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Filme "Entre os Muros da Escola" propõe um retrato realista da dinâmica dentro da sala de aula
Cinema #EmCasaComSesc homenageia educadores no Dia dos Professores com a exibição do clássico moderno “Entre os Muros da Escola”, de Laurent Cantet
Por Elton Telles*
Quando puxamos pela memória os filmes mais populares que focam na relação alunos x professor, é muito provável lembrarmos daqueles que reproduzem a desgastada fórmula do cinema hollywoodiano da “mensagem motivacional”. Títulos como “Ao Mestre, Com Carinho” (1967) e “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989) são exemplos de histórias emocionantes que, apesar de certa romantização, ao final acabam conseguindo provar ao espectador a experiência mútua do aprendizado, em que tanto os educadores quanto os estudantes, diante de suas diferenças, aprenderam alguma lição.
À contramão dessa ideia vindo dessas produções mais românticas, encontramos o francês “Entre os Muros da Escola” (2008). O filme é ancorado em um retrato vigorosamente realista ao mostrar a dinâmica de uma sala de aula, com seus altos e baixos. A encenação espontânea por parte do elenco e a câmera inquieta que passeia por todo o ambiente, registrando vários flagras, reforçam a dimensão do realismo, contribuindo para a sensação de que o espectador está ali presente naquele espaço. Essa abordagem estética cai como uma luva, porque garante maior proximidade com os personagens em cena.
“Entre os Muros da Escola” faz jus ao título: o longa não tem nenhuma cena externa, passando-se integralmente no interior de uma escola pública de Paris. A história acompanha durante um ano letivo algumas das aulas de francês lecionadas pelo professor François (o estreante François Bégaudeau) a uma turma de 8ª série, com adolescentes entre 13 e 15 anos de idade. No decorrer das aulas, é possível observar diferentes situações e comportamentos, desde a satisfação do professor ao notar os estudantes com interesse no aprendizado até discussões acaloradas, guiadas pela imaturidade ou indisciplina dos mais jovens.
Concentrando-se nos conflitos e partindo da premissa de que uma sala de aula é composta por diferentes personalidades, o filme levanta importantes reflexões de como, por exemplo, seria a forma mais assertiva de driblar a rebeldia juvenil e estimular os alunos a terem curiosidade pelo conteúdo. Outra barreira a ser superada é o aspecto multicultural, uma vez que a 8ª série retratada no longa é também formada por filhos de imigrantes que apresentam dificuldades elementares, como compreender a língua francesa.
Mais a fundo, “Entre os Muros da Escola” questiona se o modelo hierárquico e tradicional como conhecemos é o método pedagógico mais eficiente de ensino. Da maneira que a trama avança até a acachapante cena final, inevitavelmente concluímos que o sistema educacional retratado é falho e seletivo.
O roteiro assinado a seis mãos se revela muito bem resolvido em incitar sutilmente diversas problemáticas, baseando-se apenas na observação do espectador de como é o funcionamento de uma sala de aula. Entre tantas interrogações, ao final da sessão, fica o questionamento: como tornar a escola um espaço democrático de aprendizagem para todos e todas? O diretor Laurent Cantet sabiamente não toma para si a responsabilidade de entregar respostas; em vez disso, levanta indagações relevantes às quais é impossível o público se sentir indiferente.
Entre os prêmios conquistados mundo afora, o filme foi reconhecido com a Palma de Ouro no Festival de Cannes e indicado a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2009. Pela riqueza de seu material e pelas complexas – e necessárias – provocações que suscita, “Entre os Muros da Escola” se estabelece como um clássico moderno indispensável, e disponibilizá-lo para ser conferido na plataforma Sesc Digital é a nossa singela homenagem a todas as professoras e professores pela contribuição de tornar o Brasil um país melhor.
Assista ao filme até dia 13/11/2021 no Cinema #EmCasaComSesc.
* Elton Telles é jornalista, crítico de cinema e escreve para o CineSesc.