra e a liberação de Paris, marcam todo seu trabalho. Aos 14 anos de idade, dedicou-se à pintura. Aos 27 anos ganhou reconhecimento ao expor na galeria Sonnabend em 1971 e na Documenta de Kassel em 1972, após uma série de exposições nos Estados Unidos que começaram em 1987 e passaram por Nova York, Chicago, Los Angeles, e, depois dos anos 1990, em numerosos museus europeus. O artista passou a trabalhar cada vez mais com a luz e as sombras, criando as séries Monuments, Reserves e Lessons Of Darkness que resumem um título deste período.
No início dos anos 2000, Boltanski se volta para as grandes instalações e participa de espetáculos musicais, em que também, durante este período, começa seu projeto dos Arquivos do Coração (Archives Du Coeur). Suas instalações tornaram-se mais complexas com a utilização do som como movimento. Os trabalhos de Boltanski afirmam a obra de arte total, l`Art Total. Dedicou-se ao ensino em grande parte de sua vida e produziu mais de 100 livros de vários artistas. Christian Boltanski vive e trabalha em Malakoff, nos arredores de Paris, mas passa a maior parte de seu tempo viajando para criar novos projetos pelo mundo.
Além das edições da Documenta V (1972), VI (1977), e VIII (1987) e da 54ª Bienal de Veneza (2011), Boltanski realizou importantes exposições: no Centre Georges Pompidou Paris (1984); no Museum of Contemporary Art, em Chicago e Los Angeles (1988); e na Whitechapel Art Gallery, Londres (1990). No Brasil, participou da Bienal Internacional de Arte de São Paulo (1996) e realizou sua primeira mostra individual no país, na Casa França-Brasil (Rio de Janeiro), em 2012. Recentemente, entre suas aparições individuais, destacam-se as realizadas no Kunstmuseum Wolfsburg na Alemanha (2013); no Park Avenue Armory em Nova York (2010) e na Serpentine Gallery, Londres (2010).