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Drama familiar “Segredos e Mentiras”, obra-prima assinada pelo cineasta Mike Leigh, examina o comportamento humano
Filme vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e indicado a 5 Oscars é destaque na plataforma Sesc Digital dentro da série institucional Cinema #EmCasaComSesc
Por Elton Telles*
Em 1990, mesmo ano em que o Reino Unido se despede da conservadora Margaret Thatcher, o cinema britânico começa a florescer e dar os primeiros passos rumo a uma década renovadora para as produções audiovisuais do país, de verve autoral, criativa e politizada. Entre tantos títulos de prestígio, tais como “Traídos pelo Desejo” (1992) e “Trainspotting” (1996), o drama caseiro “Segredos e Mentiras” (1996) representa um dos pontos altos deste período, cravando o seu diretor, Mike Leigh, no panteão dos mais importantes realizadores em atividade.
Leigh se tornou uma referência em narrar histórias contemporâneas e de expressivo cunho sociocultural, protagonizadas por agentes da classe trabalhadora londrina. Outros de seus filmes, como “Grandes Esperanças” (1988) e “A Vida é Doce” (1990), também são centrados em conflitos de pessoas marginalizadas que tentam superar – ou conviver com – as adversidades ocasionadas pela miséria. Neste cenário, o roteiro de “Segredos e Mentiras” se expande ao examinar outras temáticas ligadas à identidade e a barreiras raciais.
A trama se concentra na tentativa de Hortense, uma mulher negra, em localizar a mãe biológica após a morte de seus pais adotivos. Para a sua surpresa, Hortense descobre que a sua mãe de sangue é branca. Munido de afeto e honestidade, Leigh desabrocha a partir daí uma relação de proximidade cativante entre as personagens, que passam a se entender em meio às próprias diferenças, rendendo cenas marcantes e emocionalmente intensas.
Foto: Divulgação
Grande parcela do êxito de “Segredos e Mentiras” recai sobre os desempenhos primorosos das atrizes. Ambas nomeadas ao Oscar, Brenda Blethyn e Marianne Jean-Baptiste exibem uma química impressionante em cena, que se vale muito da espontaneidade e dos improvisos estimulados pelo diretor. Blethyn ganhou o Prêmio de Interpretação Feminina no Festival de Cannes, de onde o filme saiu com a prestigiada Palma de Ouro, honraria máxima do festival. Já no Oscar, além das atrizes, “Segredos e Mentiras” foi indicado a Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original.
Outros personagens povoam a história de “Segredos e Mentiras”, que se estabelece como um retrato familiar incomum e repleto de camadas. Calcado no realismo, é um filme carregado de sentimento que, sobretudo, propõe-se a analisar o comportamento humano. E o faz com maestria.
Assista ao filme até dia 14/10 no Cinema #EmCasaComSesc.
* Elton Telles é jornalista, crítico de cinema e escreve para o CineSesc.