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“Fique em casa” e consumo responsável: os impactos das ações individuais
Por Ana Paula Dias Rodrigues e Gabriela Graça Ferreira*
Com a campanha “Fique em casa”, medida de contenção do novo coronavírus no mundo, a maioria de nós tem permanecido por mais tempo em nossos lares, seja pelo trabalho na modalidade home office ou pela impossibilidade de sair de casa para o lazer. Desse modo, a geração de resíduos que estaria distribuída nos vários ambientes que frequentamos, como escritórios, restaurantes, bares e cafés, por exemplo, acumulam-se nas residências e tornam-se perceptíveis em sua quantidade diária. Ficar em casa possibilita tornar-nos conscientes de como e quanto estamos consumindo. E você sabe quais são seus impactos para o ambiente?
Os problemas do esgotamento dos aterros sanitários e o descarte inadequado em lixões, por exemplo, deixam cada vez mais claro que o modelo atual de consumo é incompatível com os ciclos da natureza, afetando a sociedade como um todo e deixando ainda mais vulneráveis populações socioeconomicamente marginalizadas.
Problemas como a transferência de resíduos para regiões ou países mais pobres do planeta e o seu manejo inadequado têm contaminado pessoas, o ar, o solo, o mar e atingido a fauna. Assim, além da ameaça do esgotamento dos bens naturais, o consumo descontrolado, o desperdício e a obsolescência programada dos materiais coloca o problema da geração de resíduos crescente como um dos maiores desafios a serem enfrentados pela sociedade, nas esferas individual e coletiva.
Os mais simples e cotidianos atos humanos são passíveis de gerarem mais ou menos impactos: alimentar-se, vestir-se e locomover-se geram resíduos sólidos e/ou gasosos que atingem o ambiente de várias maneiras. No entanto, nem sempre, as escolhas que fazemos sobre qual alimento comer, que roupa adquirir ou que tipo de transporte usar estão orientadas também pelos danos que elas gerarão no ambiente. Se escolhemos viajar de carro, ao invés de pegar um transporte coletivo, essa escolha está geralmente orientada pela velocidade e não pela quantidade de gases que será emitida durante essa viagem. O mesmo pode ocorrer na escolha da alimentação: uma opção que atenda ao paladar e às necessidades nutricionais da pessoa pode não estar alinhada com um cuidado acerca dos bens naturais em suas etapas de produção e pós-consumo.
É nesse contexto que devemos falar sobre quais caminhos possíveis para o consumo responsável que privilegia a aquisição de produtos que causem menos impactos ao ambiente e que não envolvam exploração desumana de pessoas e outros seres vivos. Isso quer dizer que podemos agir para evitar os danos ambientais irreversíveis, por meio da redução, reutilização e reciclagem de materiais usados nos sistemas de produção e consumo e adotar modos de viver que acentuem a qualidade de vida para todos.
O ato de ficar em casa neste período de isolamento social pode possibilitar, por meio da observação e separação dos resíduos em ambiente doméstico, ações comprometidas com o consumo responsável e que podem ter impactos coletivos positivos.
As ações online do Sesc Rio Preto para a área de Educação para a Sustentabilidade propõem, a partir do que pode ser observado em nossas casas, uma reflexão sobre o ciclo dos resíduos e sobre atitudes simples que podem fazer a diferença na geração e na gestão de resíduos domésticos.
O primeiro de uma série de três vídeos sobre Consumo Responsável e Resíduos mostra como podemos, de dentro de nossos lares e com escolhas mais racionais, contribuir para a redução na geração de resíduos. Veja o vídeo da cozinheira Carolina Capelli com dicas para incluir sustentabilidade na sua rotina doméstica:
A redução do consumo e o exercício de escolhas que considerem toda a cadeia produtiva do que se consome é uma das principais maneiras de nos aproximarmos da sustentabilidade. Diminuir o consumo de produtos embalados e dar preferência a utensílios duráveis são atitudes positivas, mas o que fazer quando não é possível evitar as embalagens?
No segundo vídeo da série, a ativista Eliara Magalhães apresenta possibilidades de como destinar os resíduos que temos na nossa casa de forma adequada, podendo assim gerar renda para as cooperativas que atuam com reciclagem. Também ensina um modelo simples de composteira para transformar os resíduos orgânicos em adubo para fertilizar canteiros e vasos.
A importância do trabalho dos catadores e das cooperativas de coleta e triagem de materiais recicláveis fica muito evidente quando nos dispomos a adotar hábitos mais sustentáveis. É preciso entrar em contato com as cooperativas próximas da sua casa para entender que tipo de materiais elas recebem e como o resíduo separado por você pode ser entregue ou coletado em sua residência. Também é importante se informar sobre locais de coleta de resíduos especiais, como remédios, pilhas, baterias, lâmpadas e óleo. Organizar a coleta desses resíduos com cooperativas ou mesmo catadores não associados favorece a destinação ambientalmente e socialmente responsável desses materiais.
Em São José do Rio Preto, os resíduos domiciliares coletados no município são encaminhados à triagem e, segundo os dados da Prefeitura Municipal, aproximadamente apenas 30% é recuperado, o restante é destinado ao Aterro Sanitário. Esse panorama, acentua a necessidade de reduzirmos nosso consumo e fazermos a separação dos recicláveis nos domicílios.
Na cidade, a coleta seletiva é feita por duas entidades de catadores, a ARES - Associação Riopretense de Educação e Saúde e a Cooperlagos - cooperativa de coleta seletiva, beneficiamento e transformação de materiais recicláveis de São José do Rio Preto. A Cooperlagos é parceira do Sesc no programa Lixo: menos é mais, ação educativa que incentiva a adoção de atitudes mais responsáveis em relação ao consumo e destinação dos resíduos.
No terceiro vídeo da série, a Gugu, apelido carinhoso de Beatriz Xavier, vice-presidente da Cooperlagos, conta como a cooperativa se organizou para não interromper a coleta de recicláveis na cidade durante a pandemia de coronavírus e dar continuidade a este serviço essencial para a população.
* Ana Paula Dias Rodrigues é graduada em Letras e doutora em Teoria da Literatura. Atualmente é animadora cultural do Sesc Rio Preto, responsável pela área de programação em Sustentabilidade e meio ambiente da Unidade. Gabriela Graça Ferreira é graduada em Gestão Ambiental e especialista em Educação Ambiental. Atua como Assistente Técnica da área de Educação para Sustentabilidade e Cidadania do Sesc São Paulo.