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Para além da atuação
Longe da manter a linearidade, Cia Luna Lunera de teatro opta por uma linguagem própria com identidade única. Modificar o grupo, trocando seus atores, e mergulhar em universos desconhecidos são características marcantes. Nascida em 2001, em Belo Horizonte (MG), a companhia transita entre pesquisas e processos criativos diversos, além de colecionar inúmeras premiações ao longo de sua trajetória. Textos literários de autores brasileiros como Aluísio Azevedo, Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu, foram as bases de pesquisa para a criação de Cortiços, Prazer e Aqueles Dois, espetáculos que compõem a Mostra Luna Lunera, em cartaz entre os dias 6 a 22 de fevereiro no Sesc Santo Amaro.
Traição, sede de poder, sensualidade, triangulação amorosa e ganância, juntamente com um viés imagético e corporal, se revelam nos seis personagens de Cortiço (2008), criado a partir de um recorte extraído do texto clássico de Aluísio Azevedo.
Já o processo criativo de Prazer (2012), montagem mais recente do grupo, foi marcada pela multiplicidade de linguagens. Diferentes artistas como Mario Nascimento, Roberta Carreri e Jô Bilac foram convidados para participar como interferências deste processo de criação, e não com uma função específica como tradicionalmente acontece na criação teatral. O resultado é uma trama muito simples, mas não menos afetiva, que fala de quatro amigos de longa data, que após um tempo distantes, se reencontram em outro país. Nesta situação questões delicadas de suas relações acabam vindo à tona.
Aqueles Dois é inspirado em conto homônimo de Caio Fernando Abreu. No repertório da companhia desde 2007, a peça já foi apresentada mais de 310 vezes, em 22 estados brasileiros. O envolvimento com o espectador parece ser um dos principais fatores de sucesso desse espetáculo intimista.
Um ponto comum entre as peças que compõem a mostra é o jogo cênico forte e o seu trabalho de valorização de autores brasileiros, inovando no exercício teatral.
Workshop Ator Criador
De 4 a 19 de fevereiro, os atores Claudio Dias e Isabela Paes realizam o workshop "Ator Criador”. “Serão trabalhados fundamentos de alguns espetáculos criados por nós, pensando também na direção e na própria gestão artística dentro do processo de criação”, esclarece Marcelo Sousa e Silva, ator e um dos fundadores da Cia, em conversa com a E-Online. “Trabalhamos com a improvisação, que foi um dos pilares de alguns de nossos espetáculos (...), além disso, a gente vai trazer alguns textos literários para criar essa relação entre teatro e literatura”, esclarece.
Desde os primeiros trabalhos da Cia., o processo colaborativo de criação já vinha sendo galgado. Marcelo conta que este processo é uma forma de desierarquização das estâncias de criação, direção, atuação e dramaturgia, colocando todos no mesmo nível, tendo a cena como balizador das questões - “Quase todos os nossos espetáculos vem sendo trabalhado desta forma”. Ainda segundo ele, o grupo estimula o ator a ser um efetivo criador e não simplesmente um executor, mantendo importante papel dentro do processo de criação.