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Flores no concreto
* Por: Nathalia Triveloni
Um amigo, na primeira vez em que saímos, me disse “Se não fosse pela minha Arte e pelo seu trabalho em Educação, nós jamais estaríamos aqui jantando juntos”. Não o corrigi, ele tinha razão. Voltei para casa no exercício de imaginar na minha adolescência e juventude a possibilidade de nosso encontro. Quase nula, eu diria. Não por falta de carinho. Mas porque naqueles tempos eu não sabia que Mauá existia e ele dificilmente frequentaria o mesmo colégio que eu sendo um garoto negro de origem periférica.
Os Racionais Mc´s que traduziam a sua trajetória e resistência chegavam a mim como a “música alternativa do Disk MTV” que contava uma história que eu ouvia falar nos jornais, mas que jamais estive perto. Não por escolha, mas por privilégio social. E então, a partir desta sua fala, algo que a mim se apresentava como uma aproximação natural revelou-se fruto de processos afetivos. Uma educadora é feita de muitos encontros.
A Arte e a Educação têm o poder de atravessar fronteiras, derrubando muros e construindo pontes. E eu posso te dizer isso porque me descobri nesta obra. Iniciei o trajeto como educadora do Sesc atuando na comunidade da Tamarutaca, em Santo André, com aquele olhar missionário que quase todo estudante de Sociologia tem: Eu salvaria aqueles jovens.
Na minha ciência, eu sabia o que era melhor para eles. Levaria minha cultura eurocentrada e toda literatura revolucionária que possuía neste desafio pronto que certos pensamentos engessados nos ensinam sobre quem sabe e quem aprende. Durou pouco. Não a minha jornada, mas este enredo. Porque quando nos permitimos sermos afetados pelo encontro genuíno com o outro, a idealização é substituída pela realidade. E esta se revela como uma história de vitórias, fracassos, experiências e, acima de tudo, feita por pessoas de verdade. Descobri então que ninguém precisava ser salvo ali.
A luta diária pela equidade e respeito jamais deixou de ser um exercício nosso. Contudo, aqueles jovens me ensinaram que a minha narrativa era apenas uma diante das possibilidades de falas e territórios das juventudes e do mundo. A comunidade tem batalhas de sobrevivência, mas também rimas de afeto. Tem vazios de descaso, mas também Completude de Cultura. Tem enfrentamento diário com uma sociedade de estruturas racistas, mas tem resistência de quilombo. Tem uma fala de potência para além de dor. Flores no concreto.
Aprendi com eles que nossos corpos e histórias ocupam lugares diferentes no mundo. Aprendi a partilha e não a troca, pois empatia e presença não significam trocar de lugar com outro, mas se permitir ao exercício de ir até ele respeitando e considerando sua história e sua narrativa. E assim, continuamos com as nossas identidades em construção.
Então, chego à conclusão do movimento que é para mim protagonizar as possibilidades de mundo junto deles. A pipa no céu como metáfora de Amor. Emicida como meditação. Encontros de afetos transgredindo aquilo que nos ensinaram como limites de corpos que não se misturam. Se não fosse por eles, eu entenderia menos de Geografia, de Afeto e de Poesia.
* Nathalia Triveloni é cientista social, escritora e educadora do Programa Juventudes do Sesc Avenida Paulista.
Durante os meses de agosto e setembro, vídeos de artistas e coletivos jovens ocuparão as redes digitais do Sesc São Paulo. E você, jovem, está convidada(o) a publicar suas criações com a hashtag #ArteTerritorio_Sesc, a partir da palavra, do movimento, da imagem, do som ou de tudo isso junto!
Aquilo que você produz é cultura, é arte e diz sobre sua comunidade, suas experiências, sua vida! Compartilhe conosco, assim como fizeram Thata Alves e Bru Bandeira, no segundo episódio da ação #ArteTerritorio_Sesc:
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Esse vídeo é um trabalho de edição e produção feito por jovens. Ficha Técnica:
Edição Geral - Wesley Gabriel
Animação vinheta - Rodrigo Eba
Animação trilha - Paulo Junior
Libras – Danyelli Rasquino Andrade
Fotografia “Thata Alves” – Jéssica Alves
Fotografia “Bru Bandeira” – Arquivo pessoal
Filmagem e edição “Thata Alves” – Noelia Nájera